Como O Potássio Auxilia O Eucalipto Em Condições De Estresse Hídrico?

Como o potássio auxilia o eucalipto em condições de estresse hídrico?

O eucalipto é uma cultura de grande importância para o agronegócio brasileiro. A diversidade de espécies com características favoráveis faz com que seja possível a implantação da cultura por todo o país. Entretanto, o estresse hídrico é um fator que pode causar perdas na produtividade do eucalipto. Nesse sentido, o potássio pode ser uma ferramenta para auxiliar o agricultor a lidar com isso. Mas, como isso acontece e como fazer uma boa adubação potássica e reduzir os danos causados pelas condições de estresse hídrico?

Quais são as consequências do estresse hídrico no eucalipto?

De acordo com a Indústria Brasileira de Árvores, no Brasil são 5,5 milhões de hectares plantados com eucalipto, com uma produtividade média de 39 m³/ha/ano. Todavia, o estresse hídrico pode ser uma ameaça ao sucesso dessa cultura.

Na revisão bibliográfica do artigo Efeito do déficit hídrico sobre o crescimento de eucalipto em diferentes condições microclimáticas, Yan Serafim Schwider destacam estudos que mostram que, de fato, o estresse hídrico é a principal causa de perdas na produtividade florestal.

Os pesquisadores explicam que a água tem um papel fundamental na fotossíntese e, quando ela não é suficiente para as plantas, ocorrem alterações em processos como a evapotranspiração que levam a prejuízos no metabolismo vegetal. Isso, por usa vez, aumenta a perda de produtividade do eucalipto.

Com relação aos sintomas visuais, a pesquisadora Jane Luísa Wada Lopes, juntamente com outros colegas, realizou um experimento que avaliou os efeitos do estresse hídrico em mudas de eucalipto desde a fase de rustificação até um mês após o plantio.

Jane Luísa e seus colegas verificaram que condições hídricas deficientes em diferentes níveis provocaram o surgimento de sintomas diferentes:

  • Déficit brando: gemas apicais da planta com leve murchamento;
  • Défict moderado: planta em ponto de murcha;
  • Déficit severo: planta com pelo menos uma folha seca ou com sinal de “V invertido”.

Esses sintomas estão descritos no artigo Estresse hídrico em plantio de Eucalyptus grandis VS. Eucalyptus urophylla, em função do solo, substrato e manjo hídrico de viveiro

Como os sintomas visuais geralmente indicam que o processo de estresse já começou a afetar a planta e, por consequência, pode ter um impacto na produtividade e na qualidade da cultura do eucalipto, o ideal é que se tomem medidas preventivas contra os danos do estresse hídrico.

Além de atenção a fatores como a época de plantio, observando o clima, por exemplo, a boa adubação potássica pode ser uma ferramenta muito importante para evitar que condições de estresse hídrico tenham impacto no eucalipto.

Mas, como isso acontece?

Como o potássio ajuda a amenizar os danos do estresse hídrico no eucalipto?

O potássio pertence ao grupo dos macronutrientes primários. Isso significa que, além de ser essencial para as plantas, ele é requerido em grandes quantidades. Essa exigência se dá por causa das diversas funções que ele exerce no metabolismo e fisiologia vegetais, tais como:

O potássio tem diversas funções nas plantas, incluindo na cultura do eucalipto

A última função diz respeito justamente aos estresses abióticos, que são aqueles que não são ligados a fatores biológicos. É o caso do estresse hídrico. Essa amenização do estresse hídrico proporcionada pelo potássio está ligada a outras funções desse nutriente nas plantas.

A principal delas é a regulação do potencial hídrico das células. É através dela que as plantas, incluindo o eucalipto, conseguem regular a quantidade de água nos tecidos vegetais, o que permite que elas consigam lidar com condições de estresses hídricos.

O mecanismo para isso é através do controle osmótico das células, que influencia a abertura e o fechamento dos estômatos.

Essas estruturas são constituídas por um conjunto de células que se localizam na epiderme inferior das folhas. Os estômatos são responsáveis principalmente pela respiração celular, regulando a passagem de gás carbônico (CO2) e a transpiração celular.

Quando ocorrem situações de estresse hídrico, por exemplo, o controle da transpiração celular é um processo que as plantas utilizam para reter de água dentro dos tecidos vegetais e, assim, lidar de maneira mais adequada com isso.

A ativação enzimática proporcionada pelo potássio também tem um papel fundamental no controle osmótico e na abertura e fechamento dos estômatos.

De acordo com Valdemar Faquin, no trabalho Nutrição mineral de plantas, para que os estômatos se abram e se fechem adequadamente, as plantas utilizam o ácido indol acético (AIA).

Além disso, o funcionamento desse processo depende do acúmulo de um soluto composto de potássio e açúcares redutores no vacúolo celular.  Isso, por sua vez cria um potencial osmótico celular interno na célula.

Faquin explica ainda que a enzima ATPase, que fica localizada na membrana plasmática e é ativada pelo potássio, é a substância catalisadora desse processo.

A ATPase bombeia o hidrogênio (H+) do citoplasma (ambiente interno das células) para o apoplasto (ambiente externo das células). Isso resulta na ativação de enzimas hidrolisantes e no afrouxamento da parede celular.

Papel Do Potássio, Representado Pelos Pontos Vermelhos, No Controle Osmótico Que Propicia A Abertura E O Fechamento Dos Estômatos (Fonte: Benjamin Cummings)

Papel do potássio, representado pelos pontos vermelhos, no controle osmótico que propicia a abertura e o fechamento dos estômatos (Fonte: Benjamin Cummings)

Tendo isso em mente, realizar o bom manejo do potássio no eucalipto é algo altamente relevante para que as plantas tenham mais capacidade de lidar com o estresse hídrico. E como o agricultor pode fazer isso?

