O Brasil é considerado líder mundial na produção de café, uma atividade que foi responsável por movimentar, só no ano de 2022, mais de 60 milhões de reais. Entretanto, para manter essa posição de destaque, diversos riscos inerentes à atividade e que podem afetar a produção dos cafezais precisam ser minimizados e controlados. Descubra quais são as principais pragas do café e as principais estratégias de controle das espécies!
Conhecendo as principais pragas do café
Durante o ciclo produtivo do café, diversos tipos de pragas podem afetar negativamente a produção e qualidade da cultura. Por isso, o conhecimento das particularidades de cada espécie de praga e as diferentes estratégias de controle se tornaram uma prioridade de muitos cafeicultores.
Quando consideramos o potencial das pragas do café para causar danos e a incidência delas no Brasil, podemos destacar 5 principais grupos:
1. As brocas
Atualmente, as brocas são consideradas uma das principais pragas do café no Brasil. Isso porque a infestação desses pequenos besouros nas lavouras pode causar a queda de produtividade e a redução de qualidade dos lotes de café.
Dependendo do grau de infestação, as perdas causadas por esse inseto-praga podem reduzir o peso dos grãos em até 20% e ainda passar os grãos do tipo 2 para o tipo 7, uma vez que a presença de 2 a 5 grãos broqueados na amostragem do lote é enquadrado como um defeito.
A principal espécie que representa o grupo é a broca do café (Hypothenemus hampei), que ocorre tanto no café arábica quanto no café conilon. E, exclusivamente no caso do café conilon, também pode haver a ocorrência de diferentes espécies da broca dos ramos (Xylosandrus compactus e Xylosandrus curtulus).
O ataque da broca dos ramos provoca o ressecamento e morte das plantas. Contudo, por ser uma praga relativamente recente, ainda não foram estabelecidos padrões bem definidos do seu ciclo de vida e a sua ocorrência no Brasil.
Já no caso da broca do café, a sua presença nos cafezais brasileiros tem sido relatada desde o ano de 1920. Por isso, grande parte dos estudos foram direcionados ao manejo e controle dessa espécie.
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a broca do café é considerada a praga de maior importância para o café conilon e a segunda ou terceira em importância para o café arábica.
Cafezais acometidos por esse inseto-praga vão apresentar grãos perfurados durante o estágio de granação do café. Esses mesmos grãos têm seu interior consumido pelo estágio larval dessa praga. E esse ataque pode provocar:
- A redução da qualidade dos lotes;
- A maior incidência de doenças;
- A redução do peso dos grãos;
- A queda precoce dos grãos.
Estudos recentes têm mostrado que as folhas com taxas mais altas de concentração de boro tiveram taxas menores de danos causados pela broca do café (Hypothenemus hampei). (FONTE: NILTON, J. – Embrapa Rondônia)
Geralmente, as épocas de maior incidência da broca do café ocorrem entre os meses de outubro a março, sendo mais intenso entre os meses de janeiro a março. Entretanto, lavouras mais adensadas, em baixadas ou sob maiores regimes de chuvas no inverno, podem favorecer maiores níveis de infestações dessa praga.
Estudos indicam que, dentre as diferentes formas de controle da broca do café, o controle preventivo realizado com métodos de controle culturais tem se mostrado um dos mais eficientes.
Para isso, o agricultor pode adotar diferentes práticas para o controle dessa praga, quando ela atingir o nível de controle. Dentre elas podemos destacar:
- O bom manejo das podas, para favorecer o arejamento das lavouras e quebrar o ciclo de proliferação da praga;
- A colheita bem-feita, sem deixar grãos de uma safra para outra;
- O plantio em espaçamentos mais largos.
Além disso, o uso do controle biológico, a adoção de práticas de manejo que não agridam as populações do inimigo natural da broca e a boa nutrição com boro das lavouras também tem mostrado resultados promissores no controle dessa praga.
2. Os nematoides
Outra das pragas do café que tem se mostrado um grande desafio para os cafeicultores são os nematoides.
