Conheça quais são as principais pragas do eucalipto

Conheça quais são as principais pragas do eucalipto

Desde a introdução do eucalipto no Brasil no século XIX, essa cultura passou por um longo processo de adaptação, se tornando hoje uma das árvores mais cultivadas no país. Entretanto, esse processo de adaptação também se deu para as pragas, que migraram para o eucalipto e têm causado impactos severos na produção dos plantios florestais. Conheça quais são as principais pragas do eucalipto e como fazer o seu manejo a campo!

Os insetos-pragas exóticos e nativos que ocorrem no eucalipto

Segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Florestas (Abraf), o Brasil hoje conta com mais de 5 milhões de hectares de árvores de eucalipto destinados para as mais diversas finalidades, como a produção de madeira para serraria, papel, celulose e carvão.

Entretanto, anualmente, parte dessa produção acaba sendo comprometida pela presença de pragas do eucalipto, especialmente nas diversas áreas de monocultivo espalhadas pelo país.

As extensas áreas de eucalipto acabaram favorecendo o estabelecimento e a dispersão de diversas espécies de insetos-pragas nos plantios florestais, sendo que muitas delas se adaptaram e migraram para o eucalipto a partir de espécies de plantas nativas da família Myrtaceae, presentes no país.

Além disso, muitas pragas do eucalipto exóticas já introduzidas no Brasil também acabam sendo outra fonte de grande ameaça para a produção comercial dessa cultura.

Mas, quais são esses insetos-pragas exóticos e nativos que ocorrem no eucalipto?

1. As formigas cortadeiras e os insetos desfolhadores

As formigas cortadeiras são consideradas uma das principais pragas do eucalipto, afetando o desenvolvimento dessa cultura durante praticamente todo o seu ciclo produtivo ao longo dos anos.

No Brasil, os dois principais gêneros que apresentam uma grande importância econômica aos plantios de eucalipto são os gêneros Atta e Acromyrmex, conhecidos popularmente como saúvas e quenquéns, respectivamente.

A diferenciação entre eles geralmente se dá através da observação das formigas e dos ninhos: as saúvas apresentam três pares de espinhos no tórax e têm seus ninhos recobertos por grandes montes de terra solta.

Já as quenquén apresentam de quatro a cinco pares de espinhos no tórax e podem ou não ter um volume menor de terra solta ou ciscos sobre o ninho.

A maior parte do dano provocado por essas pragas do eucalipto está associada ao seu hábito de forrageamento, recolhendo grandes volumes de folhas e pequenos galhos para o interior do ninho principalmente no período da noite.

Dentro do ninho, esse material forrageado é direcionado para a manutenção dos fungos cultivados pelas formigas cortadeiras, que servem como alimento para a colônia.

Entretanto, como as colônias de formiga podem atingir de 3 a 8 milhões de indivíduos, a quantidade de material forrageado pode acabar tendo um impacto severo sobre o crescimento e a produtividade do eucalipto.

Estima-se que algumas espécies de eucalipto desfolhadas totalmente após o plantio podem perder de 18,9% a 20% do crescimento em diâmetro e de 12% a 13% em altura. E, mesmo para aquelas plantas em idades mais avançadas, com mais de 4 anos, as perdas de volume de madeira por desfolha podem alcançar mais de 40%.

É o que observaram Wilson Reis Filhos e seus colegas pesquisadores, no artigo Danos causados por diferentes níveis de desfolha artificial para simulação do ataque de formigas cortadeiras em Pinus taeda e Eucalyptus grandis.

Um dos principais métodos para o controle de formigas cortadeiras consiste na realização do controle químico usando iscas granuladas à base de sulfluramida ou fipronil. Entretanto, somente o seu uso não garante um controle efetivo das populações desse inseto-praga.

Por isso, recomenda-se que o controle químico esteja sempre associado a outras práticas indicadas para o eucalipto dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP), como a aplicação de silício.

O silício é um elemento benéfico que tem cada vez ganhado mais espaço no manejo integrado de pragas, podendo ajudar também no controle das formigas cortadeiras

Além das formigas cortadeiras, existem outras pragas do eucalipto que também causam danos associados a desfolha das árvores. Elas são os grilos, as lagartas, os besouros e os gorgulhos.

