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Como a polinização contribui com a produtividade da soja

Aumentar a produtividade das lavouras de soja de maneira sustentável e lucrativa é um grande desafio para os agricultores. Estudos recentes da EMBRAPA mostram que a polinização pode contribuir neste sentido.

Para falar sobre esse assunto, o engenheiro agrônomo e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Décio Gazzoni, participou do “Encontro com Gigantes – A importância da polinização para a produtividade da soja”.

O evento foi promovido pela Verde, empresa que produz os fertilizantes multinutrientes BAKS, K Forte®, K Forte Boro e Silício Forte, no dia 11 de fevereiro de 2021.

Você pode conferir a conversa, mediada por Fernanda Santos, na íntegra pelo link:

A soja e a polinização

Por ser uma cultura de grande relevância para o agronegócio brasileiro, já que o Brasil lidera a produção mundial de soja com representatividade de 36% no mercado global, são recorrentes os investimentos do setor no campo da pesquisa em busca de novas tecnologias que favoreçam a produtividade.

Décio Gazzoni, junto a sua equipe da EMBRAPA, estuda os polinizadores como uma promissora alternativa capaz de potencializar a produtividade e a lucratividade da soja de forma sustentável:

“Não é apenas o benefício financeiro direto, isso também significa que nós podemos aumentar a produtividade, sem ter que aumentar a área de produção, sem ter que avançar em áreas novas, o que sempre gera algum tipo de conflito ambiental.”

O pesquisador apontou que por muitos anos esse campo de estudo acabou sendo subestimado, já que a atuação dos polinizadores teria pouco impacto na soja por se tratar de uma planta cleistogâmica, em que grande parte da polinização ocorre na forma de autopolinização.

Porém, as realizações de novos estudos apontaram incrementos significativos a depender do potencial produtivo das variedades de soja. Para aquelas tidas como de baixo potencial produtivo, ou seja, que estão abaixo da média de produção nacional, pouca variação na produtividade foi observada com a introdução dos polinizadores.

Já para as variedades de soja altamente produtivas, que estão acima da média de produção nacional, o ganho foi expressivo:

“Com a soja cotada a R$ 166/saco, os 639 kg de acréscimo na produtividade com a presença das abelhas representam um ganho de R$ 1768,00 por hectare de lucro líquido, já que não houve gastos adicionais com sementes, fertilizantes, pesticidas e máquinas.”

O que tornou esse cenário possível foi, segundo Gazzoni, a própria característica da soja de não ser totalmente cleistogâmica, sobrando um espaço para a polinização cruzada, que é justamente onde atuam as abelhas e onde podemos ter os ganhos de produtividade.

Utilizando os polinizadores de forma eficiente na soja

Para entender como utilizar essa nova alternativa, é preciso primeiramente compreender o impacto nos polinizadores dos diferentes sistemas de cultivo e manejo presentes na cultura da soja, como evidenciado pelo pesquisador:

“Para que o agricultor possa aproveitar de todos os benefícios da polinização, ele precisa utilizar as boas práticas agrícolas, especialmente no que concerne as medidas fitossanitárias, isso porque inseticidas são um sempre um perigo potencial para abelhas.”

Além disso, os próprios hábitos de forrageamento desses insetos durante o dia podem ser um bom indicativo para minimizar os efeitos das práticas agrícolas nessas populações. Inclusive, os estudos do pesquisador apontaram uma maior atividade na parte da manhã do período de 9 às 12h.

Décio Gazzoni, também menciona como é relevante a criação de ambientes propícios para o desenvolvimento dessas populações, uma vez que somente na soja foram identificadas mais de 50 espécies de abelhas nativas:

“Muitos estudiosos mostram que não basta apenas haver visitação das abelhas, é importante a frequência, a intensidade e a diversidade dessa visitação. Quanto maior essa diversidade de espécies, maiores as chances de benefícios por parte da polinização.”

O pesquisador aponta que essas diferentes espécies serão atraídas para a soja por meio da combinação de complexo sistema de orientação que combina a pigmentação presente nas flores, substâncias voláteis emitidas e recursos de fidelidade oferecidos como o pólen e o néctar.

Este último será o de maior relevância para as abelhas, garantindo que elas estejam revisitando a lavoura várias vezes durante o período de floração e mantendo a frequência necessária para obtenção de boas taxas de polinização.

As pesquisas da EMBRAPA ainda apontaram que as maiores concentrações de abelhas se dão até 100m das matas, sendo 800m a distância limite que começa a tornar o efeito da polinização inexistente. Com isso, o pesquisador mencionou que é possível obter um ganho apreciável se ao menos preservarmos as áreas de Reserva Legal e as Áreas de Proteção Permanente das propriedades.

O papel dos agricultores e apicultores

Ao utilizar a polinização como recurso para o incremento da produtividade, Décio Gazzoni concluiu que é imprescindível um diálogo claro e transparente entre agricultores e apicultores para se ter sucesso com essa nova ferramenta:

“Com a polinização complementar das abelhas, temos uma probabilidade de incrementar a produtividade da soja entre 10-15%, para isso o produtor precisa favorecer a presença de polinizadores, sejam eles de criação como a abelhas domésticas ou as abelhas nativas. Isso pode ser feito utilizar sistemas de produção que sejam amigáveis aos polinizadores, seguindo rigorosamente o Manejo Integrado de Pragas, Boas Práticas Agrícolas e de boa tecnologia de aplicação.”

Para entender mais sobre o potencial dos polinizadores na soja, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!

Não perca os próximos eventos. Confira toda a programação do Encontro com Gigantes e faça sua inscrição pelo link: https://www.kforte.com.br/encontrocomgigantes/

Décio Gazzoni – Décio Luiz Gazzoni é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), membro do Conselho Científico da Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A.) e articulista de jornais, revistas e sites especializados. Em sua frutífera carreira científica, Décio recebeu o Prêmio Frederico Menezes Veiga, a honraria mais graduada concedida a cientistas agrícolas no Brasil. Além disso, já foi Chefe Geral da EMBRAPA Oeste (Dourados, MS), Chefe Geral da EMBRAPA Soja (Londrina, PR) e Diretor Técnico da EMBRAPA (Brasiília, DF). Hoje ele faz parte do International Scientific Panel on Renewable Energy (ISPRE ICSU), é Presidente do Steering Committee on Renewable Energy (ICSU-ROLAC), além de ser Consultor Internacional do Banco Interamericano de Desenvolvimento, do Banco Mundial e da Organização para a Agricultura e Alimentação. Possui 7 livros publicados e inúmeros artigos publicados em periódicos especializados do Brasil e do exterior, entre outras realizações bibliográficas. Sua pesquisa é voltada para a área de agronomia, com ênfase em sanidade agropecuária, estudos de abelhas e economia agrícola. Décio Luiz Gazzoni é formado em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) e possui mestrado em Entomologia pela mesma instituição.

 

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