Como realizar o bom manejo do potássio no eucalipto

A boa adubação potássica no eucalipto exige alguns cuidados do agricultor. O primeiro deles é a avaliação aprofundada e ampla das condições de fertilidade do solo.

Para isso, o uso de algumas ferramentas é essencial, como é o caso da análise do solo. Através dela o agricultor pode ter um panorama do estado nutricional do solo, além outras informações importantes, como as suas características, níveis de acidez, entre outras.

No entanto, a eficiência da análise do solo depende da utilização de métodos adequados, especialmente quando se fala do potássio.

Quando se trata desse nutriente, geralmente os métodos de calibração mais nos laboratórios medem apenas a quantidade do nutriente que está nas frações mais prontamente disponíveis do solo.

Entretanto, o avanço das pesquisas na área vem apontando que outras frações de potássio do solo, como a não-trocável, também pode ser utilizada pelas plantas durante o seu ciclo de vida.

É o que escrevem Michael J. Bell e outros pesquisadores no capítulo Using Soil Tests to Evaluate Plant Availability of Potassium in Soils, do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops.

Com base nisso, Bell e seus colegas sugerem que a visão do ciclo do potássio no solo seja ampliada.

Como uma comparação, é como se cada reservatório fosse uma caixinha que vai reabastecendo as outras. As plantas utilizam o nutriente daquelas mais prontamente disponíveis e, a partir disso, uma série de mecanismos faz com que as outras caixas reponham o que foi utilizado.

Uma Visão Ampliada Do Ciclo Do Potássio

Uma visão mais ampliada do ciclo do potássio no solo. (Fonte: Bell et al., 2021)

Isso abre espaço para a melhor compreensão e uso das fontes de potássio de liberação gradual, que disponibilizam o nutriente por períodos de tempo mais longos.

Tais fontes são menos suscetíveis à lixiviação, além de terem um efeito residual duradouro que mantém os níveis de potássio no solo. Isso ajuda a construir e manter a fertilidade do solo.

Em culturas de ciclo mais longo, como é o caso do eucalipto, isso é vantajoso, já que as plantas permanecem no solo ao longo de grandes períodos de tempo.

Outro ponto que requer a atenção do agricultor durante o manejo do eucalipto são os momentos de adubação e a dose ideal a ser aplicada na cultura.

No artigo Seja o doutor do seu eucalipto, Ronaldo L. V. de Arruda Silveira, juntamente com outros pesquisadores, explica que os momentos da adubação com potássio no eucalipto podem ser divididos em:

  • Adubação de plantio;
  • 1ª adubação de cobertura, realizada entre 30 e 60 dias após o plantio;
  • 2ª adubação de cobertura, realizada entre 6 e 9 meses após o plantio;
  • Adubações de manutenção, realizada entre 18 e 24 meses após o plantio.

Já quando se fala das doses de potássio a serem aplicadas no eucalipto, Ronaldo L.V. de Arruda Silveira e o renomado engenheiro agrônomo Eurípedes Malavolta, no artigo Nutrição e adubação potássica em eucalyptus, recomendam que:

  • No plantio, sejam aplicadas 20kg de K2ha-1, em sulco ou em cova de plantio nas regiões mais acidentadas.
  • Nas adubações de cobertura, a dose varia conforme os teores de potássio no solo, podendo ir de 20kg de K2ha-1 a até 45kg de K2O.ha-1.
  • Nas adubações de manutenção, a dose recomendada é entre 60kg de K2ha-1 e 75kg de K2O.ha-1, caso os níveis de potássio no solo estejam baixos.

Recomendações De Quanto Aplicar De Potássio No Eucalipto. (Fonte: Silveira &Amp; Malavolta, 2020)

Recomendações de quanto aplicar de potássio no eucalipto. (Fonte: SILVEIRA & MALAVOLTA, 2020)

Silveira e Malavolta ainda destacam a importância de outras práticas que auxiliam na manutenção dos níveis de potássio no solo.  É o caso da manutenção dos restos culturais da lavoura.

Segundo os pesquisadores, mais de 50% do potássio acumulado pelo eucalipto está distribuído entre folhas, ramos e casca. Dessa maneira, manter esses restos culturais no solo devolve o potássio que foi extraído pelas árvores.

Somente o descascamento no campo, apontam os autores, tem a capacidade de promover a redução da quantidade de potássio aplicada na próxima rotação em 40 a 80 kg de potássio (em K2O.ha-1), isso dependendo da produtividade desejada.

Com esses cuidados e o acompanhamento do manejo, com o auxílio de um agrônomo e de outras técnicas como a análise foliar, o agricultor consegue otimizar a adubação potássica e ter o benefício da amenização do estresse hídrico no eucalipto!

O bom manejo do potássio ajuda a amenizar os danos do estresse hídrico no eucalipto

Embora o clima não seja algo que seja possível de controlar, principalmente diante das instabilidades climáticas atuais, o agricultor pode utilizar técnicas e ferramentas pra se prevenir de danos que são decorrentes de fatores ligados a ele, como o estresse hídrico.

Isso é muito importante para a cultura do eucalipto, uma vez que o estresse hídrico pode prejudicar a produtividade da plantação.

Nesse sentido, a boa adubação potássica é muito relevante, já que esse nutriente tem funções que amenizam os efeitos do estresse hídrico nas plantas.

Para fazer um bom manejo do potássio no eucalipto, o uso correto da análise do solo, de fertilizantes eficientes, como o BAKS® e o K Forte®, e a atenção a fatores como a época e a dose aplicada otimizam a adubação!

Compartilhe esta publicação