O que é necessário para alcançar o sucesso com o manejo biológico na lavoura

O que é necessário para alcançar o sucesso com o manejo biológico na lavoura?

Você sabia que o solo é considerado o ecossistema mais biodiverso do planeta, em razão da grande quantidade e diversidade de microrganismos? Por isso, explorar o potencial da coexistência benéfica que existe entre as plantas e microrganismos através do manejo biológico pode se tornar a chave para os novos desafios da agricultura. Conheça, a seguir, quais práticas podem definir o sucesso do manejo biológico na lavoura! 

Para falar sobre esse assunto, o Técnico em Agropecuária e proprietário da Orgânica Agro Serviços, Fábio Barros, participou do “Encontro com Gigantes – Importância do potássio livre de cloro no manejo biológico na lavoura”.   

O evento foi promovido pela Verde Agritech, empresa que produz os fertilizantes BAKS®, K Forte®, K Forte Boro e Silício Forte, no dia 08 de dezembro de 2022.  

Você pode conferir a conversa, mediada por Leonardo Pichinin, na íntegra pelo link: 

Os benefícios do manejo biológico na agricultura

Desde a descoberta dos diversos benefícios que os microrganismos do solo têm para a agricultura, o manejo biológico despontou como uma importante alternativa para alcançar uma maior sustentabilidade e estabilidade produtiva nos sistemas agrícolas. 

Segundo o técnico em agropecuária Fábio Barros, o manejo biológico pode ser considerado um facilitador para promover um ambiente mais saudável para as culturas, uma vez que ele preconiza práticas que favorecem a microbiota do solo e, por consequência, seus benefícios para os agroecossistemas. 

Um dos benefícios dos microrganismos do solo mais conhecidos e utilizados é o seu uso para o controle de pragas e doenças.  

Muitos microrganismos do solo são capazes de exercer uma ação antagônica contra os patógenos no solo e pragas agrícolas, uma vez que eles são capazes de produzir compostos tóxicos, induzir a resistência nas plantas, estabelecer reações de parasitismo, dentre outros mecanismos. 

Esse é o caso de algumas espécies de rizobactérias do gênero Bacillus, como o B. aryabhattai e o B. subtilis, que apresentam um efeito nematicida e ainda são capazes de inibir o desenvolvimento de diversos fungos fitopatogênicos. 

Além do controle de pragas e doenças, outra função muito relevante que os microrganismos do solo desempenham nos sistemas agrícolas está relacionado a nutrição de plantas. Isso porque eles promovem: 

Também não podemos deixar de destacar o importante papel que os microrganismos têm no aumento da tolerância da planta a estresses abióticos, seja pela alteração da fisiologia vegetal, seja pela influência direta que eles exercem nos parâmetros de desenvolvimento das culturas. 

Em um trabalho inédito para agricultura tropical, Itamar Melo e outros pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (SP) observaram que uma linhagem de Bacillus sp. foi capaz de promover o crescimento do trigo, milho e da soja sob estresse hídrico, incrementando alguns parâmetros vegetais analisados. 

Já o estudo Modulating drought stress response of maize by a synthetic bacterial community, de iniciativa da Embrapa e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), demonstrou que os microrganismos também podem ajudar a controlar o fluxo hídrico da planta e contribuir para a redução da sua temperatura, favorecendo uma maior tolerância da lavoura à seca. 

Benefícios esses que, muitas vezes acabam sendo bem relevantes para as culturas de safrinha, uma vez que ele sofre com condições severas de estresse hídrico e térmico durante os veranicos. 

Benefícios da associação com os microrganismos do solo para as plantas, que podem ser potencializados com o manejo biológico da lavoura

Benefícios da associação com os microrganismos do solo para as plantas, que podem ser potencializados com o manejo biológico da lavoura.

Entretanto, esses diferentes benefícios só tem um reflexo significativo na produtividade e qualidade das culturas quando se alcança uma boa qualidade biológica solo, ou seja, quando o solo apresenta uma população de microrganismo estável, grande e diversificada.

