A citricultura é considerada uma atividade agrícola de grande importância econômica e social para o Brasil, gerando cerca de 1,5 bilhão de dólares anuais e mais de 500 mil empregos diretos e indiretos. Entretanto, o clima do país favorece muito a incidência de pragas que podem prejudicar a produção e qualidade dos frutos produzidos. Descubra quais são as principais pragas dos citros e as características do manejo de cada uma delas!
Quais as principais pragas que afetam a citricultura?
Durante a sua evolução, os citros sempre tiveram que coexistir com diversas pragas por terem origem em regiões tropicais e subtropicais.
Contudo, dentro do contexto da citricultura comercial, essa coexistência muitas vezes precisa ser manejada e controlada para evitar perdas que comprometam a sustentabilidade financeira da atividade.
Dentre as principais pragas dos citros que podem ocorrer em um pomar, podemos destacar alguns grupos de acordo com a fase de desenvolvimento da cultura mais afetada ou o tipo de dano causado:
1. As cochonilhas, os pulgões e o bicho minador dos citros
Nas fases iniciais de desenvolvimento das plantas cítricas, existem 3 grupos de pragas capazes de comprometer o crescimento e, consequentemente, o futuro potencial produtivo dos pomares. Eles são as cochonilhas, os pulgões e o bicho minador dos citros.
Essas 3 pragas dos citros são conhecidas por atacar principalmente as brotações novas e inflorescências, podendo causar danos severos principalmente nos pomares com plantas mais jovens.
No caso das cochonilhas e pulgões, os danos causados às plantas estão relacionados ao hábito de alimentação dessas pragas, que sugam a seiva e injetam toxinas nas plantas, podendo causar:
- O fendilhamento longitudinal da casca, quando o ataque acontece no tronco;
- O encarquilhamento e surgimento de manchas amareladas nas folhas;
- A queda precoce de folhas e frutos;
- A morte de ramos novos.
Além disso, especificamente no caso dos pulgões, eles podem induzir o aparecimento da fumagina sobre a superfície das folhas, um fungo de cor escura que se alimenta dos líquidos açucarados excretados por eles e que prejudica a fotossíntese das plantas. Sendo esse mesmo efeito gerado pela presença da mosca branca, uma outra praga dos citros.
Outro fato sobre os pulgões é que eles também são considerados um importante vetor do vírus da tristeza dos citros (Citrus tristeza virus).
O pulgão preto é uma praga dos citros e vetor do vírus fitossanitário patogênico citros tristeza virus (Fonte: LIMA, 2017 – Embrapa Amapá)
Dentre as espécies de pulgões e cochonilhas que mais causam danos na citricultura, destacam-se:
- As cochonilhas com carapaça Pardinha (Selenaspidus articulatus), Parlatória (Parlatoria spp.) e Escama-Farinha (Unaspis citri);
- As cochonilhas com carapaça Ortézia (Orthezia praelonga) e branca (Pseudococcus citri);
- Os pulgões verdes (Aphis spiraecola) e pretos (Toxoptera citricida).
Já no caso do bicho minador dos citros (Phyllocnistis citrella), grande parte dos seus danos a essa cultura estão relacionados a redução da área fotossintética de plantas.
Isso acontece porque as lagartas dessa praga dos citros se alimentam principalmente das folhas das plantas, causando o enrolamento e queda precoce desses órgãos e a necrose dos tecidos internervais.
Outro prejuízo causado pelo bicho minador dos citros está associado à transmissão da bactéria causadora do cancro cítrico. Estudos indicam que a presença dessa praga pode aumentar em até 50% a incidência dessa doença nos talhões.
De forma geral, quanto mais cedo forem detectados os focos de cochonilhas, pulgões ou do bicho minador dos citros nos pomares, maior será a eficiência das medidas de controle que podem ser feitas para cada uma dessas pragas dos citros.
O uso de podas de limpeza e do controle biológico, associado ao uso do controle químico, em condições de infestações mais severas, têm se mostrado estratégias de controle bem eficientes no campo.
