A análise de solo é uma ferramenta muito utilizada para determinar as recomendações de aplicação de fertilizantes, bem como o seu êxito. No entanto, você sabia que nem sempre os métodos de análises de solo utilizados rotineiramente nos laboratórios brasileiros conseguem quantificar a real disponibilidade de potássio nos solos? Isso ocorre porque esses métodos geralmente, não se adequam ao objetivo da análise, ao tipo de fertilizante aplicado e às diferentes condições de solo e manejo encontradas nos sistemas de produção. Entenda como funciona a análise de solo para quantificação do potássio e qual a importância de usar os métodos adequados para que ela seja eficiente!
A importância das análises de potássio no solo
A análise de solo é uma ferramenta importante no manejo nutricional, já que fornece ao agricultor um panorama de como estão os níveis de nutrientes no solo.
No entanto, a discussão sobre qual o método mais recomendado para analisar determinado nutriente no solo é algo recorrente na agricultura e não se limita somente ao potássio. Ao longo dos anos tem-se observado uma constante evolução na agricultura, que tem adotado métodos inovadores de manejo e vem se tornando mais tecnológica e produtiva.
Dessa forma, à medida que a agricultura evolui e novos fertilizantes são desenvolvidos tem-se também a necessidade da utilização de métodos distintos para avaliar os nutrientes fornecidos por eles para o solo.
Assim, alguns fatores como o tipo de solo, o manejo adotado, a forma de liberação dos nutrientes pelo fertilizante e a cultura implantada, devem ser levados em consideração para a realização de uma análise de solo mais assertiva e que represente com exatidão a condição nutricional que ele se encontra.
O potássio é considerado um macronutriente primário. Isso significa que, além de ser essencial para o desenvolvimento vegetal, ele é requerido em grandes quantidades.
Somado ao fato de que a maioria dos solos brasileiros tem baixa disponibilidade desse nutriente, como aponta o estudo Aspectos relacionados ao mapeamento da disponibilidade de potássio nos solos do Brasil, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a utilização de fertilizantes potássicos é indispensável.
Mas, para garantir a eficiência da adubação potássica e se certificar que ela seja realizada na dose correta os agricultores realizam a análise de potássio no solo.
Para que esse procedimento seja feito, uma amostra do solo é retirada e são utilizadas substâncias chamadas de extratores – que reagem com o potássio presente na amostra e permitem que ele seja quantificado.
Extratores são soluções químicas que apresentam a capacidade de solubilizar os nutrientes presentes em amostras de solo, simulando o que as culturas seriam capazes de extrair dele durante seu desenvolvimento.
No Brasil, os extratores mais utilizados para análise de potássio são:
- O Mehlich-1, ou duplo-ácido, que utiliza ácido clorídrico (HCl) e ácido sulfúrico (H2SO4);
- O Mehlich-3, que utiliza múltiplos agentes de extração;
- Resina de troca iônica, que utiliza substâncias que realizam trocas iônicas com o potássio.
Entretanto, esses métodos de análise de solo têm algumas limitações.
As limitações dos métodos mais recorrentes de análise de potássio no solo
Em sua essência, a análise de potássio do solo determina o potássio imediatamente disponível para as plantas, que é o potássio trocável e o potássio em solução.
Para que os resultados obtidos possam ser levados em consideração, os métodos utilizados pelos laboratórios precisam ser “calibrados”, ou seja, padronizados e relacionados com o teor de potássio (K2O) na planta (simulação de absorção da planta).
É o que define o pesquisador Victor Hugo Alvarez Venegas, no capítulo Correlação e calibração de métodos de análise de solo, do livro O solo nos grandes domínios morfoclimáticos do Brasil e o desenvolvimento sustentado:
“O K disponível do solo pode ser definido como o teor de K extraído do solo por um extrator, que se correlaciona estreitamente com a quantidade de K acumulada na planta ou com a produção de matéria seca dessa planta.”
Isso porque o objetivo da análise de solo é fazer uma espécie de simulação da quantidade que a planta vai absorver. Acontece que, o potássio do solo é dividido em diferentes “reservatórios”, de acordo com a velocidade da disponibilidade para a planta.
Uma visão mais ampliada do ciclo do potássio no solo. (Fonte: adaptado de Bell et al., 2021)
Uma das limitações dos métodos mais utilizados nos laboratórios de análise de solo é que eles medem apenas o potássio que está nos reservatórios de disponibilidade mais rápida (a solução e a trocável).
Entretanto, os outros reservatórios de potássio também são importantes. É o que notam Michael J. Bell e outros pesquisadores no capítulo Using Soil Tests to Evaluate Plant Availability of Potassium in Soils, do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops:
“No entanto, quando o K adequado precisa ser fornecido ao longo de períodos de tempo mais longos (como ocorre com a remoção repetida de biomassa no cultivo de forragem, ou perenes, ou culturas de alta demanda de K de biomassa, como a cana-de-açúcar), há muitos solos a partir dos quais as plantas são capazes de extrair mais do que o reservatório de K inicialmente trocável.”
