A alta salinidade do solo pode interferir nos níveis de produtividade e causar grandes prejuízos ao microbioma. Embora possa ocorrer de forma natural em alguns solos, o aumento da salinidade também pode ser provocado pela interferência humana. Isso acontece também na atividade agrícola. Entenda os impactos da salinidade para a microbiota do solo e como evitá-los.
Importância da microbiota do solo para a agricultura
A microbiota ou microbioma do solo é o conjunto dos microrganismos que formam um ecossistema complexo, diverso e dinâmico no solo. Manter a microbiota do solo saudável é muito importante para produzir alimentos com mais qualidade e obter maior rentabilidade na lavoura.
Isso porque nem sempre os microrganismos são um mal que precisa ser combatido. A maioria desses seres microscópicos formam relações simbióticas muito importantes com as plantas, que trazem benefícios para elas e para o agricultor.
No documento Microrganismos promotores do crescimento de plantas, Eliane Aparecida Gomes, juntamente com outros pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), explica que os microrganismos exercem papeis fundamentais no desenvolvimento vegetal:
“O papel benéfico da comunidade microbiana na promoção do crescimento das plantas pode ocorrer de inúmeras formas, por exemplo, atuando na mobilização e transporte de nutrientes para a planta pela fixação de nitrogênio e solubilização/mineralização de fósforo, aumento da área de absorção das raízes, produção de fito-hormônios e de compostos orgânicos voláteis que estimulam o desenvolvimento vegetal e proteção das plantas contra patógenos.”
Assim, os microrganismos ajudam a otimizar a adubação e o manejo das pragas e patógenos, contribuindo para uma agricultura mais sustentável.
Já outras pesquisas apontam inclusive o papel dos microrganismos na melhora da capacidade das plantas de lidarem com condições de seca. É o caso do estudo Estimulation of Plant Growth and Drought Tolerance by Native Microorganisms (AM Fungi and Bacteria) from Dry Environments: Mechanisms Related to Bacterial Effectiveness, dos pesquisadores Adriana Marulanda, José-Miguel Barea e Rosário Azcon.
No cenário atual em que as mudanças climáticas deixam o agricultor à mercê de imprevisibilidades no clima, isso é bastante relevante. Entretanto, um grande inimigo da microbiota do solo é a salinidade.
Como a salinidade afeta os microrganismos
A salinidade é, em termos gerais, a concentração de cristais salinos no solo. Quando esse parâmetro é muito alto, isso acaba prejudicando a produtividade do solo. O processo de salinização pode acontecer por diferentes causas.
Um solo com salinidade elevada tem como consequências:
- Redução do potencial de crescimento das plantas, devido ao desequilíbrio na solução do solo dificultando a retirada de água do solo pelos microrganismos e raízes;
- Redução de atividades enzimáticas que levam a perdas de produtividade e rentabilidade;
- Redução da respiração do solo em até 50% pelo decréscimo da população da microbiota do solo;
- Diminuição da distribuição de fungos, como os que formam importantes simbioses com as raízes das plantas, as micorrizas arbusculares.
Petra Marschner e outros pesquisadores, no artigo Influence of Salinity and Water Content on Soil Microorganisms, publicado no jornal International Soil and Water Research, apontam que a salinidade pode ser dividida em:
- Salinidade primária: ocorre naturalmente onde o solo é rico em sais solúveis ou quando há processos geoquímicos que aumentam a concentração de cristais salinos;
- Salinidade secundária: provocada por ações humanas.
Ainda segundo Petra Marshner e seus colegas pesquisadores, “a salinidade afeta plantas e microrganismos por meio de dois mecanismos primários: efeito osmótico e efeitos de íons específicos”.
A osmose é um processo pelo qual a água se desloca de um meio menos concentrado para um meio mais concentrado através de uma membrana semipermeável. Quando há uma alta taxa de salinidade no solo, há uma perda da concentração da água nele.
Nesse cenário, ocorre um fenômeno chamado de plasmólise, que é a perda da água contida nos microrganismos e também nas próprias plantas, para o solo em virtude da alta salinidade. Também, como há menos água disponível no solo, os microrganismos não têm de onde retirar água para sobreviver e se desenvolver.
O uso de fertilizantes com alta salinidade pode causar impactos negativos no solo
Enquanto a salinidade primária apresenta causas naturais como regime pluviométrico mal distribuído que pode ter sido ou não afetado pelas mudanças climáticas, a salinidade secundária inclui causas humanas decorrentes do manejo inadequado da irrigação, padrões e rotações de cortes inadequados e contaminação química.
Além disso, alguns dos fertilizantes mais utilizados no manejo agrícola são altamente salinos. Um exemplo é Cloreto de Potássio (KCl), que tem um índice salino de 116%. Para fins comparativos, esse número se aproxima ao do sal de mesa (ou cloreto de sódio), com 153%.
Muitos dos fertilizantes mais utilizados na agricultura têm um índice salino bastante elevado
O uso constante de fertilizantes com salinidade elevada pode aumentar para os níveis de salinidade do solo, prejudicando a sua fertilidade e potencial produtivo. Uma das alternativas para evitar isso é realizar o parcelamento das aplicações de fertilizante no solo.
Entretanto, isso cria outro problema, já que torna necessária a realização de mais entradas na lavoura e, a longo prazo, traz aumento de custos para o produtor. Além disso, o Cloreto de Potássio tem ainda outro problema: a concentração de cloro em sua composição.
O problema do excesso de cloro para os microrganismos
O Cloreto de Potássio (KCl) contém altas doses de cloro, sendo composto por 47% desse elemento, sob a forma do ânion (íon carregado negativamente) Cl-.
O Cloreto de Potássio apresenta alta concentração de cloro em sua composição
Segundo escreve a pesquisadora Heide Hermary, no artigo Effects of some synthetic fertilizers on the soil ecosystem, a aplicação de 200kg de Cloreto de Potássio equivale ao despejo 1600 litros de água sanitária no solo.
Estudos apontam que a aplicação de Cloreto de Potássio em uma área pode equivaler a despejar água sanitária no solo
Desse modo, o Cloreto de Potássio tem um potencial muito danoso para os microrganismos do solo, tanto em virtude do aumento da salinidade quanto da toxidez do excesso de cloro. David Gabriel Campos Pereira e outros pesquisadores da Universidade Estadual de Montes Claros escrevem, no artigo Potassium chloride: impacts on soil microbial activity and nitrogen mineralization:
“O cloreto de potássio (KCl) é a fonte de potássio mais utilizada mundialmente e, devido ao uso contínuo desse fertilizante, pode ocorrer acúmulo de sais no solo e nas plantas. O excesso de íons desencadeia uma série de distúrbios fisiológicos, tornando-se um potencial biocida no solo”.
Mas, então, como lidar com esse problema?
Utilizando fontes livres de cloro e com baixos índices salinos para preservar a microbiota do solo
Além de sempre estar atento aos parâmetros de fertilidade e estrutura do solo, através de análises regulares, o agricultor pode utilizar fertilizantes que não contribuam para o aumento da salinidade do solo e preservem a microbiota.
O desenvolvimento de pesquisas na área tem trazido novas matérias primas, como o Siltito Glauconítico. Rico em glauconita, que promove melhoras na estrutura do solo, o Siltito Glauconítico fornece potássio, silício e outros nutrientes importantes para o desenvolvimento vegetal.
Tudo isso com um índice salino ínfimo e sem a presença de cloro em sua composição. Dessa maneira, o agricultor consegue nutrir a lavoura sem ter os impactos do aumento da salinidade e do excesso de cloro sobre os microrganismos benéficos do solo.