A deficiência de manganês nas plantas tem se tornado uma realidade de muitas regiões agrícolas brasileiras. Entenda a origem desse problema, quais são os sintomas de deficiência de manganês nas plantas e como evitá-los através de práticas adequadas de manejo e adubação do solo!
O que causa a falta de manganês nas plantas?
Nos últimos anos, a deficiência de manganês nas plantas tem se tornado um fator limitante para produção e qualidade de muitas culturas.
Para a cultura dos citros, por exemplo, levantamentos realizados pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) revelaram que cerca de um quarto das amostras de solo dos estados de São Paulo e Minas Gerais (Triângulo/Sudoeste) avaliadas pelos laboratórios da instituição apresentaram teores de manganês e boro inferiores ao adequado.
Essa também é uma realidade para o cultivo da banana em alguns estados, como o Amazonas. Nesse estado, mais de 60% dos bananais de “terra firme” são acometidos pelos sintomas de deficiência de manganês.
É o que observa o pesquisador Adônis Moreira, juntamente com seus colegas, no artigo Avaliação do estado nutricional de bananais cultivados no Estado do Amazonas.
Apesar de ser considerado um micronutriente, ou seja, ser exigido em pequenas quantidades pelas plantas, o seu fornecimento para as culturas é tão importante quanto o dos demais nutrientes.
Isso porque, segundo a Lei de Liebig, ou Lei do Mínimo, a produtividade de uma cultura é limitada pela ausência ou deficiência de qualquer um dos nutrientes essenciais para as plantas, mesmo que todos os outros estejam disponíveis em quantidades adequadas.
Em entrevista à Defesa Agropecuária do Governo de São Paulo, o pesquisador do IAC, Rodrigo Marcelli Boaretto, explicou que essa realidade pode ser atribuída a diferentes fatores, tais como:
- O cultivo de materiais mais exigentes em micronutrientes;
- O salto da produtividade das culturas;
- A precocidade da produção;
- As mudanças climáticas.
Mas, o que a falta de manganês causa nas plantas?
Quais os sintomas de deficiência de manganês nas plantas?
Um dos sintomas mais típicos de deficiência de manganês nas plantas é manifestado na forma de manchas amareladas entre as nervuras das folhas mais novas, conhecido pelo termo “clorose internerval”.
Inicialmente, os órgãos vegetativos mais jovens das plantas são os primeiros a apresentarem esse sintoma de deficiência, já que o manganês apresenta uma mobilidade muito reduzida no interior das plantas.
Com isso, elas não conseguem realocar internamente esse nutriente em condições de baixa disponibilidade de manganês no solo. Mas, por que as plantas vão apresentar o sintoma de clorose internerval?
A clorose internerval e os outros sintomas de deficiência de magnésio na planta são um reflexo das diversas funções que o manganês desempenha na planta, principalmente daqueles relacionados ao processo de fotossíntese e ao metabolismo antioxidante nas plantas.
No artigo Brittle leaf disease induces an oxidative stress and decreases the expression of manganese-related genes in date palm (Phoenix dactylifera L.), Mohammed Najib Saidi e outros pesquisadores apontam que baixos teores de manganês nas plantas podem levar à diminuição da taxa fotossintética e dos teores de clorofila.
Isso acontece porque as plantas sob deficiência de manganês tendem a apresentar danos na transferência de elétrons e no fotossistema II, dois componentes essenciais do processo de fotossíntese.
Esses danos geram uma condição de estresse oxidativo na planta, que compromete a estrutura e funcionalidade da principal organela vegetal onde ocorrem as reações da fotossíntese: o cloroplasto.
Além disso, como o manganês está envolvido com a ativação de uma das principais enzimas de resposta das plantas ao estresse oxidativo, a Superóxido Dismutase (SOD), esses danos podem se tornar irreversíveis.
