A cada novo ciclo de produção agrícola, o solo passa a acumular cada vez mais elementos indesejados e até mesmo tóxicos para as plantas, como o alumínio. Para redução dessa toxicidade, a aplicação do gesso agrícola se mostra como uma das alternativas. Mas, quais são os efeitos do gesso agrícola quando em contato com o solo?
O alumínio e o gesso agrícola
São considerados elementos potencialmente tóxicos todos aqueles capazes de gerar efeitos negativos e indesejados na planta com o seu acúmulo. Muitos desses elementos possuem ocorrência natural, como é o caso do alumínio.
O alumínio é um dos metais mais abundantes no solo, originado do intemperismo de rochas ricas em aluminosilicatos durante o processo de formação do solo.
Esse elemento é potencialmente tóxico para as plantas quando presente em ambientes ácidos, tornando-se solúvel e sendo passível de adsorção pelos coloides do solo. Nos solos brasileiros isso é um grande problema, visto que a acidez é uma característica recorrente neles.
Quando absorvido, o alumínio tende a se acumular preferencialmente no ápice radicular, afetando principalmente o alongamento e a divisão celular. Essa limitação reduz o potencial produtivo das plantas por inibir a principal via de assimilação de nutrientes.
O gesso agrícola (sulfato de cálcio) tem sido amplamente utilizado com o objetivo de reduzir a quantidade de alumínio ao longo do perfil do solo.
Ele geralmente é um subproduto da produção de ácido fosfórico utilizado na fabricação de superfosfato triplo, MAP (fosfato monoamônico) e DAP (fosfato diamônico). Todavia, também pode ser obtido através do processamento da gipsita, um minério rico em cálcio.
Mina de extração de gipsita. No Brasil, as principais minas concentram-se no Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco. (Fonte: Mineradora São Jorge)
O sulfato de cálcio quando entra em contato com a água, libera íons de cálcio e sulfato. Os íons de alumínio possuem carga positiva e serão ligados com os íons de sulfato que possuem cargas negativas. Essa reação resulta na formação de sulfato de alumínio, uma forma pouco absorvida pelas raízes das plantas.
Como os íons liberados pelo gesso agrícola são facilmente lixiviados para as camadas subsuperficiais do solo, eles são capazes de reduzir o alumínio em profundidade e consequentemente permitem um maior desenvolvimento do sistema radicular da planta.
Com as raízes mais desenvolvidas, a planta passa a tolerar melhor os períodos de seca e consegue explorar um maior volume do solo, aumentando a sua eficiência para absorção de água e nutrientes.
Como então aplicar esse insumo no solo, a fim de garantir a neutralização do alumínio e aproveitar os benefícios do gesso agrícola como fonte de nutrientes?
Quando e como aplicar o gesso agrícola
Assim como outros insumos e fertilizantes utilizados na lavoura, a aplicação do gesso agrícola exige uma análise prévia das condições em que o solo se encontra. Os principais fatores que indicam a necessidade dessa aplicação são:
- Os teores de cálcio de alumínio;
- A saturação por alumínio;
- A saturação por bases do solo, que é ligada a fertilidade do solo.
Teores baixos de cálcio do solo estão relacionados ao uso do gesso agrícola como fertilizante. Isso porque ele é composto por de 16-20% de cálcio e de 13-16% de enxofre, além de outros micronutrientes como boro, cobre e zinco.
O Dr. Valter Casarin, Doutor em Ciência do Solo pela École Supérieure Agronomique de Montpellier (França) e professor na ESALQ/USP, inclusive ressaltou a importância dos micronutrientes:
A elevação da concentração de cálcio no solo também interfere na fertilidade do solo, por aumentar diretamente o teor de saturação por bases. Isso faz com que menos pontos de troca estejam disponíveis nos coloides do solo para o alumínio, tornando o solo mais fértil e menos tóxico.
Já o teor de alumínio elevado está relacionado ao uso do sulfato de cálcio como corretivo. Quando a concentração de alumínio atinge valores acima do limite recomendável, o gesso agrícola atua como um neutralizante desse elemento.
Se identificados um ou mais desses fatores, a gessagem já é recomendada. A aplicação é feita em área total e preferencialmente em períodos chuvosos para facilitar a dissolução e lixiviação dos nutrientes para as camadas subsuperficiais do solo.
Principais custos envolvidos na aplicação do gesso agrícola
O gesso agrícola não é um dos insumos agrícolas mais caros, já que segundo a cotação do marketplace MFRural, o custo a granel começa a partir de R$30,00 a tonelada, com grande variação interestadual.
Esse preço acessível só se limita ao custo do insumo, pois o frete será um dos grandes empecilhos pela distribuição irregular dos polos produtivos pelo país. Mesmo que os agricultores busquem por fornecedores próximos à sua propriedade, em alguns casos isso se torna inviável, principalmente para aqueles que estão no cerrado.
Uma vez que o gesso agrícola se encontre disponível para aplicação na propriedade, é imprescindível que as máquinas e implementos agrícolas estejam regulados e sejam operados por profissionais qualificados . Isso para garantir um bom rendimento por hectare.
Além disso, a manutenção preditiva desses equipamentos garante menores custos operacionais, conforme evidenciado por Mohammed Tizzo Galé, em seu estudo comparativo intitulado Aplicabilidade de análise de fluidos como manutenção preditiva em maquinário agrícola com estudo de casos visando economia em manutenção corretiva.
Para essa pesquisa, Mohammed comparou o desempenho de dois tratores John Deere e verificou quase 60% de economia com custos de manutenção no trator que usou a análise de fluído como manutenção preditiva. Em 2019, ano em que o estudo de caso foi realizado, isso representou cerca de R$55.000,00 economizados.
Com os seus benefícios e um custo relativamente acessível, dependendo da região, o gesso agrícola é importante no processo de produção da lavoura. Todavia, quais são as suas limitações?
Os problemas relacionados ao uso do gesso agrícola
Os dois principais problemas relacionados ao uso excessivo do gesso agrícola são o seu potencial para contaminação do lençol freático e o risco de lixiviação de nutrientes indesejados.
A contaminação de recursos hídricos acontece principalmente por ser um insumo de fácil lixiviação. Mesmo com a vantagem de incorporar os nutrientes em camadas subsuperficiais sem necessidade de revolvimento, quando essa lixiviação ultrapassa profundidades superiores à do sistema radicular, já existe o risco de contaminação do lençol freático.
E essa fácil lixiviação também pode ser responsável por carrear nutrientes que deveriam ficar retidos nos coloides do solo, como o potássio e o magnésio. Isso acontece pelo gesso agrícola ter a capacidade de alterar o equilíbrio dos íons presentes no solo.
Para além disso, o sulfato de cálcio enquanto fonte de macronutrientes e micronutrientes ainda é um insumo com alto valor agregado. Assim, quando a finalidade for adubação, o agricultor deve buscar fontes alternativas com um melhor custo-benefício e eficiência.
A gessagem é eficiente para condicionar o solo, mas nem sempre gera resultados adequados na adubação
Em resumo, a gessagem é uma importante ferramenta capaz de condicionar o solo, neutralizar o alumínio tóxico em níveis subsuperficiais e fornecer nutrientes essenciais às plantas.
Porém, o limite máximo de aplicação deve sempre ser respeitado, para evitar problemas indesejados. Além disso, quando a necessidade for unicamente a reposição de nutrientes, como o enxofre, é mais viável buscar por fontes alternativas.
Isso porque existem fontes como o enxofre elementar micronizado, com custo-benefício mais vantajoso, especialmente para os agricultores do Cerrado, que acabam pagando mais caro pelo gesso agrícola.