Conheça quais são as principais pragas do algodão

Conheça quais são as principais pragas do algodão

Você sabia que muitas pragas do algodão, além de prejudicarem a produtividade e a qualidade da cultura, são consideradas vetores de várias doenças de grande importância econômica para essa cultura? Conheça quais são as principais pragas do algodão e como manejá-las no campo!

Como identificar e manejar as pragas do algodão

O Brasil está entre os maiores produtores de algodão do mundo: o país ocupa a 4ª posição no ranking mundial, estando atrás da China, Índia e Estados Unidos.

Por outro lado, os cotonicultores estão constantemente lidando com o ataque de diversas pragas do algodão ao longo do ciclo da cultura, que podem vir a comprometer severamente a produtividade e qualidade da cultura.

Por isso, o correto reconhecimento e monitoramento das pragas do algodão são muito importantes para que o agricultor faça o direcionamento correto das melhores práticas de controle.

Dentre as diferentes pragas do algodão que o agricultor pode encontrar em sua lavoura, as mais comuns e recorrentes são:

1. O bicudo do algodoeiro

O bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis) é considerado a principal praga da cultura do algodão, uma vez que os danos causados por esse inseto-praga são direcionados principalmente para as estruturas reprodutivas do algodão.

Normalmente, as larvas e os adultos do bicudo se alimentam dos botões florais e maçãs pequenas do algodão, causando:

  • A abertura anormal e perfuração das pétalas, fazendo com que as flores fiquem com um aspecto de balão conhecido como “flor em balão”;
  • A destruição das fibras e sementes no interior dos capulhos;
  • O amarelecimento e queda dos botões florais;
  • O crescimento excessivo das plantas.

Além desses sintomas, nas plantas atacadas também pode ser observada a presença de perfurações e orifícios escuros nos botões com a presença de uma substância gelatinosa, que é excretada pela fêmea durante o processo de oviposição.

Como o principal alvo do bicudo do algodoeiro são as partes reprodutivas das plantas, o período mais crítico do ataque dessa praga do algodão abrange desde o início da emissão de botões florais (F1) até a abertura dos primeiros capulhos (C1).

Por isso, é muito importante que o agricultor faça o monitoramento dessa praga nos períodos que antecedem a fase de produção de botões florais, como também na entressafra, para identificar o momento de iniciar grande parte das medidas de controle.

O bicudo (Anthonomus grandis) é a principal praga do algodão

O bicudo (Anthonomus grandis) é a principal praga do algodão (Fonte: Araujo, S. J – Embrapa Algodão, 2017)

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), é adotado o nível de controle como sendo 5% de plantas com botões florais com a presença de orifícios de alimentação ou oviposição  na fase de florescimento do algodão, após a emissão de botões florais.

De forma geral, grande parte das práticas para o controle do bicudo do algodoeiro se concentram em estratégias nas fases de pré-plantio, fazendo o plantio na época correta e o controle comportamental do bicudo através de armadilhas “Atrai e Mata”.

Além disso, existem importantes estratégias de manejo pós-plantio, como o uso de inseticidas na fase de dessecação e destruição dos restos culturais e a eliminação de plantas tigueras.

Isso acontece porque, uma vez que o bicudo do algodão se instala dentro dos botões e maçãs do algodão, dificilmente as estratégias de controle terão acesso a praga no interior das plantas.

Entretanto, estudos recentes revelam que a inoculação do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana  já pode ser considerado uma eficiente estratégia de controle biológico do bicudo do algodoeiro.

2. Os percevejos

Os percevejos são outra das pragas do algodão que podem causar danos significativos nas estruturas reprodutivas das plantas, provocando:

  • Deformações das maçãs, que adquirem formato característico denominado “maçãs bico-de-papagaio”;
  • Manchas nas fibras causadas pelas dejeções e podridões do capulho;
  • Deformações, atrofiamento e abscisão dos botões florais;
  • Crescimento exagerado de ramos.

A incidência dessas pragas geralmente está associada a presença de cultivos de soja nas proximidades da lavoura do algodão, uma vez que, após a colheita da soja, os percevejos tendem a migrar para áreas com algodão.