Mundialmente, essa praga invisível a olho nu é responsável por causar prejuízos de mais de 10% na produtividade das lavouras agrícolas. Sendo que, no caso da cultura do café, essas perdas podem praticamente dobrar em relação a essa média global.
No Brasil, a espécie de nematoide mais disseminada é o nematoide das galhas (Meloidgyne exígua), considerada a principal espécie de fitonematoides do café arábica.
Entretanto, também existem outras espécies que ocorrem com menor frequência, mas que ao mesmo tempo apresentam um maior potencial para causar prejuízos ao sistema radicular do cafeeiro, como as espécies M. incógnita e M. paranaensis.
Como mencionado anteriormente, o ataque dos nematoides é direcionado as raízes do café e provoca a sua destruição gradual que, consequentemente, afeta a capacidade de absorção de água e nutrientes pelas plantas.
Dentre os sintomas presentes em lavouras de café infestadas por nematoides, podemos destacar:
- O depauperamento geral e morte das plantas;
- A presença de plantas murchas e com crescimento atrofiado;
- O amarelecimento das folhas, que podem apresentar queda precoce;
- A presença de galhas nas raízes, no caso do ataque da espécie Meloidogyne exígua.
No campo, o controle dessa praga muitas vezes é dificultado pela presença de plantas hospedeiras na área, além das próprias condições climáticas do país, que acabam por favorecer a maior infestação dos cafezais por essa praga.
Por isso, grande parte dos controles mais eficientes acabam se concentrando em medidas preventivas e práticas culturais, evitando o plantio em áreas infestadas, fazendo rotação com culturas antagônicas aos nematoides e adotando práticas conservacionistas que proporcionem a melhoria da estrutura química, física e biológica do solo.
É o que recomenda a equipe técnica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), no documento Café: controle de pragas, doenças e plantas daninhas.
Outros estudos também revelam que a aplicação de silício pode proporcionar um bom controle dessa praga no campo, já sendo constatado que os pés de café que recebem o tratamento com este nutriente têm uma resposta bioquímica mais eficiente contra a infecção dos nematoides.
É o que explicam Dr. Fabrício Rodrigues e seus colegas pesquisadores, no artigo Biochemical responses of coffee resistance against Meloidogyne exigua mediated by silicon.
O silício pode proporcionar diversos benefícios para as plantas, incluindo a melhoria da resistência das plantas a pragas e doenças.
3. O bicho mineiro (Leucoptera coffeella)
O bicho mineiro (Leucoptera coffeella) é outro inseto que está incluso entre as principais pragas do café desde a década de 70.
Devido às mudanças sofridas no sistema produtivo do cafeeiro e o uso indiscriminado de inseticidas não seletivos, essa praga ganhou uma grande importância econômica nas últimas décadas.
Além disso, as mudanças climáticas também acabaram se tornando outro fator que vem impulsionando a maior ocorrência do bicho mineiro nos cafezais. Isso porque as infestações dessa praga são favorecidas pela presença de veranicos, temperaturas mais quentes e períodos secos.
Quando presente na lavoura, o bicho mineiro pode causar danos nos terços médio e superior das plantas de café, pela destruição direta do parênquima das folhas.
Esses danos são causados pelo estágio larval dessa praga e podem causar a redução da área foliar e a queda precoce das folhas que, por sua vez, e resultam na redução da longevidade das lavouras e na queda da produção do café, que pode chegar a até 70%.
Normalmente, as infestações do bicho mineiro acabam sendo mais problemáticas em lavouras de cafés mais jovens, cultivadas em maiores espaçamentos ou ainda naquelas faces mais ensolaradas do cafezal.
Por isso, muitos especialistas recomentam o plantio mais adensado do café, associados a utilização de quebra-ventos, arborização e a manutenção de áreas de preservação ambiental para o controle dessa praga.
Outras práticas de manejo do café, como a manutenção do equilíbrio nutricional da cultura, associados ao uso de agentes de controle biológico predadores também têm se mostrado importantes para reduzir as infestações do bicho mineiro nas lavouras.
