O milho é considerado uma cultura altamente responsiva à melhoria do nível da fertilidade do solo, apresentando um alto potencial de rendimento quando existe uma disponibilidade adequada de nutrientes no solo. Conheça, a seguir, qual a influência da fertilidade do solo na produtividade do milho e como fazer o manejo desse parâmetro na sua lavoura!
Como a fertilidade do solo afeta a produtividade do milho
A produção do milho passou por um aumento expressivo nas últimas décadas, saltando de pouco mais de 20 milhões de toneladas na década de 90 para mais de 85 milhões de toneladas em 2021.
O mesmo foi observado para a produtividade média do milho no Brasil, que atualmente já alcança quase 5 mil toneladas por hectare nas safras de verão.
Entretanto, esses aumentos da produção e da produtividade do milho trouxeram novos desafios para os agricultores, incluindo a intensificação da exploração dos recursos do solo pelas plantas de milho.
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a extração de nutrientes pelo milho, como o potássio e o magnésio, aumenta linearmente com o incremento na produtividade da cultura.
E isso acontece porque muitos desses nutrientes desempenham funções que são capazes de afetar diretamente ou indiretamente esse parâmetro.
Efeito do déficit hídrico nas espigas do milho safrinha, híbrido Tork, em parcela sem adubo no sulco de plantio (à esquerda) e parcela com uma boa adubação no sulco de plantio (à direita) (Fonte: FUNDAÇÃO MS, 2009)
No caso do potássio, por exemplo, a boa disponibilidade desse macronutriente no solo é capaz de influenciar positivamente na produtividade do milho. Isso porque ele pode contribuir para o aumento:
- Da resistência do milho a variações climáticas extremas;
- Do número de grãos por planta e no diâmetro do caule;
- Da altura da planta e de inserção da primeira espiga.
Estudos indicam que o potássio é capaz de atuar na fisiologia vegetal de algumas culturas, promovendo a redução do ponto de congelamento, a regulação do potencial hídrico das células e da abertura e fechamento dos estômatos. Funções estas que contribuem para a maior resistência do milho à seca ou às geadas.
Além disso, como esse macronutriente desempenha funções ligadas ao crescimento celular e ao transporte de fotoassimilados no floema, o potássio apresenta um papel chave na produção de grãos e de matéria seca do milho.
Já no caso do magnésio, ele é considerado um nutriente muito importante para melhor utilização dos açúcares sintetizados pela planta, realizando o transporte dos produtos dos órgãos vegetais fotossinteticamente ativos para aqueles que se encontram em desenvolvimento, como as raízes e as espigas de milho.
Outra contribuição significativa desse nutriente para a produtividade do milho está associada às interações positivas que ele estabelece com outros nutrientes do solo, como o fósforo, auxiliando na absorção e redistribuição do fósforo para as sementes durante o estágio de maturação do milho.
É o que explica o pesquisador V. D. Fageria, no artigo Nutrient interactions in crop plants.
Além do potássio e do magnésio, existem outros nutrientes e elementos benéficos cuja boa disponibilidade no solo pode trazer muitos benefícios para a produtividade do milho. São eles: o enxofre, o manganês, o boro e o silício.
Assim como o magnésio, o enxofre pode favorecer a disponibilidade de fósforo se a forma desse nutriente encontrado no solo for a do enxofre elementar.
Isso porque, durante o processo de oxidação pelo qual o enxofre elementar precisa passar no solo para ser disponibilizado para as plantas, acabam sendo formados compostos que favorecem a eficiência dos fertilizantes fosfatados.
Pesquisas também indicam que a adubação sulfatada pode promover respostas positivas na produção de grãos de milho, podendo proporcionar mais de 20% de aumento na produtividade da cultura.
No âmbito dos micronutrientes, o manganês e o boro também têm mostrado resultados positivos para o desempenho da cultura do milho.
Plantas de milho bem nutridas em manganês, de forma geral, podem apresentar um bom enchimento de grãos e produção de biomassa, já que esse micronutriente está relacionado com a síntese de diversos compostos vegetais que contribuem para esse parâmetro.
Além disso, alguns estudos têm observado uma redução da severidade das infecções por doenças e da porcentagem de “grãos ardidos”, que são aqueles grãos que sofreram com algum processo de podridão causados por fungos fitopatogênicos.
Já no caso do boro, a presença de teores adequados desse micronutriente no solo tem proporcionado o incremento:
- Da matéria seca da parte aérea e das raízes do milho, bem como o comprimento das mesmas;
- Do número de grãos por fileira da espiga (NGF);
- Da massa da espiga de milho.
Por fim, podemos destacar a importância que alguns elementos benéficos, como o silício, têm para a cultura do milho.
Estudos têm demonstrado que, quando aplicado em estágios iniciais da lavoura, o silício é capaz de aumentar a produtividade do milho de segunda safra, proporcionando:
- O melhor aproveitamento da radiação solar e conversão de fotoassimilados, que serão transportados para os grãos;
- A redução do autossombreamento, favorecendo a diminuição da perda excessiva de água por transpiração;
- O aumento do diâmetro da espiga, número de fileiras por espiga e número de grãos por fileira;
- O aumento da resistência da planta ao ataque de fungos patogênicos e pragas;
- O melhor desempenho da planta em condições de estresse hídrico.