Neste estudo, os autores chamam a atenção para a necessidade de avaliar qual o método de análise de solo é o mais adequado para cada situação.
Isso inclui levar em consideração tanto o tipo de cultura, quanto as características do solo que está sendo analisado. O Brasil, por exemplo, é um país de proporções continentais com tipos de solo diferentes que precisam de métodos de análise diferentes.
Ampliando a visão do potássio no solo
A análise de potássio do solo é, sem dúvidas, uma ferramenta útil e relevante para o agricultor na hora de pensar o planejamento do manejo agrícola.
Entretanto, Michael J. Bell e seus colegas em Using Soil Tests to Evaluate Plant Availability of Potassium in Soils acrescentam que nem sempre as amostras de solo analisadas vão refletir o estado de fertilidade ou de onde as plantas estão retirando os nutrientes:
“Independentemente do método analítico de solo utilizado, um dos maiores desafios em fazer uma previsão da necessidade de fertilizante para um campo a partir de uma análise de solo é a precisão com a qual as amostras de solo refletem o estado de fertilidade do campo, e especificamente as partes do perfil do solo que são exploradas pelas raízes das culturas.”
Isso significa que em culturas de ciclo mais longo, como o café, o eucalipto e o citros, é possível que haja uma extração maior de potássio do que é possível medir com os métodos mais utilizados nas análises rotineiras, como Mehlich e resina, que acabam não detectando essa extração.
Ademais, quando o objetivo da análise de solo é medir a eficácia da aplicação de um fertilizante potássico, é preciso pensar que os métodos de análise mais utilizados podem não ser os mais adequados.
Nesse sentido, é preciso, como sugerem Michael J. Bell e seus colegas no capítulo Considering Soil Potassium Pools with Dissimilar Plant Availability, também do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops, ampliar a visão do ciclo do potássio no solo e também dos métodos de análise.
Além disso, levar em consideração outras técnicas, como a análise foliar, é outro passo para entender como a aplicação de fertilizantes tem sido eficiente em nutrir as plantas com potássio e refinar o manejo agrícola.
Isso porque o potássio em fertilizantes serve para reabastecer tanto a solução, quanto outros ‘reservatórios’ de potássio do solo, dependendo da fonte utilizada.
Avaliar adequadamente é a chave para que a lavoura seja mais produtiva
Apesar da análise de potássio do solo ser uma importante ferramenta no manejo nutricional das culturas, ainda não se tem um conhecimento aprofundado sobre os diferentes extratores utilizados e clareza sobre o objetivo da análise, levando assim à uma condução ineficaz desses métodos.
Assim, muitas vezes se recorre ao uso do Mehlich e da resina, que são os extratores mais utilizados no Brasil para análise de potássio no solo. No entanto, nem sempre essas análises irão demostrar o real estado da concentração de potássio nos nossos solos.
Então, é necessário que se busque por extratores que sejam eficientes para compreender a dinâmica do potássio com o solo-planta-produtividade. Isso considerando que as culturas não extraem o potássio de apenas uma fração do solo e que o solo apresenta diferentes “reservatórios” de potássio, de acordo com a velocidade da disponibilidade para a planta.
E é a falta de entendimento de qual fração do solo a ser analisada que tem levado a ineficiente avaliação do real estado de fertilidade do solo.
Somente no livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops, Michael J. Bell e seus colegas pesquisadores citam 19 métodos para avaliar a disponibilidade de potássio no solo, cada um com suas particularidades.
Entretanto, quando se fala em análise de solo, não existe um método certo ou errado. Existem metodologias que se adequam para cada cenário.
A inclusão de outras variáveis para interpretação da análise do solo se torna imprescindível, como avaliação do tipo de solo, a cultura utilizada, o manejo agrícola e, especialmente, a fonte de potássio utilizada.
Por isso, os autores concluem, nos capítulos 7 e 8 do livro, que levar em conta essas variáveis é crucial para um melhor entendimento da fertilidade e para que se possa fazer recomendações mais apuradas do manejo de potássio.
Citando a cultura da cana-de-açúcar e os reservatórios de potássio de liberação lenta do solo como exemplo, eles demonstram que as dinâmicas do nutriente no solo são importantes na hora de avaliar a disponibilidade do potássio.
Assim, os métodos utilizados de forma rotineira nem sempre vão quantificar a real disponibilidade de nutriente no solo. Por isso, é preciso que os métodos de análise de solo estejam em constante evolução, a fim de serem cada vez mais precisos e se adequarem às diferentes condições de solo e manejo encontradas.