Ferrugem asiática como esta doença pode limitar a produtividade da cultura da soja

Ferrugem asiática: como esta doença pode limitar a produtividade da cultura da soja?

A ferrugem asiática está entre as doenças de maior importância da cultura da soja na atualidade, pois ainda causa perdas expressivas de produção de soja no Brasil. Mas, por que isso acontece? Entenda como a ferrugem asiática da soja pode limitar a produtividade da cultura e quais estratégias podem ser usadas para o seu controle! 

O que causa a ferrugem asiática?

Identificada pela primeira vez no Brasil em 2001, a ferrugem asiática é uma doença da soja causada pelo Phakopsora pachyrhizi, um fungo micoparasita obrigatório que depende da presença de hospedeiros para completar seu ciclo de vida. 

Esse fungo fitopatogênico, sob condições adequadas de temperatura e de umidade, é capaz de infectar os tecidos das plantas e provocar danos estruturais irreversíveis, especialmente nas folhas. 

Isso acontece porque ele é capaz de produzir um grande número de esporos logo abaixo da epiderme da face inferior das folhas, em estruturas de reprodução conhecidas como urédias ou pústulas. 

No início desse processo, essas estruturas de reprodução do fungo causador da ferrugem asiática podem ser visualizadas como minúsculas pontuações cinza-esverdeadas mais escuras que o tecido sadio das folhas do terço inferior das plantas.  

Entretanto, com o acúmulo progressivo dos esporos no interior dos tecidos infectados, essas pontuações se tornam saliências semelhantes a pequenas feridas ou bolhas que se rompem sob condições favoráveis à disseminação do patógeno da lavoura. 

Estima-se que, sob condições favoráveis, o agente causal da ferrugem asiática leva apenas de 6 a 9 dias para completar o seu ciclo de vida. E essa característica, aliada à sua fácil dispersão pelo vento, faz com que ele seja um agente patogênico muito agressivo para a cultura da soja. 

Sintomas da ferrugem asiática em folhas de soja (A, B, C) e características das estruturas reprodutivas (D e E) do agente causal da doença, o fungo Phakopsora pachyrhizi

Sintomas da ferrugem asiática em folhas de soja (A, B, C) e características das estruturas reprodutivas (D e E) do agente causal da doença, o fungo Phakopsora pachyrhizi (Fonte: JUNIOR, 2011)

Com o aumento das lesões foliares provocadas pelo P.pachyrhizi, as folhas da soja começam a amarelar e cair precocemente. 

Caso a desfolha precoce da soja ocorra durante o estádio de desenvolvimento vegetativo da cultura, é muito comum que as plantas apresentem um desenvolvimento mais lento quando comparadas às plantas saudáveis. Consequentemente, há uma redução do seu potencial produtivo. 

Esse sintoma é um reflexo da grande contribuição que as folhas têm para a fotossíntese das plantas, o principal processo pelo qual as plantas obtêm a energia necessária para o seu crescimento e desenvolvimento. 

Agora, caso a desfolha precoce da folha causada pela ferrugem asiática coincida com o estádio de desenvolvimento reprodutivo da cultura, os danos diretos à produtividade da soja podem ser ainda mais pronunciados. 

Segundo o Consórcio Antiferrugem da Embrapa Soja, uma iniciativa criada com o objetivo de monitorar e realizar ensaios cooperativos sobre a ferrugem asiática da soja, essa doença pode impedir a completa formação dos grãos e causar perdas de até 90% de produtividade se não controlada. 

Por isso, a adoção de medidas adequadas de controle dessa doença é tão importante para assegurar a alta produtividade da soja. 

Como controlar a ferrugem asiática?

Um bom programa de controle da ferrugem asiática da soja começa com o monitoramento foliar adequado da entrada e progressão dessa doença na lavoura. 

No comunicado técnico da Embrapa Boas práticas para o enfrentamento da ferrugem-asiática da soja, Cláudia Vieira Godoy e outros pesquisadores recomendam realizar o monitoramento da forma mais abrangente possível, iniciando-o a partir da emergência das plântulas e intensificando-o: 

  • Próximo ao florescimento, para cultivares de soja de tipo determinado; 
  • Próximo ao fechamento das ruas de semeadura, para cultivares de soja de tipo indeterminado. 

Durante o monitoramento das lavouras, o agricultor deve procurar por pontuações escuras nas folhas coletadas dos terços médio e inferior das plantas de soja.  

Caso não seja possível visualizar claramente esse sintoma, os pesquisadores da Embrapa recomendam que as folhas coletadas sejam colocadas dentro de um saco plástico com um pouco de ar por até 24h. 

É importante que, antes de fechar o saco plástico, sejam inseridos um pedaço de papel ou algodão umedecidos para permitir a criação de um ambiente que irá favorecer um maior acúmulo e melhor visualização das estruturas de reprodução do fungo. 

Complementarmente a avaliação foliar, o agricultor também pode usar plataformas digitais e aplicativos que monitorem a maior chance de ocorrência da ferrugem da soja baseada nas condições da temperatura e umidade relativa do ar e da duração do molhamento.  

Uma dessas plataformas disponíveis de forma gratuita é o Agroconnect, um sistema de monitoramento e difusão de avisos e alertas agrometeorológicos desenvolvido pela Epagri/Ciram. 

