Você sabia que algumas doenças podem chegar a comprometer até 100% da produtividade das lavouras de milho? Conheça quais são as 7 principais doenças da cultura do milho e as suas formas de controle e manejo!
Quais são as principais doenças da cultura do milho?
As doenças da cultura do milho sempre foram um tópico muito discutido e estudado no Brasil, visto a relevância que essa cultura tem para a geração de empregos e renda no país.
Estimativas realizadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) revelam que somente na safra de 2021/2022, o país deve chegar a quase 90 milhões de toneladas, das quais 25 milhões de toneladas são da primeira safra.
Entretanto, para manter essa produção, os agricultores precisam usar diferentes estratégias de manejo para controlar fatores que podem afetar negativamente a produção do milho, como as doenças. Conheça, a seguir, quais são elas e suas principais formas de controle e manejo:
1. A mancha branca
A mancha branca, também conhecida como mancha de Phaeosphaeria, é uma das principais doenças da cultura do milho que está amplamente distribuída por todo o Brasil.
Ela é causada pela ação da bactéria Pantoea ananafis nos tecidos das plantas, muitas vezes em associação com outras espécies fúngicas, como Phaeosphaeria maydis.
Sintomas da mancha branca do milho (Fonte: Lanza, F. – Embrapa Milho e Sorgo, 2021)
Quando presente na planta, esses agentes causais são responsáveis por gerar uma série de lesões de coloração amarelo-palha nas folhas e na palha externa das espigas de milho.
Essas lesões, por sua vez, podem comprometer severamente o processo fotossintético das plantas e levar a perdas de produção superiores a 60% em alguns casos.
No estudo Manejo da mancha branca na cultura do milho, João Américo Wordell Filho ainda destacou que, dependendo da suscetibilidade do híbrido/variedade e da severidade da doença, a área foliar pode acabar ficando completamente destruída pela coalescência das lesões.
Por isso, é muito importante adotar as medidas de controle adequadas para fazer o manejo correto dessa doença da cultura do milho. Dentre as diferentes práticas de controle que podem diminuir a incidência da mancha branca, estão inclusas:
- A adubação adequada da lavoura;
- A utilização de híbridos resistentes;
- A aplicação de fungicidas;
- O plantio na época correta;
- A rotação de culturas.
2. Cercosporiose
Outra das doenças da cultura do milho que pode apresentar alta severidade em cultivares suscetíveis é a cercosporiose, uma doença causada pelo fungo necrotrófico Cercospora zeae-maydis.
A cercosporiose foi observada pela primeira vez no Brasil nos anos 2000, na região sudoeste do estado de Goiás. Todavia, atualmente ela já se encontra distribuída praticamente em todas as áreas de plantio de milho na região centro sul do país.
Os sintomas da cercosporiose geralmente podem ser observados nas folhas baixeiras durante a fase de floração do milho, que passam a apresentar lesões de coloração verde-oliva de até 6 cm de comprimento paralelas às nervuras das folhas.
Em condições de alta umidade relativa do ar e alta incidência da doença, a coloração dessas lesões pode adquirir uma tonalidade acinzentada e pode atingir outras regiões das plantas, como os colmos e as brácteas da espiga.
Essa mudança de coloração das lesões é resultante da produção de esporos pelo agente causal da cerscosporiose, que podem ser facilmente dispersados através do vento e respingos de chuva.
Entretanto, como o único hospedeiro do C. zeae-maydis é o milho, a prática de rotação com outras culturas é uma importante estratégia para lidar com a presença dessa doença na lavoura.
Adicionalmente, o plantio de cultivares resistentes, a aplicação de fungicidas e a prática de adubação das lavouras, principalmente mantendo a relação nitrogênio/potássio adequada, também são muito importantes para o controle eficiente da cercosporiose.
É importante ressaltar que essas medidas só serão realmente efetivas no longo prazo caso sejam aplicadas regionalmente, para evitar que essa doença da cultura do milho volte a se manifestar a partir de inóculo trazido pelo vento de lavouras vizinhas infectadas.
É o que recomendam Carlos Roberto Casela e outros pesquisadores, no estudo Cultivo do milho: doenças foliares.
3. A helmintosporiose
A helmintosporiose, assim como a cercosporiose, também é outra das doenças da cultura do milho que ocorre inicialmente nas folhas da região baixeira das plantas.
Mas, diferentemente da cercosporiose, a helmintosporiose é uma doença que pode acometer somente as folhas e pode ser facilmente diferenciada das demais doenças foliares do milho observando o tamanho, formato e cor das lesões.