Grande parte desses insetos são considerados altamente prolíferos, ou seja, apresentam uma capacidade de se reproduzir em grandes quantidades caso as condições ambientais sejam adequadas.

Por isso, surtos dessas pragas do eucalipto podem se tornar muito recorrentes caso o seu manejo e controle não sejam adequados.

Normalmente, o controle de insetos desfolhadores consiste no intenso monitoramento associado ao uso de agentes de controle biológico, como parasitoides de ovos e fungos entomopatogênicos.

2. Os cupins

Diferentemente das formigas cortadeiras e dos insetos desfolhadores, os cupins são uma das pragas do eucalipto de difícil previsão de ocorrência, por ficarem no solo durante todo o seu ciclo de vida.

Os cupins são capazes de formar uma complexa rede de galerias no solo, que pode ser mais dispersa ou localizada dependendo da espécie.

A espécie de mais fácil identificação geralmente é o cupim de montículo (Cornitermes cumulans), que se alimenta de madeira morta e apresenta como característica marcante um grande ninho de barro elevado sobre a superfície do solo.

Mas também existem algumas espécies que não apresentam uma estrutura de ninho tão marcante, como o cupim de solo (Syntermes sp.) e o cupim de cerne (Coptotermes testaceus).

O cupim de cerne, por exemplo, constrói seus ninhos no solo e penetram o eucalipto através das raízes, nos locais de apodrecimento da casca, na derrama de galhos e onde o cilindro central fica exposto, causando o broqueamento do cerne de árvores.

Vale notar que dano causado por essa praga do eucalipto é diretamente proporcional ao aumento do diâmetro da árvore.

Na maioria dos casos, o controle de cupins é realizado de forma preventiva com a imersão de mudas em solução inseticida e o seu monitoramento pode ser feito com a instalação de iscas de papelão no solo.

Como geralmente os focos de infestação de cupins são pontuais, o uso de outros métodos de controle localizados tem se mostrado bem eficiente a campo.

Entretanto é importante ressaltar que, no caso do cupim de montículo, é preciso ter cuidado com algumas práticas de manejo do eucalipto que envolvem o revolvimento do solo, já que isso pode aumentar a disseminação dos cupins na área.

Por isso, é importante que antes dessas práticas, o agricultor faça o controle dos ninhos aplicando, por exemplo, produtos à base de endossulfan, fipronil ou clorpirifós na câmara de celulose do ninho com a ajuda de uma enxada ou um vergalhão tipo sonda JP.

3. Os psilídeos e os percevejos

Outras pragas do eucalipto que são de grande relevância econômica para essa cultura são os insetos sugadores, como os psilídeos e os percevejos.

Ambos possuem um aparelho bucal sugador que, quando inserido no tecido vascular das plantas, retira água e nutrientes diretamente da seiva da planta causando:

  • O enfraquecimento e a perda de vigor do eucalipto;
  • A deformação e a queda prematura das folhas;
  • A retardação do crescimento das árvores;
  • A diminuição da produtividade.

Além dos danos pela alimentação, os psilídeos também podem causar danos indiretos às plantas, particularmente quando as populações são numerosas.

Isso porque eles são capazes de secretar uma substância açucarada que favorece o crescimento de fungos sobre as folhas do hospedeiro, dificultando a fotossíntese das plantas.

É o que explicam Leonardo Rodrigues Barbosa e outros pesquisadores, no capítulo Pragas de eucaliptos do material O eucalipto e a Embrapa: quatro décadas de pesquisa e desenvolvimento.

No Brasil, além de existirem espécies nativas de outras culturas que migraram para o eucalipto, existem relatos da introdução de diversas espécies exóticas já introduzidas no país que tem comprometido o desenvolvimento da cultura.

Esse é o caso do psilídeo-dos-ponteiros-do eucalipto (Ctenarytaina spatullata) e do percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus), ambos considerados pragas exóticas do eucalipto.

