O potássio é um nutriente muito requerido pelas plantas e, na cultura do algodão, ele é o segundo nutriente mais exigido. É o que afirmam os renomados pesquisadores Eurípedes Malavolta e J.R. Sarruge, juntamente com outros estudiosos, no artigo Estudo sobre a alimentação mineral do algodoeiro. Então, como otimizar a adubação com potássio no algodão?
A importância do potássio para o algodão
O potássio participa de diversas funções importantes para o desenvolvimento e produtividade das plantas.
Entre tais funções, pode-se destacar a ativação enzimática, a síntese proteica, o transporte de fotoassimilados pelo floema, a regulação do potencial hídrico das células e a melhoria da qualidade de flores e frutos, além da amenização de estresses bióticos e abióticos.
Na cultura do algodão em específico, a nutrição adequada em potássio ajuda a melhorar a deposição de celulose nas paredes internas das fibras. Isso aumenta o chamado índice micronaire (MIC), que indica o tamanho, a resistência e a qualidade das fibras do algodão.
Além disso, no estudo Efeitos do Fósforo e Potássio no rendimento e em características agronômicas do algodoeiro herbáceo, Luiz Alberto Staut e Manoel Luiz Ferreira Athayde, ressaltam que o potássio influencia significativamente o rendimento do algodão em caroço, assim como diâmetro médio e o peso dos capulhos.
O potássio tem influência na produtividade e na qualidade do algodão (Fonte: Francisco et al., 2011)
Diante dessa importância do potássio para o algodão, como o agricultor pode otimizar a adubação com potássio para essa cultura?
1. A importância da escolha dos fertilizantes potássicos para a adubação do algodão
A primeira ação para que a adubação potássica da cultura do algodão seja mais eficiente é a escolha de fertilizantes adequados para o manejo da lavoura.
Entre os fertilizantes potássicos convencionais mais utilizados está o Cloreto de Potássio (KCl), por causa do seu teor de potássio em torno de 53%. Entretanto, o KCl também é composto por aproximadamente 47% de cloro e isso pode trazer problemas para o solo e para as plantas.
O cloro é um micronutriente importante para o desenvolvimento das plantas, mas que é exigido em quantidades pequenas. Então, quando é feito o uso de fertilizantes com alto teor de cloro, há um excesso desse nutriente aplicado no solo.
Nas plantas, isso pode trazer sintomas de toxicidade que prejudicam a produtividade e a qualidade da lavoura. Já para o solo, o excesso de cloro está ligado ao aumento da compactação.
No estudo The Potassium paradox: implications for soil fertility, crop production and human health, o Dr. Timothy Ellsworth e outros pesquisadores notam que o Cloreto de Potássio é reconhecido como uma substância estabilizadora na construção de pavimentos e fundações impermeáveis, ressaltando que:
“Infelizmente, as consequências agronômicas [dessa compactação e impermeabilidade] incluem a perda de CTC (Capacidade de Troca Catiônica) e baixa capacidade de retenção de água, o que não traz crescimento e produtividade da lavoura.”
O excesso de cloro também está ligado ao aumento da salinidade do solo. Vale notar que o KCl é altamente salino, com um índice de salinidade de 116%. As consequências disso são a redução do potencial osmótico do solo, o que prejudica a microbiota, causando um efeito altamente biocida.
Outro ponto importante na hora de escolher o fertilizante potássico é a disponibilização dos nutrientes. Fontes de liberação muito rápida, como Cloreto de Potássio, são mais sujeitas à lixiviação.
Assim, parte do que é aplicado no solo se perde para as camadas mais profundas do solo, tornando o manejo menos eficiente. Então, como lidar com isso?
Uma saída é o uso de fertilizantes de liberação progressiva dos nutrientes. Assim, além de evitar a lixiviação, o agricultor consegue aproveitar o efeito residual prolongado e construir a fertilidade do solo, otimizando o manejo.
2. É preciso estar atento à aplicação dos fertilizantes potássicos no solo
Depois de escolher o fertilizante potássico adequado, é preciso que o agricultor esteja atento à aplicação dele no solo.