Normalmente, as lesões causadas pelo agente causal da cercosporiose apresentam um padrão elíptico alongado, de coloração marrom-acinzentada e com margens bem delimitadas pelas nervuras das folhas.
Entretanto, é importante destacar que o formato e o tamanho dessas lesões podem apresentar uma certa variação, já que essa doença da cultura do milho pode ser causada tanto pelo fungo Exserohilum turcicum quanto pelo fungo Bipolaris maydis.
Sintomas da helmintosporiose (Exserohilum turcicum) em milho (Fonte: Cota, L. V. – Embrapa Milho e Sorgo, 2021)
De acordo com João Américo Wordell Filho, apesar dos grãos não serem afetados diretamente por esses patógenos, plantas severamente afetadas pela helmintosporiose podem apresentar espigas menores do que as plantas sadias.
É o que ele e outros pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) destacam, no estudo Pragas e doenças do milho Diagnose, danos e estratégias de manejo.
Os pesquisadores ainda recomendam que o controle da helmintosporiose pode ser feito com a integração de diferentes medidas, incluindo:
- A utilização de híbridos resistentes e sementes sadias;
- A semeadura conforme zoneamento agroclimático;
- Quando necessário, a aplicação de fungicidas.
- A adubação equilibrada.
4. A ferrugem polisora
Outra doença foliar do milho que tem provocado um grande impacto negativo na produtividade da cultura é a ferrugem polisora.
Ela está inclusa entre os três principais tipos de ferrugem de maior ocorrência no país, estando mais intensamente presente na região central do Brasil e em áreas de cultivo de milho com altitudes inferiores a 700 m.
De acordo com o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Rodrigo Veras da Costa, a ferrugem polisora já se encontra distribuída por toda a região centro-oeste do país, noroeste de Minas Gerais, São Paulo e parte do Paraná.
Isso acontece porque o agente causal dessa doença do milho, o fungo Puccinia polysora, é facilmente disseminado pela ação do vento, como também por respingos de chuva.
Quando as plantas de milho são infectadas por esse patógeno, elas apresentam a formação de pequenas pústulas alaranjadas em toda a sua parte aérea, inclusive nas bainhas foliares e no pendão no caso dos híbridos suscetíveis.
Conforme as plantas de milho se aproximam do estádio de maturação, essas mesmas pústulas vão adquirindo uma coloração marrom-escura. Contudo, é importante destacar que essa doença pode ocorrer em todos os estádios de desenvolvimento do milho.
Dessa forma, muitas vezes, o monitoramento e controle da ferrugem polisora se estende a todo o ciclo da cultura com a aplicação de fungicidas e, principalmente, através da utilização de híbridos resistentes.
5. Os enfezamentos
Os enfezamentos também estão inclusos entre as doenças da cultura do milho de grande relevância econômica para o Brasil, causando registros de perdas severas em diversas regiões do país.
Essa doença é conhecida por reduzir o tamanho das plantas e levar à proliferação excessiva de pequenas espigas, podendo apresentar duas variações dependendo do seu agente causal.
A primeira delas é o enfezamento vermelho causado pelo molicute fitoplasma e que é caracterizado pelo avermelhamento das bordas das folhas e dos perfilhos da planta.
A outra variação dessa doença é o enfezamento pálido provocado pelo molicute espiroplasma, sendo caracterizado pela presença de estrias esbranquiçadas irregulares na base das folhas que se estendem em direção ao ápice.
Apesar das variações dos sintomas, ambos os enfezamentos podem causar danos severos e irreversíveis às lavouras que podem resultar em perdas de produção de até 100%, caso as condições sejam favoráveis à disseminação dos patógenos e à progressão das doenças nas plantas.
Tanto o fitoplasma e o espiroplasma são transmitidos principalmente pela cigarrinha-do-milho, um inseto conhecido por ser o vetor de patógenos em diversas culturas de grande importância agrícola.
Por isso, a integração das medidas para o monitoramento e controle desse inseto-praga com estratégias de minimização da progressão do complexo de enfezamentos do milho no campo são muito importantes para se alcançar um controle efetivo dessas doenças
A cigarrinha-do-milho é um vetor comum de uma série de enfezamentos do milho associados com quedas de produtividade, mas que pode ser controlada através da nutrição das plantas.
Em sua participação no evento online Encontro com Gigantes, Rodrigo Neves Marques, Doutor em Entomologia Agrícola, destacou algumas medidas de controle por fase da cultura, como:
- Pré-plantio: a criação de um calendário de plantio mais restrito, a eliminação de plantas de milho tiguera/guaxas, o plantio de híbridos com tolerância e o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos;
- Plantio: o monitoramento da praga no início de desenvolvimento do cultivo, a adubação com nutrientes e elementos benéficos e a aplicação de inseticidas e agentes de controle biológico;
- Pós-plantio: a atenção à colheita e ao transporte, o monitoramento e controle das plantas hospedeiras secundárias das cigarrinhas.
