A compostagem é importante não somente para otimizar o manejo, mas também como forma de tornar a atividade agrícola mais sustentável. E o seu uso na agricultura pode otimizar a adubação potássica. Mas, como o agricultor pode potencializar o uso dessa técnica para aproveitar melhor os benefícios dela para o manejo do potássio?
O que é a compostagem?
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Brasil gera centenas de milhões de toneladas de materiais orgânicos anualmente.
Nesse sentido, a compostagem é uma ferramenta que ajuda a fazer com que esses materiais possam ser utilizados na adubação com segurança, promovendo a sustentabilidade agrícola e a conservação do meio ambiente.
Isso porque a compostagem ajuda a reduzir as perdas de nutrientes e otimiza o seu aproveitamento no manejo agrícola, incluindo o potássio.
Nessa técnica, o agricultor geralmente mistura materiais como bagaço de cana, serragem ou palhada de cana com esterco bovino, torta de mamona, cama de frango, entre outros. Eles são umedecidos e acondicionados em leiras, onde os microrganismos agem decompondo e transformando a matéria orgânica.
Mas, quais são os benefícios da compostagem que podem fazer com que o agricultor otimize a adubação potássica da lavoura?
Os benefícios da compostagem para a adubação potássica
Em seu artigo Uso da Compostagem em Sistemas Agrícolas Orgânicos, o mestre em fertilidade do solo e nutrição de plantas e pesquisador da Embrapa, Francisco Nelsieudes Sombra Oliveira, lista os principais benefícios da compostagem.
Entre eles, estão alguns que podem otimizar a adubação potássica. O primeiro deles é que a compostagem fornece elementos nutritivos ao solo: através da ação dos microrganismos, que decompõem a matéria orgânica, os nutrientes dos compostos orgânicos são devolvidos ao solo.
Com isso, ao se aplicar no solo o composto orgânico produzido, não somente o potássio, mas outros nutrientes importantes como o nitrogênio, o fósforo e o boro, entre outros, ficam disponíveis para as plantas.
Outro benefício da compostagem que auxilia na melhoria da eficácia da adubação potássica é que ela melhora a capacidade de troca catiônica (CTC) do solo.
Esse importante parâmetro está ligado à quantidade de cargas negativas presentes no solo e, de maneira geral, são as partículas orgânicas que compõem a maioria das cargas negativas presentes no solo.
Assim a incorporação do produto resultante da compostagem contribui para o aumento da CTC do solo. Isso é benéfico para a adubação potássica, já que o potássio é um nutriente com carga positiva e que tem uma maior retenção em solos com boa CTC.
Esquema demostrando como a CTC influencia na retenção de nutrientes com cargas positivas no solo.
O benefício anterior da compostagem é diretamente responsável por outra vantagem que o uso dessa técnica traz para a melhoria da adubação potássica: a redução da lixiviação.
Naturalmente, em razão das suas características físico-químicas e do seu ciclo no solo, o potássio é um nutriente facilmente lixiviável. Ou seja, ele tem uma alta mobilidade em direção às camadas mais profundas do solo.
Essa característica inclusive pode ser acentuada dependendo do tipo de solo ou do fertilizante utilizado na adubação potássica.
No artigo Lixiviação de potássio em função da textura e da disponibilidade do nutriente no solo, por exemplo, Rodrigo Werle e outros pesquisadores avaliaram as taxas de lixiviação em função de solos de diferentes texturas.
Eles verificaram que, em solos de textura mais arenosa, a intensidade da lixiviação foi mais intensa, mesmo com quantidades menores de K2O aplicado. Já nos solos mais argilosos, a lixiviação tende a ser menor, o que significa que eles têm maior capacidade de reter o potássio.
Intensidade da lixiviação de potássio em diferentes tipos de solo. (Fonte: WERLE et al., 2008)
Segundo os pesquisadores, a maior capacidade de troca catiônica (CTC) dos solos mais argilosos pode ser a explicação para essa diferença.