Além das estratégias de monitoramento da ferrugem asiática na lavoura, também é importante que o agricultor sempre busque adotar preventivamente medidas de controle integradas que impeçam ou minimizem a entrada da doença nos talhões. Dentre as quais, podemos destacar: 

  • A semeadura da soja no início da época recomendada para a sua região e em uma densidade de plantas que permita bom arejamento das plantas; 
  • A realização do vazio sanitário de acordo com a sua região de produção; 
  • A utilização de cultivares precoces de soja e com gene(s) de tolerância; 
  • A eliminação de plantas voluntárias de soja na entressafra. 

Mas, como proceder se a doença já estiver presente na lavoura? Se mesmo com a adoção das medidas citadas acima houver focos de incidência da ferrugem asiática da soja em níveis que justifiquem o seu controle, o manejo dessa doença pode ser feito com a adoção das boas práticas de aplicação de fungicidas e nutrição de plantas. 

Como pode ser feito o controle da ferrugem asiática com a aplicação de fungicidas e de silício?

Segundo o Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas (FRAC), uma das boas práticas mais importantes para garantir a eficiência do controle químico da ferrugem asiática da soja é o revezamento dos princípios ativos dos fungicidas utilizados.  

Isso sempre respeitando o período de carência e o uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). 

Tal medida é necessária porque, por mais que exista uma diversidade aparente de marcas e produtos, o mesmo não acontece com os princípios ativos. 

Os princípios ativos se referem às moléculas que exercem os efeitos esperados com o produto e geralmente a utilização incorreta desses princípios ativos fazem com que as pragas e fitopatógenos desenvolvam mecanismos de resistência a eles ao longo do tempo. 

O conceito é bem simples: se aplicarmos sempre o mesmo princípio ativo, podemos acabar selecionando os fungos mais resistentes, eles vão se reproduzir, e na próxima safra esse mesmo fungicida perderá a eficiência de controle.  

De acordo com os dados da FRAC (Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas), os episódios históricos mais marcantes da resistência do fungo causador da ferrugem asiática a aplicação de fungicidas foram: 

  • Na safra 2007/08, em que foi detectada menor sensibilidade do fungo causador da ferrugem-asiática aos “triazóis”; 
  • Na safra 2013/14, em que foi observada a redução de eficiência das estrobilurinas; 
  • Na safra 2016/17, em que foi observada a redução de eficiência alguns fungicidas com carboxamidas em ensaios cooperativos. 

Portanto, por existir essa relação direta entre a resistência do fungo e a aplicação de produtos sem variação dos princípios ativos, a utilização de produtos isolados não é a mais indicada para o controle da ferrugem asiática. 

Além do controle químico, estudos recentes também demonstram que a aplicação de silício na soja pode se tornar outra estratégia importante para o controle dessa doença. 

A nutrição com silício está entre as técnicas de manejo que já comprovaram sua eficácia para o controle da ferrugem asiática.

Pesquisas realizadas nos últimos anos têm demonstrado que o silício é capaz de aumentar os níveis de substâncias pigmentantes que são importantes para a fotossíntese das plantas e reduzir os efeitos dos sintomas da ferrugem asiática. 

É o que observaram o Prof. Fabrício de Ávila Rodrigues e outros pesquisadores do Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Viçosa, no artigo Asian Soybean Rust Control on Soybean Sprayed with a New Source of Soluble Silicon. 

Outro benefício da aplicação desse elemento benéfico na soja está relacionado à redução dos sintomas da ferrugem asiática, uma vez que ele potencializa os mecanismos de defesa da planta à infecção por patógenos e ainda é capaz de formar uma barreira física que evita a penetração de fungos patogênicos. 

É o que observaram Maria Fernanda Antunes da Cruz e outros pesquisadores, no artigo Silício no processo infeccioso de Phakopsora pachyrhizi em folíolos de plantas de soja. 

Processo infeccioso do agente causal da ferrugem (Phakopsora pachyrhizi) em folíolos de plantas de soja sem (A, B e E) e com a aplicação de silício (C, D e F)

Micrografias de luz e eletromicrografias de varreduras evidenciando a diferença do processo infeccioso do agente causal da ferrugem (Phakopsora pachyrhizi) em folíolos de plantas de soja sem (A, B e E) e com a aplicação de silício (C, D e F) (Fonte:Cruz et al, 2012)

Portanto, o uso em conjunto das boas práticas do controle químico da ferrugem asiática com a aplicação de silício são importantes recursos que o agricultor pode usar para controlar essa doença e mitigar os seus impactos na produtividade da soja. 

A ferrugem asiática pode ser controlada com a adoção de diferentes estratégias

Em resumo, a ferrugem asiática é considera uma doença de grande importância econômica para a soja, visto a sua fácil dispersão, difícil controle e potencial para causar perdas significativas de produção da soja. 

Por isso, o agricultor deve estar periodicamente fazendo o monitoramento das suas lavouras e adotando medidas preventivas que impeçam ou minimizem a entrada dessa doença nos talhões. 

Além disso, caso a ferrugem asiática já esteja presente em níveis que justifiquem o seu controle na soja, o agricultor pode adotar o uso conjunto de fungicidas com a nutrição com silício para controlar e evitar a progressão da doença nos talhões! 

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