O controle das pragas agrícolas sempre esteve entre os principais desafios dos agricultores, uma vez que elas têm a capacidade de reduzir drasticamente a produtividade das lavouras. Para superar esse desafio, os microrganismos do solo têm despontado como uma excelente alternativa a ser incorporada no manejo integrado de pragas (MIP).
Para falar sobre esse assunto, a Doutora em Entomologia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP), Rafaela Santos participou do “Encontro com Gigantes – Microrganismos do solo: entenda como atuam no controle de pragas”.
O evento foi promovido pela Verde Agritech, empresa que produz os fertilizantes BAKS®, K Forte® e Silício Forte, no dia 17 de fevereiro de 2022.
Você pode conferir a conversa, mediada por Magda Silva, na íntegra pelo link:
Os microrganismos do solo como agentes de controle de pragas
As pragas são a causa de inúmeras perdas na agricultura no Brasil e no mundo, trazendo prejuízos para o setor agrícola. Por exemplo, somente na cultura dos citros, a alta incidência de pragas esteve entre as principais causas da redução de mais de 20% da safra de 2020/2021.
E os microrganismos podem ajudar a combater as pragas. O termo microrganismos engloba seres microscópicos, que não podem ser vistos a olho nu. A quantidade e diversidade desses pequenos seres é tão grande que, em apenas 1 colher de chá de solo, estima-se que possam existir cerca de 50 bilhões de microrganismos.
No solo, eles se concentram principalmente na região que fica em contato direto com as raízes das plantas: a rizosfera. Essa região possui maior atividade da microbiota do solo, devido à maior influência de compostos que são liberados pelas raízes das plantas, denominados exsudatos radiculares.
Os exsudatos radiculares, por sua vez, servem como uma forma de reconhecimento e recrutamento dos microrganismos do solo.
A Dra. Rafaela Santos explicou que esses compostos também atuam de forma seletiva na escolha dos microrganismos que vão habitar a rizosfera, buscando uma maior atração dos microrganismos que tenham estabelecido uma relação benéfica com as plantas. Relação que também está presente no corpo humano:
“Fazendo um comparativo com o nosso corpo, a rizosfera equivale ao nosso sistema digestivo, em especial o nosso intestino. Nele, os microrganismos desempenham muitas funções importantes, como a digestão e o combate dos microrganismos maléficos, o que mostra a importância da presença desses microrganismos para a saúde do nosso corpo.”
De forma análoga, os microrganismos também desempenham funções importantes para nutrição e defesa das plantas. Dentre as principais funções desempenhadas pelos os microrganismos do solo, a Dra. Rafaela Santos destacou:
- Disponibilidade de nutrientes para as plantas;
- Crescimento de plantas e produtividade;
- Auxílio na retenção de água no solo;
- Resistência a estresses abióticos;
- Melhoria da estrutura do solo;
- Resistência contra doenças;
- Ciclagem de nutrientes;
- Resistência a pragas.
Essas funções foram entendidas através de estudos relacionados à microbiota do solo e suas funções, que têm aumentado relativamente nos últimos anos. O maior progresso no número de estudos relacionados à microbiota do solo e suas funções, está associado, entre outros fatores, à evolução das técnicas moleculares e de bioinformática.
O número de pesquisas relacionadas aos microrganismos do solo e suas funções se mostrou praticamente 13 vezes maior que no início dos anos 90, fato este evidenciado pelo volume de artigos publicados no Google Scholar nos últimos anos.
Destacando o tema da palestra, ela explicou como os microrganismos podem ser usados no controle de pragas no Brasil.
Quais os grupos de microrganismos usados com sucesso no controle de pragas no Brasil?
Microrganismos dos gêneros Bacillus, Metharrizum e Beauveria foram mencionados pela Dra. Rafaela Santos como agentes usados com sucesso no controle de pragas no Brasil. Exemplos de pragas que tiveram um uso bem sucedido de microrganismos em programas de controle são as cigarrinhas, percevejos e a mosca branca.
Mas, como microrganismos do solo podem funcionar como agentes de controle de insetos pragas, que geralmente ficam na parte aérea da planta? A Dra. Rafaela Santos explicou que uma das maneiras de isso se tornar possível é em razão da planta funcionar como uma mediadora desse processo:
“As plantas funcionam como mediadoras de interações entre os microrganismos do solo que vivem nas raízes e os insetos que vivem na parte aérea. Os microrganismos por sua vez modificam diversos aspectos das plantas, como a produção de compostos voláteis, vias de defesa e até mesmo absorção de nutrientes, que favorecem o controle das pragas.”
Dentre os principais mecanismos mediados pelas plantas que permitem o controle de pragas, foram destacados:
- Indução de resistência sistêmica da planta;
- Produção de glucosinolatos e inibidores de proteinases, que afetam principalmente a alimentação dos insetos pragas;
- Modificação dos compostos orgânicos voláteis, que interferem na comunicação química dos insetos e podem agir repelindo insetos pragas e atraindo inimigos naturais.
Na indução de resistência sistêmica, os microrganismos podem atuar fazendo com que as vias de defesa da planta sejam ativadas de forma mais rápida. Ela é ativada sistemicamente após a exposição das plantas a danos ocasionados por pragas ou patógenos e permite uma resposta mais eficiente ao dano causado.
A Dra. Rafaela Santos também mencionou diferentes estudos que abordam outros mecanismos, como a produção de glucosinolatos e inibidores de proteinases e modificações dos compostos orgânicos voláteis das plantas.
Dentre eles, ela destacou os resultados de estudos com uma cepa do microrganismo Bacillus amyloliquefaciens, que vem se mostrando eficiente para:
- Produção de compostos de defesa, como glucosinolatos;
- Indução da resistência sistêmica das culturas;
- Promoção do crescimento das plantas.
Uma outra forma que os microrganismos do solo podem atuar no controle de pragas é por meio da sua utilização no controle biológico, como fungos entomopatogênicos.
O controle biológico, é uma das formas de controle de pragas mais conhecidas, já que o seu princípio de funcionamento se baseia na colonização direta dos microrganismos nas pragas, levando à sua morte.
Mas, por onde começar a usar os microrganismos do solo para controle de pragas?
O uso dos microrganismos do manejo integrado de pragas
A Dra. Rafaela Santos sugeriu que a inclusão dos microrganismos do solo no manejo integrado de pragas (MIP) é uma das melhores formas de começar a usá-los de forma efetiva dentro de um agro ecossistema:
“Os microrganismos do solo são uma importante peça do manejo integrado de pragas, que tem compatibilidade com as outras formas de manejo para potencializar o controle de pragas.”
De forma complementar, ela também recomendou a adoção de práticas agrícolas que favoreçam a microbiota do solo, tais como:
- Adoção de sistemas de produção integrados e de rotação de culturas;
- Escolha dos fertilizantes sem cloro e com baixo índice salino;
- Uso da adubação verde e produtos biológicos;
- Incremento da matéria orgânica do solo.
Para entender mais sobre como os microrganismos atuam no controle de pragas, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!
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