O aproveitamento de fósforo nos sistemas agrícolas tropicais chega a ser no máximo de 20% em um ano agrícola. Esse dado, publicado no volume Nutrição Mineral de Planta da série publicada pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS), revela um dos grandes desafios do manejo nutricional das lavouras agrícolas. Desafio este que pode ser superado com a ajuda de um elemento chave: o silício. Mas como esse elemento influencia o teor de fósforo no solo?
Fatores que afetam a disponibilidade de fósforo no solo
A disponibilidade de fósforo no solo não está apenas relacionada com a aplicação de doses adequadas de fertilizantes, mas também está ligada às características do solo.
Diversos pesquisadores estimam que apenas menos de 0,1% do total de fósforo contido nos solos agrícolas se encontram solubilizados e tem possibilidade de serem assimilados pelas plantas.
Mas, por que isso acontece? A baixa eficiência da adubação fosfatada, principalmente em solos tropicais, está relacionada com a retenção indesejada excessiva de grandes quantidades de fósforo nas partículas do solo, em um processo conhecido como adsorção.
Quando existe uma grande proporção de óxidos de ferro e de alumínio na fração argila dos solos, associada a um pH ácido, os íons de fosfato se ligam às superfícies oxídicas dessas partículas e precipitam, formando compostos que são indisponíveis para as plantas.
Condição esta que é muito recorrente nos solos das regiões agricultáveis do Cerrado brasileiro, que possuem sua fração argilosa formada é praticamente de caulinita e essas argilas sesquioxídicas, como gibbsita, hematita e goethita.
O pesquisador João Carlos Ker menciona, em seu estudo Mineralogia, sorção, e dessorção de fosfato, magnetização e elementos traços de Latossolos do Brasil, que em alguns Latossolos de cerrado, o solo se transformou em um potencial dreno de nutrientes, adsorvendo o equivalente a 4000 kg/ha de fósforo (P2O5).
Já no artigo Cinética de adsorção de fósforo em solos de cerrado, José Leonardo de Moraes Gonçalves e outros pesquisadores verificaram que 90% do fósforo inorgânico aplicado em solos altamente intemperizados do Cerrado foi adsorvido nas primeiras 192 horas.
Como alterar a composição do solo para resolver esse problema é uma solução praticamente insustentável, os agricultores têm recorrido a outras soluções que vem sendo descobertas com o desenvolvimento de novas pesquisas. Mas, como o silício está relacionado a isso?
Dentre as possíveis saídas para enfrentar o dilema da adubação fosfatada, despontou uma solução promissora que tem como base as diferentes interações que acontecem entre os nutrientes, em especial entre o fósforo e o silício.
O silício como recurso para aumentar a disponibilidade de fósforo no solo
Um dos fatores que afetam a dinâmica dos nutrientes no solo é a interação que eles podem estabelecer entre si. Essa interação resulta na formação de um efeito sinérgico, complementar ou antagônico, que pode contribuir positivamente ou negativamente com a disponibilidade de nutrientes no solo e impactar na produtividade e qualidade das lavouras.
No caso do fósforo, a interação que ele consegue estabelecer com o silício favorece o aumento da sua disponibilidade no solo, melhorando assim, o desempenho da adubação fosfatada.
Em culturas como o milho, o café, o eucalipto, a cana-de-açúcar e o arroz, diversos pesquisadores já constataram os efeitos benéficos dessa relação. Mas, como isso acontece?
O silício contribui para o desempenho da adubação fosfatada.
Quando os íons de fósforo entram em contato com os óxidos de ferro e de alumínio, ele é adsorvido na superfície dos coloides do solo e fica em formas que não são prontamente disponíveis pelas plantas.
Para que o fósforo contido nos sítios de adsorção das partículas do solo volte a se tornar novamente disponível, é preciso que ele seja liberado e é aí que entra a participação do silício.
Como os íons de silício (H3SiO4–) são quimicamente similares aos íons de fósforo (H2PO4–), o silício consegue competir e deslocar o fósforo dos sítios de adsorção. Efeito este que favorece o aumento da translocação de fósforo para a parte aérea da planta, dependendo do tipo de solo.
É o que destaca Rui Carvalho e outros pesquisadores nos artigos Dessorção de fósforo por silício em solos cultivados com eucalipto e Interações silício fósforo em solos cultivados com eucalipto em casa de vegetação.
Além disso, o silício promove reações químicas de troca com os fosfatos, como os fosfatos de ferro e alumínio, que também favorece o aumento dos teores de fósforo na solução do solo.
Conteúdo de fósforo (CP) na parte aérea de Eucalyptus grandis cultivado no Latossolo Vermelho-Escuro (c) e Cambissolo (d) considerando as doses de silício e as épocas de avaliação.
Por isso, a aplicação de fontes de silício antes da fosfatagem vem se tornando uma importante prática agrícola para promover a competição entre fósforo e silício com o intuito de melhorar a disponibilidade de fósforo para as plantas.
Inclusive, alguns pesquisadores constataram que a aplicação de elevadas doses de silício pode reduzir a aplicação de fósforo em algumas culturas, como as pastagens.
A importância do fósforo no solo e do uso do silício como ferramenta para ajudar na adubação fosfatada
O sucesso da adubação fosfatada é muito importante para o sucesso das produções agrícolas, já que o fósforo está entre os três nutrientes mais absorvidos pelas plantas, sendo essencial nos processos de transferência de energia das células, na respiração e na fotossíntese.
Por isso, condições de baixa disponibilidade de fósforo no solo levam a uma acentuada diminuição do crescimento da planta como um todo e a expressão de outros sintomas de deficiência dependendo da cultura, como:
- Redução na brotação e desenvolvimento de raízes secundárias;
- Diminuição da produção de matéria seca, frutos e sementes;
- Atraso na emergência das folhas e no florescimento;
- Baixa nodulação em leguminosas;
- Menor perfilhamento.
A expressão desses sintomas de deficiência, muitas vezes, se torna um fenômeno recorrente em muitas lavouras do país. Por isso, a utilização do silício para otimizar a adubação fosfatada é uma ferramenta que pode ajudar muito o produtor agrícola.
Mas, para isso, é preciso que o agricultor conheça o real estado de fertilidade do solo e aplique fontes de silício que sejam realmente eficientes.
Otimizar a adubação fosfatada exige um conhecimento aprofundado sobre a fertilidade do solo e as fontes de silício
Estima-se, que a quantidade total de fósforo nos solos agrícolas pode chegar a até 6000 kg/ha. Mas, conhecer essas reservas de nutrientes e otimizar a recomendação de doses de fertilizantes fosfatados e silicatados exige ir muito além das análises convencionais de solo.
Os métodos mais utilizados nos laboratórios de análise de solo, geralmente, mensuram apenas os teores de nutrientes que estão nos reservatórios de disponibilidade mais rápida no solo.
Assim, conhecer as reservas de nutrientes no solo para otimizar a recomendação das doses de fertilizantes exige a escolha dos métodos mais adequados de análise de solo, associado sempre ao uso de fontes de silício eficientes, como os fertilizantes produzidos a partir de minerais silicáticos.