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa – Algodão), na publicação Estratégias para otimizar a adubação do algodoeiro no Cerrado, antes de realizar a adubação é importante que seja feita a correção da acidez do solo pela elevação do pH, através da calagem.
Entretanto, é preciso que haja boas condições de umidade e tempo para que o calcário reaja de maneira adequada. Por isso, o ideal é que ela seja feita de dois a três meses antes da semeadura e que haja pelo menos uma chuva ou formas de irrigação suficientes.
A Embrapa Algodão também alerta que, para a adubação potássica com fontes de índice salino elevado, como o Cloreto de Potássio, grandes quantidades de fertilizantes podem prejudicar a emergência das plantas, devido ao desequilíbrio do potencial osmótico do solo.
Para evitar isso, muitos agricultores fazem o parcelamento da aplicação do potássio, mas isso significa realizar mais entradas na lavoura, o que pode encarecer os custos de produção.
Dessa maneira, os fertilizantes que não apresentam alto índice salino são uma vantagem. Isso porque eles permitem que a necessidade desse parcelamento seja eliminada, otimizando o manejo e reduzindo os custos.
3. Avaliando os métodos de análise do solo para acertar na dosagem do fertilizante potássico
Fertilizante potássico escolhido, planejamento de aplicação feito, é preciso também pensar em qual dosagem será utilizada.
Um dos primeiros passos para isso é o conhecimento da extração de potássio pela cultura do algodão. Estudos indicam que, para cada tonelada de algodão em caroço produzida, são extraídos do solo 73kg de nutriente.
Extração média de nutrientes pelo algodoeiro para produção de uma tonelada e simulação para 4.500 kg/ha (ou 300 arroubas) de algodão em caroço (Fonte: Embrapa, 2014)
Além disso, um bom conhecimento da lavoura é imprescindível. Para isso, ferramentas como a análise de solo são muito importantes. É através dela que se pode ter uma ideia das condições de fertilidade do solo e calcular a quantidade de fertilizante que deve ser aplicada.
No Brasil, os métodos mais rotineiros de análise de solo utilizam os extratores Mehlich e resina. Entretanto, esses métodos quantificam a fração do potássio que está nos “reservatórios” do solo que apresentam disponibilidade mais rápida (a solução e a trocável).
Porém, medir apenas essa fração do potássio nem sempre consegue fornecer uma compreensão adequada da dinâmica potássio-solo-planta-produtividade.
É o que ressaltam Michael J. Bell e outros pesquisadores no capítulo Using Soil Tests to Evaluate Plant Availability of Potassium Soils, do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops.
Os pesquisadores chamam a atenção para a necessidade de considerar também os outros “reservatórios” de potássio do solo, como o potássio inicialmente não-trocável, ampliando a visão do ciclo do potássio no solo.
Uma visão mais ampliada do ciclo do potássio no solo (Fonte: Bell et al., 2021)
Além disso, Michael J. Bell e seus colegas destacam que:
“Independentemente do método analítico de solo utilizado, um dos maiores desafios em fazer uma previsão da necessidade de fertilizante para um campo a partir de uma análise de solo é a precisão com a qual as amostras de solo refletem o estado de fertilidade do campo, e especificamente as partes do perfil do solo que são exploradas pelas raízes das culturas.”
Assim, para que o conhecimento do solo e da lavoura seja mais completo e o manejo da adubação potássica seja realizado de maneira mais eficiente, o agricultor precisa saber quais métodos de análise de solo são os mais adequados para o seu objetivo e o seu manejo.
E pode ainda aliar os resultados obtidos com os de outros métodos, como a análise foliar.
O bom manejo da adubação potássica no algodão requer um conjunto de fatores
Em resumo, um bom manejo da adubação potássica do algodão precisa levar em conta a escolha dos fertilizantes adequados, dando preferência às fontes de potássio que não possuam excesso de cloro e apresentem baixos índices salinos.
As fontes de liberação progressiva também ajudam a otimizar o manejo, evitando a lixiviação e reduzindo os parcelamentos, o que auxilia a reduzir os custos de aplicação.
Já a utilização de métodos de análise de solo adequados traz um conhecimento mais completo do estado nutricional da lavoura, contribuindo para planejar o manejo de forma mais assertiva e potencializando os benefícios da adubação potássica no algodão!