Você sabia que muitos nutrientes encontrados no solo dependem da ação dos microrganismos para serem disponibilizados para as plantas? Descubra, a seguir, como os microrganismos influenciam a disponibilidade de nutrientes e quais práticas agrícolas podem favorecer a qualidade biológica do solo!
A importância dos microrganismos presentes no solo
Nas últimas décadas, a evolução das técnicas moleculares e de bioinformática impulsionaram o crescimento do número de pesquisas sobre a microbiota do solo e suas funções, que se mostrou praticamente 13 vezes maior que no início dos anos 90.
O número de pesquisas relacionadas aos microrganismos do solo e suas funções cresceu exponencialmente, fato este evidenciado pelo volume de artigos publicados no Google Scholar nos últimos anos
A partir desse “boom” científico, pesquisadores de todo o mundo começaram o investigar as diferentes interações que os microrganismos do solo estabelecem com as plantas e outros seres vivos e os inúmeros benefícios que esses seres microscópicos podem promover para os ecossistemas, sejam eles naturais ou manipulados pelo homem.
Em um ecossistema agrícola, também conhecido pelo nome agroecossistema, os microrganismos do solo já se mostraram ser um importante aliado do agricultor para:
- Controlar diferentes pragas e doenças;
- Atenuar o efeito de substâncias tóxicas;
- Fazer a biorremediação de compostos tóxicos;
- Promover o crescimento das culturas agrícolas;
- Melhorar a tolerância das plantas à estresses abióticos;
- Melhorar a disponibilidade de nutrientes no solo;
E será nesse último aspecto que daremos um maior foco a seguir.
A influência dos microrganismos do solo sob a disponibilidade de nutrientes
Quando pensamos na dinâmica dos nutrientes do solo, os microrganismos do solo podem ser considerados uma peça indispensável desse processo.
Isso porque são responsáveis por coordenar grande parte das transições que acontecem entre os diferentes “reservatórios” dos nutrientes presentes no solo.
Uma dessas transições acontece quando os microrganismos atuam nos minerais presentes no solo, um “reservatório” de nutriente conhecido por apresentar uma baixa disponibilidade para as plantas.
Para liberar os nutrientes retidos na estrutura cristalográfica dos minerais, os microrganismos do solo contam com diferentes mecanismos, que incluem a produção de polissacarídeos extracelulares e ácidos orgânicos.
Os ácidos orgânicos, como o próprio nome sugere, contemplam um grupo de substâncias produzidas naturalmente por plantas, animais e microrganismos que possuem propriedades ácidas.
Por isso, ao entrarem em contato com os minerais presentes no solo eles conseguem desestabilizar a sua estrutura e promover a disponibilização dos nutrientes contidos nele.
Apesar de existir uma grande diversidade de microrganismos que, quando associados às plantas, produzem ácidos orgânicos, estudos apontam que em grande parte das vezes eles pertencem ao gênero Bacillus.
É o que observaram Crísia Santos de Abreu e outros pesquisadores, no artigo Produção de ácidos orgânicos por bactérias endofíticas de milho solubilizadoras de fosfato.
As rizobactérias do gênero Bacillus são umas das mais utilizadas na agricultura. O motivo se encontra nos tantos benefícios comprovados que esses microrganismos proporcionam para o solo e para as plantas, incluindo a influência na disponibilidade de nutrientes
Outro “reservatório” de nutrientes do solo positivamente influenciado pela presença dos ácidos orgânicos é aquele representado pelos nutrientes que ficam retidos temporariamente (adsorvidos) as partículas do solo.
Muitas partículas presentes no solo, como a matéria orgânica, acabam sendo um importante reservatório de nutrientes para as plantas.
Essa importância se dá pelo fato de que, uma vez que os nutrientes se encontram adsorvidos, eles precisam apenas ser liberados dessa interação com as partículas do solo para serem absorvidos pelas culturas.
Entretanto, existem alguns casos em que essa interação de adsorção com algumas partículas do solo, como os hidróxidos de alumínio, se dá de forma tão intensa que acaba tendo um efeito negativo sobre a disponibilidade dos nutrientes.
Nesses casos, os microrganismos do solo, através dos ácidos orgânicos, conseguem liberar os nutrientes adsorvidos nas partículas do solo ao complexar íons indesejáveis.
Além dos ácidos orgânicos, outra importante substância produzida pelos microrganismos do solo capazes de melhorar a fertilidade do solo são os sideróforos.
Os sideróforos são moléculas quelantes de íons férricos (Fe3+) capazes de formar complexos estáveis com o ferro (Fe3+) e reduzi-lo ao íon ferroso (Fe2+), uma forma biodisponível de ferro para as plantas.
Assim, essa capacidade de produção de sideróforos, ácidos orgânicos e outros compostos produzidos pelos microrganismos do solo são um importante recurso para melhorar a disponibilidade de nutrientes no solo e mitigar os efeitos negativos das deficiências nutricionais.
Então, diante dessa importante contribuição dos microrganismos do solo para melhorar a disponibilidade de nutrientes para as plantas, como o agricultor pode melhorar a microbiota do solo?
Como melhorar a microbiota do solo?
Atualmente, já existem diversas práticas difundidas no meio agrícola capazes de melhorar a microbiota e potencializar os benefícios que esses seres microscópicos promovem nos agroecossistemas. Dentre as quais, podemos citar:
- A rotação de cultura;
- O plantio entre linhas;
- O incremento de matéria orgânica no solo;
- A adição de materiais ricos em húmus e minerais;
- A manutenção da cobertura do solo, seja ela verde ou morta.
Além delas, o agricultor também pode usar outras práticas que se adequem ao seu sistema de produção. Mas, o que fazer quando não se sabe o impacto que elas podem ter sobre os microrganismos do solo?
Segundo a Doutora em microbiologia aplicada Márcia Maria, apesar de ainda não existirem valores de referência laboratoriais para mensurar com precisão a microbiota do solo, análises comparativas têm gerado muitos dados para tomadas de decisão no campo.
As análises comparativas envolvem a avaliação das comunidades de microrganismos presentes no solo antes e depois da realização de algum tipo de manejo. Assim, o agricultor terá um bom parâmetro para acompanhar a qualidade biológica do seu solo.
Além disso, o uso de fertilizantes adequados no manejo agrícola pode ter um impacto positivo sobre a microbiota do solo e a sua influência na disponibilidade de nutrientes para as plantas.
O uso de fertilizantes com alto teor de cloro, por exemplo, acaba afetando a saúde da microbiota do solo, já que, além da sua característica biocida, o excesso desse elemento provoca aumento na salinidade do solo, o que prejudica os microrganismos.
Assim, o uso de fertilizantes livres de cloro ajuda nesse sentido. Fertilizantes com matérias-primas adequadas, como aquelas ricas em glauconita, também podem ser ferramentas importantes na preservação dos microrganismos do solo.
Os microrganismos do solo são muito importantes para melhorar a disponibilidade de nutrientes
Em resumo, podemos perceber que a manutenção da boa qualidade biológica do solo é capaz de gerar inúmeros benefícios em um agroecossistema, incluindo a melhoria da disponibilidade de nutrientes para as plantas.
Por isso, o agricultor deve sempre fazer uma avaliação muito criteriosa das práticas que ele adota para o manejo das suas lavouras, devendo sempre priorizar aquelas capazes de favorecer o melhor desenvolvimento e a maior diversidade da microbiota do solo, a exemplo do uso de fertilizantes adequados no manejo agrícola!