6. As podridões do colmo
Assim como o complexo de enfezamento, a podridão do colmo do milho pode ser atribuída a uma grande variedade de agentes causais, dependendo dos sintomas das plantas e das próprias características dos patógenos. Dentre os principais patógenos, podemos destacar:
- Colletotrichum graminicola;
- Fusarium verticillioides;
- Fusarium graminearum;
- Diplodia macrospora;
- Diplodia maydis.
Apesar de cada um desses agentes causais apresentarem suas particularidades, todos eles causam a podridão do colmo como um dos principais sintomas que pode ser observado nas lavouras.
Geralmente, as podridões do colmo se iniciam pelas raízes até atingirem os entrenós superiores da planta, podendo causar a redução da absorção de água e nutrientes e o tombamento e morte prematura das plantas.
Além disso, elas podem ter um efeito negativo sobre o tamanho e o peso dos grãos, caso ocorram antes da fase de enchimento dos grãos do milho. Os impactos negativos podem se apresentar também na colheita, caso ocorram na fase de senescência das lavouras.
Nesse último caso, grande parte das perdas de produção estarão relacionadas ao tombamento das plantas que dificultam a colheita mecânica e expõem as espigas à ação de roedores e ao apodrecimento, pelo contato com o solo.
Dentre as diferentes estratégias que o agricultor pode adotar para controlar essas doenças da cultura do milho, as principais são:
- A rotação e a sucessão de culturas com espécies não hospedeiras do patógeno;
- A semeadura de híbridos ou variedades resistentes;
- O plantio em condições adequadas;
- O tratamento de sementes;
- A adubação equilibrada.
Além disso, é importante destacar que, em lavouras de milho sob sistema de plantio direto, o manejo das podridões do colmo é geralmente mais dificultado. Isso porque grande parte do patógenos são capazes de sobreviver nos restos da cultura e no solo.
7. As podridões da espiga
Por fim, não podemos deixar de destacar outro importante grupo de doenças responsáveis por comprometer severamente a qualidade do milho, como também a produção da cultura: as podridões de espigas.
As podridões de espigas são responsáveis por causar uma característica conhecida como “grão ardido”, que é quando os grãos de milho apresentam um escurecimento e perda parcial de peso.
Comparação de amostras de grãos de milho ardidos (A) e sadios (B) (Fonte: Costa, R. V. – Embrapa Milho e Sorgo, 2021)
Uma das razões disso acontecer é a ação dos fungos causadores das podridões da espiga, que, ao se alimentarem dos grãos, liberam micotoxinas e degradam a qualidade geral dos mesmos.
No Brasil, as principais podridões de espigas de milho são a podridão-branca da espiga, causada pela ação dos fungos Diplodia macrospora e Diplodia maydis e a podridão-rosada da ponta da espiga, causada pela ação do fungo Fusarium graminearum.
Como o próprio nome dessas doenças da cultura do milho sugere, a principal diferença entre elas pode ser observada através da coloração das espigas, como também de outros sintomas específicos de cada uma delas.
No estudo Doenças na Cultura do Milho, Carlos Roberto Casela e outros pesquisadores sugerem que o controle das podridões de espiga do milho pode ser feito evitando a semeadura do milho em locais onde há a presença de restos culturas infetados.
Aqui, é importante usar sementes sadias ou tradadas com fungicidas e escolhendo híbridos com bom empalhamento na ponta da espiga.
Além disso, eles sugerem que o controle adequado da irrigação, associado à adubação equilibrada, também são medidas muito importantes para reduzir a incidência das podridões de espiga nas lavouras.
As principais formas de controle das doenças da cultura do milho integram diferentes estratégias
Em conclusão, podemos perceber que diversas doenças da cultura do milho podem afetar a produtividade e qualidade das lavouras nas suas mais diversas fases de desenvolvimento.
Assim, o agricultor deve estar constantemente realizando o monitoramento delas, a fim de definir qual será o melhor conjunto de estratégias que irá garantir o controle efetivo dos seus agentes causais e vetores no campo.
Também é importante estar sempre atento ao manejo adequado do solo, da irrigação e da adubação das lavouras, para alcançar tanto uma boa resposta do sistema de defesa natural das plantas de milho contra doenças quanto das próprias medidas de controle adotadas!