A cana-de-açúcar é acometida por uma grande diversidade de pragas que, muitas vezes, são de difícil monitoramento e controle. Entretanto, como elas podem prejudicar a produtividade e a qualidade da lavoura, é importante que o agricultor tome as medidas corretas de controle dessas pragas. Descubra quais são as principais pragas da cana-de-açúcar e as particularidades de controle das principais espécies!
Conhecendo as principais pragas da cana-de-açúcar
O manejo das pragas da cana-de-açúcar é um desafio que está inserido na rotina de muitos agricultores, visto o potencial destrutivo que elas apresentam para reduzir tanto a produtividade quanto a qualidade da cana. Dentre as principais pragas presentes na cultura, podemos destacar:
1. As brocas
As brocas representam uma das principais pragas da cana-de-açúcar, por apresentarem uma ampla distribuição geográfica no país, serem de difícil controle e terem um potencial para causar danos significativos nos canaviais.
Estima-se que para cada 1% de índice de infestação da Diatraea saccharalis, a espécie de broca de maior ocorrência no Brasil, haja um decréscimo, em média, de 0,85% da produtividade da cana e perdas industriais de 20 a 30 Kg de açúcar por hectare.
Como o próprio nome desse inseto-praga, grande parte dos danos causados pelas brocas estão relacionados as diversas galerias que elas abrem no colmo ou raízes da planta durante o seu estágio larval, causando:
- O maior tombamento da cana;
- A redução direta da produtividade;
- A maior susceptibilidade das plantas de cana ao ataque de fitopatógenos;
Além da broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), também existem outras espécies que podem causar grandes danos à cana-de-açúcar. Dentre elas, podemos destacar a broca dos rizomas (Migdolus fryanus) e a broca gigante (Telchin licus).
A broca dos rizomas é conhecida por atacar principalmente o sistema radicular da cana, causando falhas nas brotações das soqueiras e a necessidade de reforma precoce do canavial. Já a broca gigante causa danos no colmo muito similares à espécie Diatraea saccharalis, com a diferença que as galerias criadas por esse inseto-praga são bem maiores.
De forma geral, o controle das brocas na cana começa com o monitoramento periódico do nível de infestação presente nos canaviais para definir o melhor momento de entrada das medidas de controle.
É importante destacar que, no caso das brocas, o agricultor deve sempre considerar a fase de desenvolvimento predominante da praga na sua lavoura. Isso porque esse aspecto acaba apresentando uma grande influência na eficiência e efetividade das medidas de controle.
Nos estágios iniciais de desenvolvimento da praga, muitos especialistas recomendam o uso combinado da aplicação de silício, controle químico e biológico.
Já nos estágios mais avançados de desenvolvimento, o controle biológico com vespinhas parasitoides como a Cotesia flavipes e fungos entomopatogênicos tem mostrado resultados mais promissores.
2. Os bicudos
Os bicudos, representados pela principal espécie Sphenophorus levis, também são outra das pragas da cana-de-açúcar que atacam o colmo e o rizoma das plantas e que pode levar a redução da produtividade da cultura.
Em algumas regiões, há perdas de até 30 toneladas por hectare associadas à redução da longevidade dos canaviais, que muitas vezes não passam do segundo corte. E isso tem preocupado muitos agricultores.
Entretanto, assim como as brocas, os bicudos são considerados uma praga de difícil controle, especialmente o controle químico, já que o S. levis passa grande parte do seu ciclo de vida já que ele fica protegido nos rizomas.
No campo, os métodos de controle que têm se mostrado mais efetivos incluem:
- O uso de fungos entomopatogênicos;
- A compra de mudas de instituições idôneas;
- A destruição das soqueiras na reforma do canavial;
- A aplicação de inseticidas direcionados à soqueira na operação de corte, ou via drench.
3. As formigas cortadeiras
As formigas cortadeiras são mais uma das pragas da cana-de-açúcar com ampla distribuição no Brasil, causando anualmente perdas da ordem de 3 toneladas, no caso do sauveiro adulto, além da redução da qualidade da cana.
Elas são representadas por dois grandes gêneros: Atta e Acromyrmex, conhecidos popularmente como saúvas e quenquéns respectivamente.
Apesar de nos meses iniciais, os ninhos dessas formigas não passarem de meio metro dentro do solo, com o passar dos anos eles podem ganhar até 8 metros de profundidade e 20 e 50 câmaras de fungos, que fazem parte da sua dieta.
Diferentemente do que se imagina, a maior parte do material forrageado pelas formigas cortadeiras é usada para manutenção das colônias de fungos. Entretanto, esse processo de forrageamento acaba por:
- Retardar o desenvolvimento das plantas;
- Impedir o desenvolvimento de novas brotações;
- Causar a morte de plantas, especialmente aquelas mais jovens;
- Reduzir a produtividade dos talhões.
