O algodão é considerado uma cultura altamente exigente em fertilidade do solo e, por isso, a falta de teores adequados de nutrientes no solo pode facilmente comprometer a produção e qualidade da lavoura. Entenda qual a influência da fertilidade do solo na produtividade do algodão e como garantir um fornecimento adequado de nutrientes para as lavouras algodoeiras!
Como aumentar a produtividade do algodão através da adubação?
Aumentar a produtividade do algodão mantendo a qualidade das fibras é um objetivo de muitos cotonicultores.
Para isso, eles vêm cada vez mais intensificando seus sistemas de produção e avançando para novas áreas de cultivo do país com o avanço tecnológico do setor.
No estudo Colheita de algodão, Leandro Maria Gimenez aponta que a mecanização agrícola foi essencial para permitir o cultivo economicamente viável do algodão na região central do Brasil, enquanto o cultivo do algodão herbáceo em condições de sequeiro permitiu o avanço das lavouras para as regiões semiáridas do país.
Entretanto, essa intensificação da cadeia produtiva do algodão associada à exploração de novas potenciais regiões agrícolas veio acompanhada de diversos desafios, incluindo a correção e a adubação do solo para atender as exigências da cultura.
Esse é o caso do Cerrado, que, apesar de reunir diversas características climáticas favoráveis ao cultivo do algodão, ainda exige uma série de práticas de correção e adubação do solo para tornar o seu cultivo viável.
Segundo dados da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) os fertilizantes chegaram a representar mais de 10% dos custos de produção do algodão em 2021.Vale notar que esse valor pode ser ainda maior, caso tenha sido feito um uso excessivo desses insumos no campo, sem seguir as devidas recomendações técnicas.
Mas, por que ainda existe o problema da aplicação excessiva de fertilizantes se essa prática acaba agregando mais custos ao agricultor e ainda pode gerar consequências negativas ao meio ambiente?
A origem desse problema deriva da própria exigência nutricional do algodão, que desenvolve seu máximo potencial produtivo em solos férteis, ricos em matéria orgânica, profundos, bem estruturados, permeáveis e bem drenados.
Tanto os macronutrientes quanto os micronutrientes estão envolvidos com diversas funções diretamente ligadas à produtividade do algodão e podem promover ganhos significativos quando aplicados em doses adequadas.
No estudo Efeitos do Fósforo e Potássio no rendimento e em características agronômicas do algodoeiro herbáceo, Luiz Alberto Staut e Manoel Luiz Ferreira Athayde relatam que o potássio, por exemplo, pode influenciar significativamente no rendimento do algodão em caroço, assim como no diâmetro médio e no peso dos capulhos.
Além disso, como o potássio ajuda a melhorar a deposição de celulose nas paredes internas das fibras, ele pode ajudar a aumentar o chamado índice micronaire (MIC), que indica o tamanho, a resistência e a qualidade das fibras do algodão.
O potássio é o segundo nutriente mais extraído na cultura do algodão, sendo considerado fundamental para a produtividade do algodoeiro e para a qualidade do produto final, especialmente se tratando da fibra.
Outros dois macronutrientes também capazes de favorecer a produtividade do algodão e a qualidade das fibras são o magnésio e o enxofre.
Estudos indicam que o enxofre, assim como o potássio, pode favorecer uma maior uniformidade e um maior índice micronaire do algodão.
É o que o observou Görmüş Özgül, no artigo Cotton Yield Response to Sulfur as Influenced by Source and Rate in the Çukurova Region.
Já no caso do magnésio, por ele estar envolvido com a incorporação de carbono nos tecidos vegetais e no transporte de sacarose dos tecidos fotossinteticamente ativos, a sua presença em teores adequados pode favorecer o crescimento e o desenvolvimento do algodão.
E como ele também é o átomo central da molécula de clorofila e ativa enzimas ligadas à assimilação de nitrogênio e à absorção de fósforo pelas plantas, o magnésio é capaz de melhorar o desempenho fotossintético e a nutrição geral das plantas.
Entretanto, os resultados positivos para a qualidade e a produtividade do algodão não se limitam a adubação da cultura com macronutrientes.
Diversas pesquisas relatam que os micronutrientes, como o manganês e o boro, são capazes de trazer diversos benefícios para o algodoeiro.
No artigo Efeito de doses de boro aplicadas no sulco de plantio do algodoeiro, em solo deficiente, Nelson Machado da Silva e outros pesquisadores observaram incrementos de produtividade da ordem de 670 kg/ha, quando o boro foi aplicado em solos deficientes nesse micronutriente.
Um dos fatores que explicam esse resultado são as funções que o boro desempenha na fase reprodutiva das plantas, auxiliando na germinação do grão de pólen e no crescimento do tubo polínico. Essas duas funções têm influência direta sobre o pegamento das flores e a granação das sementes do algodão.