Além disso, períodos chuvosos e com temperaturas elevadas a partir do florescimento do algodão também tendem a aumentar o surto das principais espécies que acometem essa cultura. São elas:

  • O percevejo rajado (Horcias nobilellus);
  • O percevejo manchador (Dysercus spp.);
  • Os percevejos-da-soja (Edessa meditabunda, Nezara viridula, Euschistus heros).

No início do ataque, a associação do controle químico nas bordaduras dos talhões associado ao uso e preservação dos inimigos naturais, como percevejos predadores e parasitoides de ovos têm se mostrado bem efetivos para o controle dessa praga do algodão.

Em casos em que as populações desses percevejos ultrapassem o nível de controle, a aplicação de inseticidas fosforados na metade da dose usual em mistura com cloreto de sódio (sal de cozinha) a 0,5% da calda é recomendada.

Especialistas explicam que a presença do sal aumenta o tempo de permanência do inseto sobre o alimento e, consequentemente, a sua exposição aos inseticidas, o que favorece a eficiência e a seletividade desses insumos.

Além disso, é importante destacar que no caso do percevejo castanho (Scaptocoris castanea e Atarsocoris brachiariae), é importante que as medidas de controle consigam acessar esse inseto-praga no solo.

Para isso, o uso do preparo adequado do solo, associado a inoculação de nematoides entomopatogênicos dos gêneros Steinernema e Heterorhabidits pode ser uma alternativa que garante um controle mais eficaz e duradouro dessa praga do algodão.

3. A broca da raiz do algodão

Outra das pragas do algodão que pode comprometer severamente a produtividade da cultura é a broca da raiz (Eutinobothrus brasiliensis).

A broca da raiz do algodão, como o próprio nome sugere, ataca as raízes da região intermediária próximo ao caule da planta.

Nesse local, as larvas dessa praga começam a abrir galerias que acabam comprometendo o fluxo de seiva interno das plantas e gera sintomas como:

  • O engrossamento do colo da planta;
  • O avermelhamento do limbo foliar;
  • A murcha, seca e queda das folhas.

Inicialmente, esses sintomas acabam comprometendo a produção do algodão, já que a água e nutrientes necessários para o crescimento das plantas não consegue mais chegar às regiões de crescimento da cultura.

Contudo, se o ataque for intenso, as plantas acabam morrendo em virtude da interrupção no fluxo de seiva.

Por ser uma praga do algodão que passa a maior parte do seu ciclo de vida no solo, as lavouras mais afetadas pela broca da raiz acabam sendo aquelas sob sistema de plantio direto. Isso porque a palhada acaba protegendo-a contra os efeitos da radiação solar e dos inimigos naturais.

Por isso, é muito importante fazer a amostragem das áreas com abertura de trincheiras e observação de plantas hospedeiras antes da semeadura da lavoura, para verificar se existe a incidência dessa praga do algodão.

Além disso, medidas de controle preventivo, como o preparo correto do solo, a semeadura nas épocas recomendadas, o tratamento de sementes e a eliminação de plantas hospedeiras, também são recomendas para evitar a presença da broca da raiz do algodão nos talhões.

Caso a área cultivada já apresente histórico da ocorrência dessa praga, o agricultor pode recorrer a aplicação de inseticidas no sulco de plantio, a rotação de culturas e a inoculação de fungos entomopatogênicos.

O uso de fungos entomopatogênicos para o controle biológico de pragas têm despontado como uma importante solução para diversas culturas agrícolas, incluindo o algodão.

Complementarmente, na época de entressafra, também podem ser criadas faixas de plantio-isca para atrair indivíduos sobreviventes.

4. A mosca branca

Já na parte aérea das plantas, uma das pragas do algodão muito comum e que apresenta uma grande incidência nas lavouras algodoeiras do Brasil é a mosca branca.

Essa praga do algodão, representada principalmente pelas espécies Bemisia tabaci e B. argentifolli, se alimenta das folhas do algodão e é capaz de provocar diferentes alterações na planta, como:

  • O sintoma de “mela”, que reduz a qualidade da fibra do algodão quando acontece no período de abertura dos capulhos;
  • O aparecimento de manchas cloróticas com aspecto brilhante na face superior das folhas;
  • O debilitamento e paralisação do crescimento das plantas;
  • A diminuição da capacidade de produção do algodão.

Além disso, é importante destacar que a mosca branca é um vetor de várias doenças do algodão, incluindo o vírus do mosaico comum, que também pode comprometer a produtividade e qualidade das lavouras.