Portanto, o controle efetivo dessa praga é indispensável para alcançar uma boa produtividade dos canaviais.
De acordo com o doutor em Entomologia Fernando Ribeiro Sujimoto, o controle é planejado e executado de diferentes formas de acordo com o estágio de desenvolvimento da cultura, sendo a fase de pré-plantio aquela mais crítica.
O controle químico usando iscas granuladas à base de sulfluramida ou fipronil é considerado um dos principais métodos de controle das formigas cortadeiras. Entretanto, somente o seu uso não garante um controle efetivo das populações desse inseto-praga.
Por isso, recomenda-se que o controle químico esteja sempre associado a outras práticas indicadas para cana dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
4. As cigarrinhas
Nos últimos anos, outra das pragas da cana-de-açúcar que começou a atrair a atenção de muitos agricultores e pesquisadores é a cigarrinha das raízes.
Esse inseto-praga, representado principalmente pela espécie Mahanarva fimbriolata, é conhecido por afetar diversas culturas e pode gerar perdas de cerca de 25% na produtividade da cana, sendo esse número bem maior no caso das soqueiras.
A temporada de alta densidade populacional das cigarrinhas das raízes começa com as primeiras chuvas no início da primavera e em áreas de colheita de cana “crua”, na qual esse inseto faz a postura dos ovos na base do colmo da cana.
Ao nasceram, as formas jovens desse inseto, conhecidas como ninfas, atacam as raízes superficiais da cana, liberando uma espuma branca que se acumula na parte inferior das plantas.
Esse processo de alimentação acaba dificultando ou impedindo o processo de absorção de água e nutrientes pelas plantas, levando o colmo a apresentar sintomas como:
- Redução do conteúdo de sacarose e pureza do caldo;
- “Chochamento”, murchamento e afinamento;
- Aumento do teor de fibra e impurezas;
- Rugas e rachaduras.
Especialistas indicam que o controle dessa praga pode ser feito com o fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae e a aplicação de produtos de ação sistêmica, como aldicarb, carbofuran e thiamethoxam, respeitando sempre todas as boas práticas de cada um dos métodos.
5. As lagartas
Por fim, não podemos deixar de destacar a importância econômica que as lagartas desfolhadoras e elasmo (Elasmopalpus lignosellus) têm na cultura da cana, especialmente em períodos de estiagem prolongada.
As lagartas se encontram distribuídas praticamente em todas as regiões canavieiras do país, causando tanto danos diretos nas folhas, quanto nas brotações da cana-planta e das soqueiras.
No estudo As pragas de maior incidência nos canaviais e seus controles, Newton Macedo e Daniella Macedo explicam que um dos grandes desafios para controle das lagartas envolve o monitoramento precoce das infestações.
Isso porque as lagartas nos primeiros instares geralmente se alojam nas bainhas das folhas mais novas.
Além disso, o uso indiscriminado e excessivo de inseticidas para o controle dessa praga nos últimos anos acabou inviabilizando muitas tecnologias e trazendo graves consequências econômicas, ecológicas e ambientais para os agroecossistemas.
Assim, outros métodos presentes dentro do programa do Manejo Integrado de Pragas (MIP) têm apresentado resultados muito positivos no campo.
Esse é o caso da aplicação do silício, um elemento benéfico capaz aumentar a mortalidade das lagartas ao:
- Causar danos diretos ao aparelho bucal das lagartas;
- Potencializar a atração de inimigos naturais;
- Tornar menos palatável as folhas da cana;
- Dificultar a digestão das lagartas.
O silício pode ser um aliado no manejo de pragas para lidar com as lagartas, aumentando a mortalidade e diminuindo a população.
Dessa forma, podemos perceber que muitas pragas da cana-de-açúcar podem causar graves danos a produção e qualidade dessa cultura e o controle delas muitas vezes envolve a integração de diferentes métodos de controle.
O controle das principais pragas da cana-de-açúcar exige a integração de diferentes métodos de controle
Em resumo, podemos perceber que cada uma das principais pragas da cana-de-açúcar apresenta suas particularidades de monitoramento e controle. Contudo, todas elas apresentam um ponto em comum: o seu controle só se torna efetivo com o uso de diferentes estratégias.
Assim, o agricultor deve sempre buscar integrar diferentes métodos de controle, como as boas práticas culturais, inoculação de fungos entomopatogênicos e a aplicação do silício, além do uso de fertilizantes eficientes e que favoreçam a atividade dos microrganismos benéficos do solo, que também podem ser uma ferramenta no controle de pragas e doenças.
Dessa maneira, é possível alcançar um manejo efetivo das pragas da cana-de-açúcar!