É o que observaram Lennis Afraire Rodrigues e outros pesquisadores, no artigo Recobrimento de Sementes com Silício Aumenta a Produtividade de Milho de Segunda Safra.
Dessa forma, podemos perceber que quanto maior for a capacidade do solo em fornecer nutrientes para as plantas, maiores podem ser os benefícios positivos que eles trazem para a produtividade do milho. Mas, como aumentar a fertilidade do solo?
Como melhorar a fertilidade do solo em sistemas de produção de grãos
Quando pensamos na melhoria da fertilidade do solo em sistemas de produção de grãos, um dos principais pontos que definem o sucesso dessa prática é a análise correta do real estado de fertilidade do solo para dar início ao processo de recomendação de corretivos e fertilizantes.
A dinâmica única dos nutrientes no solo faz com que muitos deles apresentem algumas particularidades, que podem interferir na interpretação correta da análise laboratorial das amostras de solo.
Esse é o caso, por exemplo, do potássio, do enxofre e do manganês, em que podem existir diferenças significativas nos resultados dependendo do extrator químico utilizado nas análises de solo.
Portanto, é preciso escolher métodos de análises capazes de trazer uma visão mais ampla do estado de fertilidade do solo, avaliando não somente as frações de nutrientes prontamente disponíveis para as plantas, como também aquelas retidas temporariamente aos componentes do solo para fazer uma recomendação assertiva dos insumos.
Outro aspecto importante a ser considerado no aumento da fertilidade do solo para o milho, é se ele está inserido em sistemas de rotação de culturas.
Dependendo da cultura cultivada anteriormente ao milho e a sua época de cultivo, será necessário que o agricultor considere fazer a adubação do solo para duas ou mais culturas. E, para isso, ele precisará entender as diferentes exigências de nutrientes para cada cultura, para que a disponibilidade de nutrientes no solo não limite a produtividade do milho.
No caso de algumas culturas leguminosas, por exemplo, a extração do enxofre do solo para a produção de uma tonelada de grãos pode chegar a ser até quase quatro vezes maior quando comparada com a do milho.
Entretanto, nem sempre apenas aplicar maiores doses de nutrientes será suficiente para garantir uma boa disponibilidade de nutrientes para o milho.
Isso acontece porque muitos nutrientes, como o potássio e o boro, possuem uma grande mobilidade no solo dependendo da fonte de nutriente aplicada.
Com isso, parte dos nutrientes podem ser perdidos para as camadas mais profundas do solo ou por volatilização em um curto espaço de tempo, dependendo das condições do solo e do clima.
No livro Fertilizantes de eficiência aprimorada, os pesquisadores Márcio Valderrama e Salatiér Buzetti estimam que 40% a 70% dos fertilizantes usados no manejo agrícola podem se perder por lixiviação e volatilização.
Nesse sentido, o agricultor deve sempre considerar aplicar fontes de nutrientes que favorecem uma menor perda de nutrientes no agroecossistema e garantam uma maior disponibilidade de nutrientes no solo a médio e longo prazo a fim de favorecer a melhor produtividade do milho.
A escolha das fontes de nutrientes interfere diretamente na disponibilidade deles para as plantas.
Finalmente, não podemos deixar de destacar que muitas características físicas e biológicas também exercem uma grande influência na fertilidade do solo.
De forma geral, todos os nutrientes que dependem do mecanismo de fluxo de massa para serem absorvidos pelas plantas apresentam uma grande dependência do teor de umidade do solo para chegarem até o interior da planta.
Além disso, a boa disponibilidade de água no solo acaba tendo um efeito muito positivo sobre o desenvolvimento radicular e a manutenção dos processos fisiológicos da planta, assim como na mineralização da matéria orgânica, uma importante fonte de nutrientes para as plantas.
Já quando pensamos nas características biológicas do solo, muitos microrganismos do solo estão envolvidos com o processo de disponibilização e ciclagem dos nutrientes nos agroecossistemas.
Portanto, adotar manejos que favoreçam a qualidade do solo, seja ela química, física ou biológica, são muito importantes para melhorar a fertilidade do solo e, assim, favorecer a produtividade do milho.
A produtividade do milho depende da boa fertilidade do solo
Em resumo, podemos perceber que vários nutrientes são capazes de contribuir para a produtividade do milho, seja de forma direta, com o aumento dos parâmetros ligados a produtividade da cultura, seja de forma indireta, favorecendo o desempenho, sanidade ou resistência da cultura a estresses bióticos e abióticos.
Sendo assim, é importante que o agricultor sempre busque formas de aumentar a fertilidade do solo, ou seja, a capacidade do solo em fornecer nutrientes para as plantas.
Para isso, recomenda-se que ele cuide sempre da qualidade do seu solo e faça uma análise criteriosa dos teores de nutrientes, aplicando as doses e tipos de fertilizantes mais adequados na sua lavoura para favorecer a produtividade do milho!