Normalmente, o processo de amostragem da mosca branca no campo é bem difícil, já os adultos podem ser facilmente afugentados durante a manipulação das folhas.

Por isso, é recomendado que esse processo de amostragem seja sempre feito de forma bem cuidadosa, virando a folha lentamente em direção oposta ao sol para observar a presença das ninfas e adultos.

De acordo com a Embrapa, o nível de controle estabelecido para a mosca branca é de três ou mais adultos por folha atacada ou uma ou mais ninfas em uma área de 4 cm2 da folha, analisando sempre a folha que sai do quinto nó a partir do ápice da planta.

O controle dessa praga do algodão geralmente é realizado com o uso de inseticidas reguladores de crescimento ou do grupo dos neonicotinóides, associado ao uso de medidas de controle químico e mecânico de plantas hospedeiras da mosca branca, como as plantas daninhas.

Alguns especialistas também recomendam o uso de desfolhantes após abertura dos capulhos para supressão das populações da mosca branca, já que essa prática elimina o alimento da praga ao mesmo tempo em que preserva a qualidade da fibra.

5. Os pulgões e ácaros

Os pulgões e os ácaros são outras pragas do algodão que atacam a parte aérea das plantas, principalmente as brotações e folhas novas do ponteiro das plantas.

O ataque dessas pragas é capaz de provocar o enrugamento, encarquilhamento e deformação dos brotos e folhas mais novas do algodão e a alteração da coloração das folhas, que podem cair precocemente dependendo da intensidade do ataque das pragas.

Quando o ataque delas ocorre mais ao final do ciclo da cultura, o material adocicado excretado pelos pulgões, conhecido como honeydew, pode manchar e reduzir a qualidade da pluma do algodão e ainda atrair os fungos causadores da fumagina, que prejudicam a fotossíntese das plantas.

Dentre as diferentes espécies de pulgões e ácaros que podem atacar o algodão, o pulgão do algodoeiro (Aphis gossypii), o pulgão verde (Myzus persicae), o ácaro rajado (Tetranychus urticae) e o ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus) são as espécies de maior incidência no Brasil.

Além disso, é importante destacar que muitas dessas espécies são vetores de doenças de grande importância econômica para o algodão, como o mosaico das nervuras que é transmitido principalmente pelo pulgão do algodoeiro.

Sintomas de mosaico das nervuras “atipico”, uma doença do algodão que tem como o seu vetor o pulgão do algodoeiro (Aphis gossypii)

Sintomas de mosaico das nervuras “atipico” , uma doença do algodão que tem como o seu vetor o pulgão do algodoeiro (Aphis gossypii) (Fonte: Galbieri et al., 2010)

Para o controle dessas pragas do algodão, geralmente se adotam práticas preventivas associadas a práticas de controle, quando a população dessas pragas atinge o nível de controle preconizado para cada uma delas.

O plantio de cultivares de algodão que permitam uma maior ventilação da lavoura associado à adubação equilibrada estão entre as práticas preventivas para evitar surtos populacionais dessas pragas ao longo do ciclo da cultura.

Já o uso de inseticidas associado a eliminação de plantas hospedeiras ou voluntárias estão entre as estratégias que podem ajudar a reduzir e controlar focos de ataque desses pulgões e ácaros.

Entretanto, é importante destacar que o uso do controle químico com produtos de amplo espectro não é recomendado, já que eles podem debilitar e suprimir populações de inimigos naturais e aumentar a probabilidade de surtos populacionais.

O controle das pragas do algodão deve integrar diferentes práticas preconizadas pelo manejo integrado de pragas (MIP)

Em conclusão, podemos perceber que o controle das pragas do algodão é essencial para assegurar a produtividade da cultura e a qualidade das fibras, ao mesmo tempo em que também é considerado uma importante estratégia para controlar diversas doenças do algodão.

Portanto, o agricultor deve sempre estar fazendo o monitoramento constante da sua lavoura para definir o melhor momento para iniciar as diferentes práticas de controle recomendadas pelo manejo integrado de pragas (MIP).

Além disso, são igualmente importantes para o controle das pragas do algodão a escolha de práticas de manejo que favoreçam a preservação dos inimigos naturais e a melhor nutrição das plantas, uma vez que essas duas estratégias potencializam os efeitos obtidos com o emprego do MIP!

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