Já fertilizantes de liberação imediata dos seus nutrientes, como o Cloreto de Potássio (KCl) também são mais suscetíveis à lixiviação.
Isso tanto por suas características físico-químicas, quanto por disponibilizarem o potássio em uma velocidade muito rápida, o que pode fazer com que as plantas não consigam utilizar todo o nutriente e o excesso seja lixiviado.
Diante disso, como o agricultor pode otimizar a compostagem e assim aproveitar de maneira ainda melhor os benefícios que ela traz para a adubação potássica?
Como otimizar a compostagem e seus benefícios para a adubação potássica?
Uma das formas de enriquecer o composto orgânico é através da utilização de fertilizantes que são misturados aos materiais orgânicos utilizados na técnica da compostagem.
Nesse sentido, a utilização de fertilizantes adequados é fundamental para que os benefícios da compostagem para a adubação potássica possam ser aproveitados ao máximo é muito importante.
Como já visto, um componente essencial para a compostagem são os microrganismos. Sem eles, o processo de decomposição que transforma os materiais orgânicos não acontece. Portanto, é muito relevante que o agricultor utilize fertilizantes potássicos que favoreçam a atividade microbiana.
Uma das fontes mais utilizadas na agricultura quando se trata de adubação potássica é o Cloreto de Potássio. Entretanto, em sua composição, o KCl tem aproximadamente 47% de cloro.
Embora seja um micronutriente importante para as plantas, o cloro é requerido em pequenas quantidades e o seu excesso traz diversos problemas para a agricultura. Entre eles, está justamente o seu efeito biocida.
Para se ter uma ideia dessa capacidade biocida do cloro, a pesquisadora Heide Hermary, em seu artigo Effects of some synthetic fertilizers on the soil ecosystem, compara o uso do Cloreto de Potássio com aplicação de água sanitária no solo.
De acordo com ela, a aplicação de 200 Kg de Cloreto de Potássio equivale a despejar 1600 litros de água sanitária no solo.
Mesmo a aplicação de uma quantidade pequena de Cloreto de Potássio no solo, como 50Kg, ainda equivale a despejar 400 litros de água sanitária, causando danos à microbiota.
Assim, o uso de fertilizantes potássicos que sejam livres de cloro é essencial para que a compostagem seja mais eficiente.
São fertilizantes como aqueles que usem matérias-primas ricas em glauconita, um mineral que desde 1760 é utilizado nos Estados Unidos como fertilizante. Além de livre de cloro, a glauconita também ajuda a melhorar parâmetros como a CTC do solo e a retenção de água e nutrientes.
É o que explica o Dr. John Tedrow, pesquisador da Rutgers, The State Universty of New Jersey, no artigo Greensand and Greensand Soils of New Jersey: A Review:
“Os efeitos benéficos da glauconita no solo parecem estar proximamente relacionados a uma combinação de fatores, como ter uma alta capacidade de absorção de nutrientes do solo e uma capacidade de retenção de umidade relativamente alta.”
O agricultor pode otimizar a eficiência da compostagem através de boas práticas
Assim, os efeitos benéficos da compostagem para a adubação potássica são potencializados e otimizados.
O uso de fertilizantes adequados otimiza a compostagem e a adubação potássica
Em síntese, a compostagem é uma técnica que traz benefícios agrícolas e ambientais, uma vez que ela ajuda a reutilizar resíduos orgânicos e favorece a nutrição agrícola, seja disponibilizando nutrientes para as plantas, seja melhorando propriedades físico-químicas do solo.
Isso é válido para a adubação potássica e, nesse sentido, o uso de fertilizantes potássicos pode potencializar os benefícios da compostagem.
Todavia, é importante que o agricultor esteja atento às fontes de potássio utilizadas na preparação do composto agrícola, já que elas podem interferir no sucesso das técnicas. Nesse sentido, fontes livres de cloro favorecem a microbiota, elemento importante para a compostagem e otimizam os benefícios que ela traz!