Nos últimos anos, a produção de cafés especiais no Brasil tem se mostrado em constante crescimento, já representando cerca de 20% dos cafés exportados pelo país. Isso tem atraído diversos agricultores e cafeicultores, que buscam entrar ou fazer a transição para o ramo. Mas, quais são os desafios e oportunidades presentes na produção de cafés especiais?
Para falar sobre esse assunto, a cafeicultora do município de Santo Antônio do Amparo (MG) e proprietária da Santa Maria Cafeeira, Valéria Lage, que conquistou a premiação entre os 100 melhores cafés do Brasil participou do “Encontro com Gigantes – Bate-papo com cafeicultora: desafios e oportunidades na produção de café especial”.
O evento foi promovido pela Verde Agritech, empresa que produz os fertilizantes BAKS®, K Forte®, K Forte Boro e Silício Forte, no dia 11 de agosto de 2022.
Você pode conferir a conversa, mediada por Rinamara Martins, na íntegra pelo link:
O que é considerado um café especial?
A terminologia “café especial” foi inventada por Erna Knudsen, proprietária de uma importadora de cafés finos de São Francisco, na Califórnia.
A expressão foi usada pela primeira vez em 1974, no artigo Tea & Coffee Trade Journal, para descrever os grãos de café com os melhores sabores, que eram produzidos em microclimas especiais.
Atualmente, esse termo é usado para descrever todos os cafés de excelente qualidade, conhecidos como cafés especiais, segundo a Specialty Coffee Association of America (SCAA).
Através de metodologias de avaliação sensorial, como a Associação de Cafés Especiais (SCA) ou Cup of Excellence (CoE), os cafés podem receber diferentes pontuações. Na SCA, por exemplo, os cafés especiais são aqueles que atingem no mínimo 80 pontos em uma escala de 0 a 100.
Para que o café possa ter uma boa pontuação, a cafeicultora Valéria Lage explica que diferentes características do produto são avaliadas, como o aroma e o sabor. Entretanto, para alcançá-las é preciso que os cuidados comecem já no campo:
“Um café especial começa lá na lavoura e vai até a xícara. A alta qualidade do café especial é um resultado de vários setores e fatores que vão agregando a qualidade ao café, como o clima, altitude e o próprio processo de colheita e o processamento. Nós sempre temos que ter muito cuidado para que o processo de produção do café especial seja sempre bem definido”
Durante a fase de cultivo, por exemplo, Valéria Lage recomenda sempre buscar realizar a colheita no ponto de maturação correto, buscando por aqueles grãos que atingem 20 pontos dentro da escala Brix.
A escala Brix, também conhecida como índice refractométrico, é uma ferramenta muito utilizada na agricultura para determinar a maturação e palatabilidade dos produtos agrícolas, estimando os sólidos solúveis na polpa dos frutos. Na cultura do café, os valores de brix geralmente variam de 15 a 30 graus.
Outro ponto importante é fazer o transporte do café da área de colheita para a de processamento o mais rápido possível, para evitar a fermentação do produto nas sacarias.
Já durante o processamento dos grãos, Valéria Lage também recomenda evitar ao máximo a presença de impurezas e grãos verdes, que podem ser catados manualmente, dependendo do tamanho dos lotes.
Ao final de um processo produtivo bem feito e controlado, o cafeicultor irá obter um café de alta qualidade e agregará valor ao seu produto final.
E, para garantir o destaque desse produto no mercado é muito importante que o cafeicultor busque incluí-los em concursos de avaliação de qualidade. Mas, o que são esses concursos e qual a sua contribuição para o mercado dos cafés especiais?
Os concursos de qualidade de café
Na história da cafeicultura brasileira, pode-se perceber que os concursos de qualidade de café vêm quebrando muitos paradigmas em relação à qualidade desse produto agrícola e ajudando no estabelecimento e na manutenção da imagem do café brasileiro.
Valéria Lage explica que eles permitem uma simplificação do processo de comercialização, já que ele dá visibilidade para os produtos no cenário nacional e internacional e fazendo com que os compradores venham até os produtores.
É o que também destaca a jornalista Thaís, que atua na área de comunicação e marketing da Santa Maria Cafeeira:
“Os concursos dão visibilidade para o nosso produto e para o município como um todo, porque nós sabemos que se a marca daquele município conquistou um concurso significa que a região tem um potencial muito alto para produzir cafés de qualidade. Além disso, os concursos são muito bons para dar a voz para os produtores de café e contar a sua história, já que eles exigem muito essa questão de rastreabilidade, sustentabilidade, história, dentro outros aspectos.”
Entretanto, para que o cafeicultor alcance sucesso na produção de cafés especiais, também é essencial que ele esteja sempre cuidando da sucessão familiar dentro da sua propriedade.
Valéria Lage destaca que o sucesso está ligado não somente a sua dedicação e amor por aquilo que você faz, mas como também pela paixão que atravessa as diversas gerações de uma família.
É através do processo de sucessão familiar que se constrói grande parte da história do café especial, um elo muito importante dessa categoria de produção. Além disso, é esse processo que permite a melhoria constante da propriedade, conforme afirma Thaís:
“Nós juntamos todos os conhecimentos que os nossos pais e avós passam para gente e tentamos trazer cada vez mais as novas tendências, tecnologias e conhecimentos que vão fortalecer o negócio da família, proporcionando um verdadeiro encontro de gerações. Então, o café sempre tem algo que é muito afetivo e que atravessa gerações.”
Em conclusão, Valéria Lage destacou a importância da dedicação, capacitação e troca de experiência para aqueles que desejam entrar no ramo de café especiais. Ela também ressaltou que o mais importante é sempre acreditar no próprio potencial para produzir cafés de qualidade.
Para entender mais sobre os desafios e oportunidades da produção de cafés especiais, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!
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