Para que serve o Cloreto de Potássio (KCl)? Ele é um dos fertilizantes potássicos mais aplicados nos solos agrícolas do mundo todo, alcançando um consumo anual mundial de mais de 60 milhões de toneladas. Porém, nos últimos anos tem-se observado uma tendência de substituição dessa fonte convencional de potássio. Conheça mais sobre o cloreto de potássio e a origem das novas tendências de adubação potássica na agricultura.
O uso do Cloreto de Potássio para plantas
O Cloreto de Potássio vem sendo usado como uma das principais fontes de potássio para as plantas. O potássio é um importante macronutriente que participa de diversas funções essenciais para o desenvolvimento e produtividade das culturas, como:
- Ativação enzimática;
- Síntese proteica;
- Fotossíntese;
- Transporte de fotossintatos no floema;
- Crescimento celular;
- Regulação do potencial hídrico das células;
- Melhoria da qualidade de flores e frutos;
- Amenização de estresses bióticos e abióticos.
De acordo com dados do Ministério da Agricultura, quase a totalidade de KCl usado no Brasil, 96,5%, é importada dos países que compõem o oligopólio de produção do fertilizante no mundo: Rússia, Bielorrússia e Canadá.
Somente no primeiro semestre de 2021, a GlobalFert apontou que o Brasil bateu um novo recorde com importações de fertilizantes, com o Cloreto de Potássio liderando o ranking dos insumos adquiridos pelo país.
Veja a seguir as diferentes características que tornaram o KCl um dos fertilizantes mais consumidos no mundo e porque algumas delas têm levado a substituição dessa fonte de potássio na agricultura:
1. Método de produção
Grande parte do Cloreto de Potássio é produzido a partir da extração e refinamento de minerais ricos em potássio, como a silvita e a carnalita. Segundo Paul E. Fixen, autor do estudo Reservas mundiais de nutrientes dos fertilizantes, somente o Canadá, Rússia, Bielorrúsia e Alemanha representam mais de 90% das reservas mundiais de potássio.
Entretanto, nesse mesmo estudo ele destaca algumas pesquisas que indicam que as reservas atuais podem ser exauridas ainda nesse século, apesar de ainda existir uma grande incerteza nas estimativas.
Uma das formas de mitigar o efeito do rápido esgotamento das reservas de potássio para produção do KCl é com a utilização cada vez mais racional dos fertilizantes e com o desenvolvimento e utilização de outros processos produtivos.
Ele também pode ser obtido, por exemplo, como um subproduto da produção de ácido nítrico a partir de nitrato de potássio e ácido clorídrico.
2. Sustentabilidade na produção agrícola
Com recursos finitos para produção de Cloreto de Potássio e de outros fertilizantes, um dos maiores desafios da agricultura moderna é manter a sustentabilidade da produção agrícola, tanto em termos de produtividade das culturas, quanto da própria eficiência desses insumos agrícolas.
Mesmo que o KCl seja uma das fontes de potássio mais concentradas do mercado, contendo mais de 50% de K2O em sua composição, isso não se traduz totalmente em eficiência de utilização.
Isso acontece porque essa fonte de potássio é muito solúvel e libera praticamente todo o seu conteúdo de potássio no momento da aplicação.
Entretanto, as plantas não conseguem absorver todos os nutrientes disponíveis e, com isso, eles ficam muito suscetíveis serem perdidos para as camadas mais profundas do solo, num processo conhecido como lixiviação.
3. Dinâmica de mercado
Como a maior parte das reservas de potássio estão concentradas no exterior, consequentemente os maiores produtores mundiais de Cloreto de Potássio também estarão concentrados em outros países.
Esse fato leva a agricultura brasileira a ficar muito dependente da dinâmica de mercado externa para adquirir essa fonte de potássio.
Em razão disso, o país também sofre com os momentos de instabilidades socioeconômicas internacionais e com a alta de preços e escassez de KCl no mercado.
Em alguns momentos desse ano (2021), foi possível perceber um aumento no valor do preço do Cloreto de Potássio de mais de 200%. Parte desse aumento pode ser atribuído a um conjunto de fatores internacionais, como:
- A Índia ter negociado um preço mais caro para o contrato anual de fornecimento da commodity para 2021 através da BPC;
- O encerramento das operações de duas minas da Mosaic no Canadá;
- Instabilidade política na Bielorrúsia;
- A passagem do furacão Ida pelos Estados Unidos em setembro, o que desestabilizou a logística de distribuição mundial.
4. Dinâmica nos sistemas de produção
Um dos principais aspectos observados pelos agricultores no momento de aplicação dos fertilizantes é a resposta da lavoura.
Ou seja, se a aplicação da fonte do potássio é capaz de proporcionar os benefícios esperados com o suprimento da demanda nutricional da cultura, sejam eles na qualidade, produtividade ou outros aspectos desejados.
Porém, nem sempre o KCl consegue trazer respostas positivas para a lavoura e muitas vezes impõe mais limitações do que benefícios, devido ao elevado índice salino e de cloro contidos na composição desse fertilizante.
O índice salino é uma medida da tendência do fertilizante para aumentar a pressão osmótica, que está muito relacionada com o fluxo de água do solo.
Isso significa que quanto mais alto for o índice salino, mais suscetível estará o sistema de produção para sofrer as consequências da salinização do solo.
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Uma das formas de mitigar os efeitos do estresse salino na lavoura é com a escolha do fertilizante.
Para fins comparativos, o índice salino Cloreto de Potássio é de 116%, que se aproxima muito ao do sal de mesa (ou cloreto de sódio), com 153%.
Já o excesso de cloro contido no KCl, que chega a 47%, vem sendo associado em diversas pesquisas a:
- Redução da vida útil do maquinário utilizado no processamento das plantas com excesso de cloro;
- Perda de rentabilidade, qualidade e produtividade das culturas;
- Redução das populações de microrganismos benéficos;
- Compactação do solo.
5. Efeitos no longo prazo
O efeito residual do Cloreto de Potássio no solo ao longo dos anos está mais associado a aspectos negativos do que positivos, devido ao elevado teor de sais e de cloro na sua composição.
Além disso, quando consideramos a necessidade da melhoria dos aspectos fertilidade do solo para suportar a crescente demanda nutricional das novas cultivares, o KCl também não tem se mostrado uma fonte de potássio promissora.
Os benefícios do Cloreto de Potássio no agroecossistema ficam limitados a atender à nutrição das culturas, ou seja, a melhoria dos aspectos químicos do solo a curto prazo.
Já os aspectos físicos e biológicos do solo, e até mesmo os aspectos químicos não conseguem ser melhorados no longo prazo e, no pior dos casos, sofrem inclusive consequências negativas.
Mas, é possível, melhorar condições do solo com a aplicação de fontes de potássio?
Fertilizantes potássicos podem melhorar as condições do solo?
É possível substituir o Cloreto de Potássio por fertilizantes que promovam a melhoria das condições químicas, físicas e biológicas no solo.
Mas, para isso é preciso ir além das análises convencionais de solo que, geralmente, não conseguem fornecer informações suficientes para compreender e manejar o real estado de fertilidade do solo.
Para orientar a escolha da fonte de potássio ideal para a adubação da lavoura, o agricultor deve avaliar desde o potencial da matéria-prima utilizada na produção do fertilizante potássico a buscar por benefícios que vão além da nutrição vegetal.
Além disso, a escolha do método ideal de análise de potássio para a lavoura pode fazer toda a diferença para entender a dinâmica de potássio no solo e alcançar a alta performance da lavoura com a escolha assertiva e aplicação dos fertilizantes potássicos.