Também existem diversas evidências científicas apontando que a deficiência de manganês pode comprometer a altura e a produção de biomassa das plantas, uma vez que esse nutriente está envolvido com a síntese de lignina, aminoácidos e diversos outros compostos das plantas.
É o que explicam Fernando Cebola Lidon e outros pesquisadores, no artigo Manganese accumulation in rice: implications for photosynthetic functioning.
Em umas das pesquisas conduzidas pelo renomado agrônomo Eurípedes Malavolta, foi observado que a deficiência de manganês comprometeu quase 70% da produção de matéria seca do sorgo granífero que não recebeu adubação com esse micronutriente.
Entretanto, é importante ressaltar que os sintomas de deficiência de manganês não podem ser utilizados como o único parâmetro para que seja constatada a baixa disponibilidade de manganês nas lavouras.
Segundo os pesquisadores Estêvão V. Mellis e José A. Quaggio, a cultura da cana-de-açúcar apresenta frequentemente o fenômeno da “fome oculta” em relação aos micronutrientes. Quando isso acontece, as plantas têm a sua produtividade limitada mesmo sem sintomas aparentes de deficiência.
É o que eles ressaltam no estudo Micronutrientes em cana-de-açúcar: a fome oculta dos canaviais.
Dessa forma, recomenda-se que o agricultor realize periodicamente as análises do solo e foliares dos seus talhões com os métodos mais adequados, a fim de manter uma boa disponibilidade de manganês para as plantas.
Além disso, as práticas de manejo do solo que favoreçam a disponibilidade do nutriente e a aplicação de fertilizantes adequados ajudam a evitar os problemas da deficiência de manganês na lavoura
As fontes de manganês para plantas
No mercado, diversas fontes de manganês se encontram à disposição do agricultor, cada uma com suas particularidades de uso e aplicação.
Fertilizantes mais solúveis em água, como os sulfatos e óxidos de manganês, tendem a ser mais recomendados para correção imediata de condições de deficiência. Isso porque eles possuem um elevado conteúdo de manganês associado a uma rápida disponibilização dos nutrientes para as plantas.
Entretanto, como mencionado anteriormente, não é recomendo que o agricultor espere que a lavoura apresente sintomas de deficiência de manganês para aplicar os fertilizantes, já que nessas condições as plantas já tiveram a sua produtividade e qualidade afetadas.
Na hora de escolher os fertilizantes para a lavoura, é preciso entender que existe uma diferença entre solubilidade e disponibilidade de nutrientes.
O bom manejo do manganês no solo começa muito antes da constatação de condições de deficiência no campo, através de práticas que favoreçam a qualidade do solo e a construção da sua fertilidade.
A adoção de práticas de manejo do solo que proporcionem menor compactação, promovam uma maior diversidade de microrganismos e melhorem a capacidade de retenção de água são importantes para melhorar a disponibilidade de manganês para as plantas.
Além disso, também é recomendado que o agricultor inclua no seu programa de adubação fertilizantes multinutrientes de liberação progressiva e com longo efeito residual para a construção da fertilidade do solo dos talhões.
Essas fontes de manganês conseguem promover uma maior estabilidade desse nutriente no solo ao longo do tempo e favorecer principalmente as culturas que absorvem o manganês praticamente durante todo o ciclo, como o algodão.
O bom manejo do manganês no solo é importante para evitar os sintomas de deficiência de manganês nas plantas
Em conclusão, podemos perceber que a inclusão de práticas adequadas de manejo e adubação com manganês são importantes ferramentas para evitar os sintomas de deficiência de manganês nas plantas.
Sintomas estes que podem afetar a fotossíntese, a atividade enzimática, a altura e a produção de biomassa das plantas, dentro outros aspectos.
Assim, é recomendado que o agricultor busque incorporar no seu manejo práticas agrícolas que favoreçam a qualidade e a fertilidade do solo, usando as fontes de manganês mais adequadas para favorecer a disponibilidade adequada desse nutriente para as plantas!