4. Os ácaros
Assim como o bicho mineiro, os ácaros também são uma das pragas do café que apresentam uma maior incidência nos períodos mais secos do ano, especialmente na fase de pós-colheita das lavouras.
Eles podem ser encontrados caminhando sobre a superfície das folhas ou próximo aos frutos de café, locais estes nos quais realiza o seu processo de alimentação.
Os ácaros ao se alimentarem das plantas de café podem causar diversos danos diretos aos frutos e as estruturas das plantas de café, além de reduzir a fotossíntese e a produção de energia pelas plantas.
Entretanto, grande parte da importância dessa praga de café advém do seu potencial para ser vetor de diversas doenças.
Esse é o caso do ácaro da leprose (Brevipalpus phoenicus), que é vetor da leprose e da mancha-anular do cafeeiro, duas doenças conhecidas por ter um grande impacto na produção e qualidade do café.
O processo de identificação e monitoramento dos ácaros na lavoura geralmente é feito pela avaliação visual das plantas, que apresentaram diferentes sintomas dependendo da espécie presente.
No caso do ácaro vermelho (Oligonychus ilicis), as folhas atacadas serão da região do ponteiro do café e irão apresentar um aspecto empoeirado, bronze e sem brilho na sua face superior.
Já no caso do ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus), essas mesmas folhas do ponteiro irão apresentar um aspecto deformado e enrolado, já que essa espécie de ácaro está presente na face inferior das folhas jovens.
O manejo e controle de pragas do café como os ácaros, geralmente, é centrado em práticas que favoreçam a presença de seus inimigos naturais, como os ácaros predadores, que são responsáveis por grande parte do controle.
Além disso, o uso de acaricidas associado ao controle rigoroso da aplicação de insumos cúpricos também estão inclusos dentre as medidas do Manejo Integrado de Pragas (MIP) do café.
5. As cigarras e cigarrinhas
Por fim, não podemos deixar de destacar a importância que as cigarras têm para os cafezais. Essa praga do café é conhecida por atacar principalmente as raízes das plantas durante o seu estágio ninfal, onde pode permanecer se alimentando da seiva por até 5 anos.
Normalmente, a incidência dessa praga em lavouras jovens é praticamente inexistente até o 4º ou 5º de cultivo e pode ser favorecida por algumas condições, como:
- Os baixos índices pluviométricos;
- Os baixos teores de matéria orgânica do solo;
- A falta de árvores e de áreas de preservação ambiental;
Além das cigarras, as cigarrinhas também são outra importante praga que além de sugarem a seiva das plantas, podem ser vetores de diversos fitopatógenos. Um deles é a bactéria Xylella fastidiosa, causadora da atrofia dos ramos do cafeeiro (ARC) e da requeima das folhas do cafeeiro.
Por estar presente no solo, o controle das cigarras geralmente é centrado em práticas de controle cultural, fazendo o arranquio de lavouras com infestação excessiva e com baixa capacidade de recuperação em função da idade.
Em casos em que o aproveitamento da lavoura infestada ainda é economicamente viável, o cafeicultor pode recorrer ao:
- Uso de podas drásticas, como a recepa, para causar a morte intencional da maior parte do sistema radicular do cafeeiro e reduzir a população de ninfas;
- Incremento do teor de matéria orgânica do solo, favorecendo o desenvolvimento de inimigos natural das cigarras;
- Aplicação do controle químico, seguindo todas as recomendações técnicas descritas na bula dos produtos.
O controle das principais pragas do café pode ser feito através de diferentes estratégias
Em resumo, podemos perceber existe uma grande diversidade de pragas do café que podem afetar essa cultura, com potencial de reduzir significativamente a produção e a qualidade das lavouras.
Por isso, recomenda-se que o cafeicultor esteja sempre adotando estratégias preventivas, para evitar a entrada dessas pragas nas suas lavouras, como também diferentes métodos de controle quando as populações das pragas do café atingirem o nível de controle.
Para isso, ele pode utilizar desde práticas culturais, como o arranquio de plantas infestadas, ao manejo adequado da nutrição das plantas, para impedir que as pragas atinjam níveis que causem prejuízos econômicos para a sua propriedade!