Para aumentar a qualidade biológica do solo e usufruir dos seus benefícios, muitos agricultores têm recorrido a adoção de práticas de manejo biológico. Contudo, para se obter sucesso com ela, Fábio Barros explica que é preciso que o agricultor adote uma visão holística do sistema de produção: 

“O manejo biológico precisa ser entendido como uma agricultura de processo e não uma agricultura de produto. Se você praticar uma agricultura de produto, dificilmente alcançará um sucesso consistente com os bioinsumos e muitas vezes ficará limitado a um sucesso pontual com determinada função do microrganismo. Agora, quando você pensa no manejo biológico como uma agricultura de processo, você vai fazendo ações para tornar o seu ambiente mais resiliente de forma a evitar que surjam problemas na sua lavoura.”   

Dessa forma, o sucesso do manejo biológico depende da tomada de ações integradas no agroecossistema. 

Quais são as estratégias de utilização do manejo biológico?

Segundo Fábio Barros, um bom programa de manejo biológico nunca age sozinho, ele sempre vai trabalhar em rede com as demais práticas de manejo da lavoura. Por isso, muitas vezes o agricultor precisará ir muito além da inoculação de microrganismos para obter o sucesso com essa prática. 

Dentre as diferentes estratégias de utilização do manejo biológico, Fábio Barros destaca o cuidado com a qualidade do solo como sendo a principal delas. 

O estabelecimento dos microrganismos benéficos no solo depende, em grande parte, da qualidade física, química e biológica do solo, uma vez que nele eles precisam encontrar uma fonte de alimento e abrigo estável ao longo do tempo. 

Como grande parte dos alimentos obtidos pelos microrganismos do solo derivam da matéria orgânica ou dos exsudatos radiculares liberados pelas plantas, Fábio Barros recomenda a adoção de práticas como a manutenção de plantas de cobertura do solo e o aumento do teor de matéria orgânica do solo.

Já no quesito abrigo, Fábio Barros explicou que um dos maiores cuidados deve ser com a manutenção da porosidade adequada do solo. Isso porque grande parte dos microrganismos benéficos depende do oxigênio para sobreviver. 

Para isso, o agricultor deve buscar reduzir a frequência de práticas que causem a compactação do solo e se atentar no momento de escolha dos fertilizantes, evitando aqueles com altos teores de cloro. 

Alguns fertilizantes com altos teores de cloro, como o cloreto de potássio (KCl), acabam contribuindo para uma maior compactação do solo, uma vez que eles reduzem a umidade do solo e acabam promovendo a compactação daqueles solos que se expandem ou se compactam de acordo com a quantidade de umidade presente em suas partículas.

É o que explica Rajesh Prasad Shukla e outros pesquisadores da Universidade de Roorkee, que estudaram o comportamento de solos expansivos quando expostos a ação do KCl, no artigo Stabilization of Expansive Soil Using Potassium Chloride. 

Além disso, Fábio Barros apontou que o cloro também acaba tendo um impacto negativo na microbiota do solo, por possuir um alto poder biocida. 

Para se ter uma ideia disso, o artigo Effects of some synthetic fertilizers on the soil ecosystem, compara a aplicação de 200 kg de cloreto de potássio a despejar 1600 litros de água sanitária no solo. 

Mesmo a aplicação de uma quantidade pequena de Cloreto de Potássio no solo, como 50Kg ainda equivale a despejar 400 litros de água sanitária, causando danos à microbiota

Mesmo a aplicação de uma quantidade pequena de cloreto de potássio no solo, como 50kg, ainda equivale a despejar 400 litros de água sanitária, causando danos à microbiota.

Por isso, é muito importante que o agricultor busque reduzir a aplicação de fertilizantes contendo altos teores de cloro na lavoura e opte por fontes alternativas de nutrientes que favoreçam a microbiota do solo e, consequentemente, o manejo biológico da sua lavoura. 

Em conclusão, Fábio Barros apontou que o manejo biológico, quando integrado com as demais práticas de manejo da lavoura, apresenta um potencial muito grande no Brasil, já que o país tem condições que potencializam muito os resultados que podem ser obtidos com ele: 

“A grande fortaleza da agricultura brasileira está no fato dela ser uma agricultura tropical, ou seja, ela acaba tendo uma força muito grande dos eventos biológicos por possuir condições naturais que já favorecem os microrganismos do solo. Ou seja, a vida no solo passa a ter um papel fundamental no cultivo das nossas plantas e pode potencializar muitos dos resultados que já obtemos atualmente.” 

Para entender mais sobre quais práticas podem favorecer o manejo biológico das lavouras, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!  

Não perca os próximos eventos. Confira toda a programação do Encontro com Gigantes e faça sua inscrição pelo link: Encontro com Gigantes. 

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