A aplicação de fontes convencionais de potássio e a adubação de nitrogênio em doses elevadas podem ser mais prejudiciais do que benéficas para o solo e para a lavoura. É isso que o pesquisador e grande especialista em fertilidade do solo, Dr. Richard Mulvaney, afirma durante conversa no podcast Regenerative Agriculture.
Você pode conferir a participação do Dr. Mulvaney no podcast aqui:
O Dr. Mulvaney começou as suas pesquisas sobre fertilidade do solo na década de 80, na Universidade de Illinois (EUA). Essa universidade possui o mais antigo campo de testes agrícolas dos Estados Unidos, conhecido como Morrow Plots, onde diversas pesquisas agrícolas foram desenvolvidas.
O paradoxo do potássio
Durante o podcast, o Dr. Mulvaney abordou um de seus trabalhos mais notórios, o estudo The potassium paradox: Implications for soil fertility, crop production and human health, onde ele fala sobre o problema da adubação potássica convencional.
Essa pesquisa foi conduzida juntamente com seus colegas pesquisadores da Universidade de Illinois, Dr. Saeed Khan e o Dr. Timothy Elsworth. O estudo concluiu que a utilização de fontes convencionais de potássio, como o Cloreto de Potássio (KCl), se mostrou ineficiente para aumentar os níveis de produção agrícola a longo prazo.
Eles chegaram à essa percepção depois de fazer uma extensa revisão de diversos estudos que analisaram a adubação potássica com fontes convencionais como o KCl. De fato, segundo o Dr. Mulvaney, essas fontes diminuíram o total de potássio disponível no solo.
Isso acontece porque o potássio é encontrado na natureza sob a forma do cátion K–, geralmente em camadas argilosas do solo. Essas camadas respondem à umidade, se contraindo ou se expandindo conforme os níveis de água no solo.
A ação do cloro presente nos fertilizantes de fontes de potássio convencionais faz com que a umidade no solo diminua, fazendo com que as camadas de solo argilosas se contraiam, tornando o potássio indisponível para as plantas.
Além disso, o cloro tem outros efeitos negativos no solo, como a acidificação, a compactação e os danos aos microrganismos, que são importantes para a saúde do solo e das plantas, exercendo funções como disponibilizar os nutrientes contidos no solo e manter níveis adequados de nitrogênio
Assim, na avaliação do Dr. Mulvaney, é preciso que o agricultor procure tecnologias de nutrição potássica sem cloro. Dessa maneira, ele evita os malefícios do cloro e potencializa os efeitos da adubação potássica, que será mais eficiente.
O nitrogênio que vem dos microrganismos
Outra importante descoberta do Dr. Mulvaney foi sobre a importância dos microrganismos e do microbioma para a manutenção dos níveis de nitrogênio do solo.
Nos anos 90, ele e o Dr. Khan, analisaram pesquisas feitas com fertilizantes nitrogenados em partes do campo de testes de Morrow Plots cujas lavouras eram fixas, ou seja, que recebiam sempre o tipo de cultura e os mesmos tratamentos de fertilizantes.
A partir disso, eles perceberam que em 44% das áreas de testes, as plantações que receberam tratamentos com fertilizantes nitrogenados tiveram pouco aumento de produção em relação às plantações de controle, que não haviam recebido nenhum tipo de tratamento.
O Dr. Mulvaney e o Dr. Khan perceberam que em quase metade das áreas de teste, a adubação nitrogenada não era eficiente
Através da análise de solo das áreas de teste investigadas, o Dr. Mulvaney e o Dr. Khan constataram que, nas áreas de teste onde não havia uma resposta eficiente à adubação nitrogenada, os solos das plantações de controle tinham as quantidades necessárias de nitrogênio para o crescimento das plantas.
Isso ia contra o paradigma que se acreditava até então, de que o solo era responsável por apenas um terço do nitrogênio necessário para as plantas, enquanto os outros dois terços deveriam ser fornecidos através de fertilizantes.
Investigando mais a fundo, os dois pesquisadores entenderam que o nitrogênio presente no solo é uma forma orgânica de nitrogênio, que vem de substâncias chamadas de aminoaçúcares.
Os aminoaçúcares são produtos de atividade microbiana, sintetizados biologicamente. Eles podem ser encontrados em paredes celulares microbianas, esporos, e também em uma substância chamada quitina, que forma exoesqueletos de insetos, por exemplo.
Para que o nitrogênio dos aminoaçúcares seja liberado para o solo e possa ser absorvido pelas plantas, é preciso que eles sejam decompostos. Os aminoaçúcares mais fáceis de decompor são os que estão presentes nas paredes celulares microbianas.
Por isso, segundo o Dr. Mulvaney, uma boa maneira de aumentar o nível de nitrogênio do solo é preservar o microbioma e a atividade biológica do solo. Isso ajuda a aumentar a matéria orgânica no solo.
A necessidade de manter a matéria orgânica e um novo paradigma de nutrição
Outra maneira de manter os níveis de nitrogênio do solo adequados, segundo o especialista, é passar a utilizar o sistema de rotação de culturas. Ele cita o exemplo de sistemas de culturas que alternam milho e soja, ou soja e aveia.
Assim, o solo terá uma vegetação de cobertura que irá fornecer matéria orgânica para os microrganismos decomporem – aumentando, em conseqüência, os níveis de nitrogênio no solo.
O Dr. Mulvaney cita também uma concepção errada de que ao fornecer nitrogênio através de fertilizantes sintéticos, haverá um aumento da matéria orgânica. Em suas pesquisas, ele provou que isso está errado, ao comparar amostras de solo de épocas bastantes diferentes.
Para fazer isso, ele pegou amostras de solo atuais, de 2020 e comparou com dados arquivados da área de testes de Morrow Plots de 1850. Ao fazer isso, o Dr. Mulvaney verificou que:
“O fertilizante de nitrogênio não aumentou a matéria orgânica, mas de fato queimou a matéria orgânica.”
Assim, além de testar regularmente o solo para verificar se há necessidade ou não de adubação com nitrogênio, é preciso que o agricultor repense os paradigmas que guiam o manejo de nutrição do solo.
Isso inclui pensar no uso de técnicas que favoreçam a saúde do microbioma e manutenção da matéria orgânica, como a rotação de culturas, e o uso de tecnologias de nutrição potássica sem cloro, como o K Forte®.
Dessa maneira, há melhoras nas taxas de fixação de nitrogênio, o solo se mantém preservado as plantações são nutridas com potássio de maneira adequada.