Adulto e ninfas de percevejo bronzeado do eucalipto (Thaumastocoris peregrinus)

Adulto e ninfas de percevejo bronzeado do eucalipto (Thaumastocoris peregrinus) (Fonte: Barbosa, L. R. – Embrapa Florestas)

Como tanto os percevejos quanto os psilídeos se encontram em uma região de difícil acesso nas árvores, o controle biológico clássico tem sido a principal estratégia adotada nos plantios florestais.

Nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais por exemplo, a liberação do parasitoide de ovos de percevejo Cleruchoides noackae tem demostrado uma grande contribuição para a redução das infestações e consequentes danos causados pela praga, obtendo taxas de parasitismo próximas a 50%.

É o que observaram Leonardo Rodrigues Barbosa e outros pesquisadores, no artigo Establishment in the field of Cleruchoides noackae (Hymenoptera: Mymaridae), an exotic egg parasitoid of Thaumastocoris peregrinus (Hemiptera: Thaumastocoridae).

4. A microvespa-do-eucalipto-citriodora e a vespa-de-galha-do-eucalipto

Por fim, não podemos deixar de destacar duas pragas do eucalipto que têm causado prejuízos consideráveis aos cultivos do país: a microvespa-do-eucalipto-citriodora e a vespa-de-galha-do-eucalipto

A microvespa-do-eucalipto-citriodora (Epichrysocharis burwelli), como o próprio nome sugere, é uma praga exclusiva da espécie de eucalipto Corymbia citriodora, que é destinada principalmente para a produção de óleos essenciais.

Quando presente em um plantio florestal, essa praga do eucalipto pode comprometer até 80% da produção de óleo nas folhas provenientes de plantações atacadas.

Isso porque ela provoca a formação de pequenas galhas globosas nas folhas durante o processo de ovoposição que servem de entrada para patógenos e comprometem as vesículas produtoras de óleos.

Apesar de ainda não haver nenhuma técnica registrada no Brasil para o controle da microvespa-do-eucalipto-citriodora nos plantios comerciais, nos Estados Unidos já é difundido o uso do controle químico localizado da espécie em arranjos florais.

Já no caso da vespa-de-galha-do-eucalipto (Leptocybe invasa), os danos causados por essa praga do eucalipto também estão relacionados a formação de galhas nos tecidos das plantas.

Porém, essas galhas acabam induzindo alterações estruturais e químicas nos tecidos das plantas que podem reduzir o crescimento de mudas e árvores e eventualmente resultar na morte de mudas.

Para o controle da vespa-de-galha-do-eucalipto, já existem difundidos diversos métodos de controle cultural, como:

  • O descarte de mudas com sinais de galhas na produção de mudas;
  • A poda de ponteiros e ramos de plantas atacadas no campo.
  • O corte de ponteiros das minicepas no minijardim clonal;

Entretanto, essas práticas não têm sido eficientes em condições de surto populacional da praga.

Por isso o desenvolvimento de clones resistentes e o controle biológico têm se mostrado as duas principais estratégias utilizadas para minimizar e controlar as populações dessa praga do eucalipto.

O controle de pragas do eucalipto exige o monitoramento periódico das plantações

Em conclusão, podemos perceber que diversas pragas do eucalipto podem afetar a produção dos plantios florestais, prejudicando tanto a produção de madeira, quanto os subprodutos obtidos a partir de outras partes do eucalipto, como as folhas.

Portanto, é importante que o agricultor esteja periodicamente fazendo o monitoramento dos seus viveiros e talhões, para observar se as populações das pragas do eucalipto já atingiram o nível de controle necessário para adoção das diferentes medidas descritas no Manejo Integrado de Pragas (MIP) para essa cultura.

Medidas essas que envolvem o uso de agentes de controle biológico, práticas de controle cultural, o plantio de variedades resistentes, a aplicação de doses corretas de fertilizantes, dentre outras práticas.

Assim, ao realizar o controle adequado e eficiente das pragas do eucalipto com a integração de diferentes práticas de controle, o agricultor garante que a produção do seu cultivo de eucalipto atinja o seu máximo potencial produtivo!

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