Além disso, o boro também está envolvido com o metabolismo e transporte de carboidratos através das membranas celulares até órgãos drenos das plantas, como as flores e os frutos. Funções essas que favorecem ainda mais os parâmetros de produtividade do algodão.
Já a contribuição do manganês para a produtividade do algodão está mais relacionada a função que esse micronutriente desempenha no processo de fixação de carbono e fotossíntese das plantas, além de ser um ativador das enzimas de crescimento.
Uma dessas enzimas é a ATPase, que catalisa a principal molécula transportadora de energia dos seres vivos: a adenosina trifosfato (ATP).
Por isso, algodoeiros deficientes em manganês comumente apresentam a redução na altura das plantas e o encurtamento dos entrenós, associado ao amarelecimento das bordas e da região entre as nervuras das folhas mais novas.
É o que destacam os pesquisadores Ciro Antônio Rosolem e Gustavo Bernardes Bastos, no artigo Deficiências minerais no cultivar de algodão IAC-22.
Como, então, garantir um suprimento adequado de macronutrientes e micronutrientes de forma a favorecer a qualidade e produtividade do algodão?
Como melhorar a fertilidade do solo nos cultivos de algodão
Para manter a produtividade do algodão em níveis economicamente competitivos, assegurando também a boa qualidade do produto, é imprescindível realizar a correção e adubação do solo de forma adequada.
É o que afirma o pesquisador Julio Cesar Bogian, em seu estudo Absorção e mobilidade do boro em cultivares de algodão.
Dessa forma, para realizar o manejo correto da fertilidade do solo para a cultura do algodão é preciso começar com a análise adequada do solo, para que as recomendações das doses de corretivos e fertilizantes sejam o mais próximas possíveis da realidade encontrada no campo.
Nessa etapa, um dos principais pontos que o agricultor deve observar é a escolha do método de análise de nutrientes mais adequado, considerando as particularidades da sua lavoura e da própria dinâmica dos nutrientes no solo.
Dependendo do extrator químico utilizado nas análises de solo, podem existir diferenças significativas nos resultados dependendo do extrator químico utilizado nas análises.
Essa situação decorre do fato de que muitos nutrientes apresentam diferentes sensibilidades aos extratores utilizados. Vale notar que esses mesmos extratores muitas vezes avaliam apenas algumas frações específicas de nutrientes no solo.
Ao fazer uma análise adequada dos teores de nutrientes no solo, o agricultor também garante que a tomada de decisão quanto a adubação ou não dos seus talhões seja feita de forma mais assertiva e assegure uma melhor produtividade do algodão.
Isso porque os sintomas visuais de deficiência de alguns nutrientes se assemelham a outros problemas da lavoura, como ataque de pragas e doenças, por exemplo.
É o que acontece no caso da deficiência de magnésio no algodão, no qual os seus sintomas visuais de deficiência se assemelham aos sintomas provocados pela virose conhecida como “vermelhão”, ou pelo ataque do ácaro rajado ou da broca-da-raiz.
Por fim, na hora de fazer a adubação do algodão, os maiores cuidados que o agricultor deve tomar estão relacionados a escolha de fertilizantes e a sua distribuição uniforme nos talhões.
Apesar de muitos nutrientes apresentarem um maior requerimento durante alguma estádio específico de desenvolvimento do algodão, grande parte deles são absorvidos praticamente durante todo o ciclo da cultura.
Assim, para evitar que existam grandes flutuações na disponibilidade de nutrientes no solo que possam afetar a qualidade e produtividade do algodão, é importante que o agricultor busque por fontes de nutrientes capazes de melhorar a fertilidade do solo não só a curto prazo, mas também a longo prazo.
Uma das formas de alcançar isso é através da aplicação de fertilizantes de liberação progressiva de nutrientes e com longo efeito residual.
Fertilizantes com essas características permitem uma maior estabilidade e disponibilidade dos nutrientes no solo ao longo do ciclo das culturas.
Isso acontece porque eles são capazes de mitigar grande parte das perdas dos nutrientes por lixiviação e garantem uma melhor sincronia entre a sua liberação e a taxa de absorção de nutrientes para as plantas.
Dessa forma, eles se tornam importantes aliados dos agricultores que buscam aumentar a qualidade e a produtividade do algodão através da adubação.
A produtividade do algodão depende do bom manejo da fertilidade do solo
Portanto, podemos perceber que diversos macronutrientes e micronutrientes estão diretamente ligados à qualidade e à produtividade do algodão.
Assim, é preciso garantir uma boa disponibilidade deles ao longo do ciclo da cultura para melhorar a fertilidade do solo e melhorar os parâmetros produtivos e de qualidade dos cultivos de algodão.
Para isso, recomenda-se que o agricultor faça sempre a análise dos teores de nutrientes no solo com os métodos mais adequados e aplique fertilizantes que favoreçam uma maior disponibilidade de nutrientes no solo para o algodão!