Mesmo com a recente recuo da cotação dos fertilizantes no mercado, muitos agricultores ainda estão optando por manter uma postura retraída em relação à compra de fertilizantes. Entretanto, especialistas apontam que essa decisão tem criado um gargalo logístico que poderá impactar negativamente nas próximas safras.
De acordo o recente levantamento trimestral realizado pela consultoria StoneX, as aquisições de fertilizantes para aplicação na safra de verão 2023/24, no segundo semestre deste ano, estão apresentando uma queda em relação ao mesmo período do ano anterior.
Isso mesmo em um cenário em que houve um recuo médio do preço de fertilizantes de até 70% em relação à safra passada, conforme apontou uma nota divulgada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária.
Então, o que justifica esse atraso na compra de fertilizantes e como esse cenário pode impactar nas próximas safras?
Como o mercado tem influenciado para o atraso na compra de fertilizantes
Segundo os especialistas da Argus Brasil Grãos e Fertilizantes, apesar do índice de relação de troca estar abaixo do índice registrado no mesmo período do ano passado, eles ainda não atingiram os mesmos patamares desejados pelos agricultores do ano de 2021.
Parte desse cenário pode ser atribuído à queda no preço das comodities. Nos últimos meses, por exemplo, bolsas importantes onde a soja é negociada, como a Bolsa de Valores de Chicago, têm registrado negociações do preço futuro em baixas e quedas constantes.
Além disso, a constante queda no preço dos fertilizantes e de outros insumos, como herbicidas, tem estimulado muitos agricultores a postergarem cada vez mais a compra desses insumos.
Portanto, existe uma possibilidade real de descasamento entre os preços internacionais de commodities agrícolas e os dos insumos, conforme aponta o pesquisador do núcleo de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro) André Diz.
Mas, diante desse cenário, esperar pode não ser a melhor alternativa para o agricultor.
Isso porque não existem garantias que o preço dos fertilizantes continuará caindo, visto a grande influência que as crises geopolíticas ainda têm no mercado de insumos do país. Principalmente, se considerarmos a continuidade:
- Do conflito entre Rússia e a Ucrânia;
- Da crise energética na União Europeia;
- Da instabilidade na região do Mar Negro.
Especialistas também apontam que caso os agricultores esperem até o último minuto para realizar a compra de fertilizantes, eles podem enfrentar uma série de problemas logísticos e de disponibilidade de caminhões para a entrega dos insumos.
A BR-277, por exemplo, que é principal porta de entrada de fertilizantes no país, foi parcialmente bloqueada no início do ano devido às chuvas e ainda apresenta uma série de problemas estruturais.
Além disso, mesmo com a baixa demanda por frete rodoviário, o preço do frete de fertilizantes para algumas regiões do Brasil está em alta e pode aumentar ainda mais com a intensificação do escoamento de fertilizantes para a safra 2023/2024.
E caso haja um agravamento desse gargalo logístico, o agricultor ainda pode enfrentar um severo atraso na entrega de fertilizantes importados que pode colocar em jogo a produtividade das safras futuras.
Cenário esse que é muito crítico, visto que os agricultores já utilizaram grande parte dos estoques de nutrientes no solo com a alta do preço de fertilizantes do ano passado, que levou a redução da compra e aplicação de alguns insumos.
Como evitar o gargalo logístico e o atraso na entrega de fertilizantes?
Haja vista essas perspectivas do mercado de compra e entrega de fertilizantes no país, recomenda-se que o agricultor faça um planejamento cauteloso da adubação da sua lavoura, considerando todas as variáveis que têm afetado o mercado de compra e entrega de fertilizantes no país.
Nesse sentindo, também é importante que haja o fortalecimento e investimento em empresas de fertilizantes nacionais, com capacidade de entrega imediata, para evitar os problemas do gargalo logístico que os agricultores brasileiros já vêm enfrentando com a aquisição de fertilizantes importados.
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