É importante observar, no entanto, que essas estratégias devem ser feitas no momento correto, com a frequência adequada e sempre seguindo todas as recomendações técnicas de cada método.
2. As moscas das frutas
As moscas das frutas estão entre as pragas dos citros de maior expressão econômica na fruticultura mundial, uma vez que afetam diretamente a qualidade da principal parte comercializada dos citros: os frutos.
Durante o seu estágio larval, que acontece dentro dos frutos, as larvas das moscas das frutas vão causando a deterioração progressiva desse órgão, seja pelo seu consumo direto, seja pelo crescimento de fungos e bactérias. E isso acaba causando:
- A redução da produção e da qualidade dos frutos;
- A desuniformidade da maturação dos frutos;
- A queda precoce dos frutos.
Outra característica que torna essa praga dos citros tão nociva aos pomares é o seu grande número de hospedeiros e o seu potencial de reprodução.
No Brasil, existem 3 principais espécies de moscas das frutas que podem afetar os pomares de citros, assim como outras culturas. São elas:
- Mosca da mandioca (Neosilba spp.);
- Mosca do mediterrâneo (Ceratitis capitata);
- Mosca sul americana (Anastrepha fraterculus);
Cada uma delas pode ser identificada pelas suas distintas características anatômicas, que são diferentes para cada espécie.
A mosca sul americana, por exemplo, apresenta uma colocação predominantemente amarelada e apresenta três faixas nas asas, em formato de S e V invertido. Já a mosca do mediterrâneo apresenta um tórax negro com manchas esbranquiçadas e asas com pontuações negras.
Características da mosca sul americana Anastrepha fraterculus, uma praga dos citros (Fonte: LANZETTA, 2013 – Embrapa Clima Temperado)
Apesar de apresentar espécies distintas, as moscas das frutas possuem forma de manejo e controle muito similares.
O primeiro deles consiste no controle preventivo, fazendo o plantio de barreiras verdes nos limites dos talhões e adquirindo mudas de empresas idôneas, para evitar o estabelecimento dessa praga dos citros nos pomares.
Entretanto, caso algumas espécies já estejam presentes, o agricultor deve fazer o monitoramento das suas populações através de armadilhas, que também são consideradas uma forma de controle das moscas das frutas.
Caso as populações desse inseto-praga atinjam níveis que justifiquem o seu controle, o agricultor pode utilizar agentes de controle biológico ou inseticidas fosforados associados a óleos minerais.
3. Os ácaros
Outra praga dos citros que é capaz de gerar a queda precoce dos frutos são os ácaros, um grupo de pragas conhecido por se alimentar de diversas plantas e transmitir doenças de grande importância econômica na fruticultura.
Algumas espécies de ácaros podem ser vetores de fitopatógenos capazes de reduzir tanto a produtividade, quanto a vida útil das árvores dos pomares. Esse é o caso do ácaro Brevipalpus phoenicis, que é considerado o principal vetor do vírus responsável pela leprose dos citros.
De acordo com o levantamento realizado na safra 2019/2020 pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), somente a leprose dos Citros foi responsável por gerar a perda de quase 6 milhões de caixas de frutos.
Além do ácaro da leprose dos citros, existem outras espécies de ácaros que podem ser encontradas nos pomares, como o ácaro da falsa ferrugem (Phyllocoptruta oleivora), o ácaro purpúreo (Panonychus citri) e o ácaro rajado (Tetranychus urticae).
E, para saber qual delas está presente nos talhões, os agricultores observam algumas diferenças visuais que o ataque dessas pragas dos citros causa nas plantas.
Enquanto a infestação do ácaro da falsa ferrugem é detectada pela presença de uma camada esbranquiçada sobre folhas e frutos, por exemplo, o ácaro purpúreo é detectado principalmente através da identificação visual dessa praga, que apresenta uma coloração vermelho intensa e pode ser encontrada na face superior das folhas.
Para evitar a infestação dos ácaros nos pomares, muitos citricultores adotam medidas preventivas de controle, como desinfestação de equipamentos, veículos e caixas de colheita e a compra mudas sadias de viveiros certificados.
Entretanto, uma vez já estabelecida nos pomares, essa praga dos citros pode ser controlada com a introdução de inimigos naturais, a aplicação de acaricidas e o uso de cobertura verde com plantas que desfavorecem o crescimento populacional dos ácaros, como o mentrasto (Ageratum conyzoides).
O fungo Hirsutella é um exemplo de agente de controle biológico altamente eficiente para controle de ácaros.
4. As cigarrinhas e os psilídeos
Assim como os ácaros, as cigarrinhas e os psilídeos são considerados outro importante grupo de pragas dos citros capazes de transmitir doenças de difícil controle.
Esse é o caso de algumas espécies de cigarrinhas da subfamília Cicadellinae, que são capazes de transmitir a bactéria causadora da doença Clorose Variegada dos Citros (CVC), e da espécie de psilídeo Diaphorina citri, que é o vetor da bactéria causadora do greening (HLB).
A CVC é uma doença capaz de inviabilizar a comercialização dos frutos, já que eles se tornam pequenos, endurecidos e com um amadurecimento precoce.
Já no caso do greening, grande parte dos seus prejuízos para os pomares estão relacionados a queda prematura dos frutos ou a falta de produção das árvores afetadas, que morrem com o tempo.
Segundo o professor responsável pela área de Manejo Integrado de Pragas do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), Dr.. Pedro Yamamoto, tanto a CVC quanto o greening tiveram dois grandes marcos na história citricultura brasileira:
“O primeiro evento de 1987 foi a descoberta da Clorose Variegada dos Citros (CVC), conhecida como ‘amarelinho’, no estado de São Paulo, e posteriormente a sua relação com as cigarrinhas, o que aumentou o número de inseticidas para combater esse inseto vetor da doença. Já em 2004, foi constatado o greening, aumentando ainda mais o número e aplicações de inseticidas para o controle dos psilídeos.”
Contudo, o uso excessivo dos inseticidas para o controle dessas pragas dos citros acabou gerando um desequilíbrio nos agroecossistemas e fez com que outras pragas ganhassem destaque, especialmente ácaros, cochonilhas e lagartas.
Por isso, grande parte do manejo dessas doenças e controle dos seus respectivos vetores consistem na integração de diferentes estratégias.
A primeira delas consiste em fazer um alinhamento de plantio diferenciado na bordadura do restante do pomar, para facilitar a identificação e controle das cigarrinhas e psilídeos e das plantas afetadas.
Outra estratégia consiste na utilização de inimigos naturais dessas pragas dos citros, sendo utilizada a vespinha Tamarixia radiata para o controle dos psilídeos e do fungo Metarhizium anisopliae para controle das cigarrinhas.
Além disso, visto a grande disseminação dessas doenças no Brasil, é muito importante que seja feito um trabalho cooperativo entre citricultores dentro e fora da propriedade, buscando plantar mudas sadias e eliminar plantas doentes.
O manejo de pragas dos citros deve acontecer dentro e fora da fazenda
Em conclusão, podemos perceber que existem diversas pragas dos citros que podem afetar a produtividade e qualidade dos pomares e cada uma delas apresenta suas particularidades de manejo e controle.
Entretanto, para que elas sejam realmente efetivas, é necessário que o agricultor considere sempre aplicar as diferentes estratégias de controle das pragas dos citros de forma integrada com a comunidade local.
Aqui é importante destacar que esse efeito só será alcançado se as demais práticas do sistema de produção dos citros, como a nutrição das plantas, estiverem devidamente ajustados.
Dessa forma, ele poderá potencializar a eficiência das diferentes estratégias de controle de pragas na sua propriedade e evitar que novas infestações ocorram em um curto espaço de tempo!