O uso de fertilizantes diferentes dos convencionais, que preservam os microrganismos do solo, contribui com uma agricultura mais produtiva e sustentável. A glauconita pode ser utilizada como um desses fertilizantes por causa dos benefícios que ela traz para o solo. Mas, o que é a glauconita e quais são esses benefícios?
Entendendo o que é a glauconita e o seu uso como fertilizante
A glauconita é um mineral que pertence ao sistema cristalino monoclínico. Ela tem uma coloração esverdeada, sendo essa a origem do seu nome: do grego glaucos, significando verde azulado. Ela é um hidrossilicato de potássio e ferro, do grupo das micas.
Por causa das suas boas concentrações de potássio e silício, a presença da glauconita em determinadas rochas, como o Siltito Glauconítico, faz com que elas tenham potencial para serem utilizadas como fertilizante na agricultura.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a glauconita é utilizada como fertilizante desde 1760, onde é chamada de Greensand por causa da sua cor.
Esse uso era particularmente popular no estado de Nova Jersey, como descrito pelo Dr, John Tedrow, pesquisador da Rutgers, The State University of New Jersey, nos Estados Unido no estudo Greensand and Grensand Soils of New Jersey: A Review.
Nessa longa análise do histórico do seu uso em Nova Jersey, o Dr. Tedrow nota como isso possibilitou melhoras na produção agrícola. Além presença de nutrientes, isso acontece por causa das propriedades benéficas da glauconita para o solo.
A glauconita aumenta a capacidade de retenção de água e nutrientes do solo
Uma das melhorias que a glauconita traz para a estrutura física e química do solo é o aumento da capacidade de retenção de água e nutrientes. Segundo o Dr. Tedrow, é a estrutura desse mineral que favorece a retenção hídrica, uma vez que ela é como um “microcosmo de microporos”.
Os poros são nada menos que espaços entre as partículas da estrutura de alguma coisa. Assim, a estrutura da glauconita é organizada de tal maneira, que existem muitos pequenos espaços entre as partículas dela. A consequência é que a água e os nutrientes ficam retidos nesses pequenos espaços.
Junto à retenção hídrica, essa estrutura permite ela seja um “mineral coletor”, como ressalta o Dr. John Tedrow. Isso significa que ela consegue “adsorver” certos nutrientes do ambiente em que ela está presente.
Representação da estrutura física da glauconita, que permite que haja um aumento da capacidade da retenção de água e nutrientes.
A estrutura da glauconita tem ainda outro aspecto que aumenta o seu potencial de retenção de nutrientes no solo: a sua alta capacidade de troca catiônica (CTC).
As moléculas desse mineralestão carregadas negativamente. Isso faz com que elementos que geralmente são encontrados carregados positivamente no solo, a exemplo do potássio, possam realizar trocas de carga com a glauconita. Desse modo, eles ficam adsorvidos a ela, podendo ser liberados depois para as plantas.
A glauconita ainda consegue otimizar a adubação da lavoura com nitrogênio. Mas como isso acontece?
Reduzindo as perdas de nitrogênio com a glauconita
O nitrogênio é um dos nutrientes mais importantes para as plantas, uma vez que ele é constituinte de substâncias essenciais, como a clorofila, as proteínas, os carboidratos e as vitaminas que vão atuar no crescimento e metabolismo delas.
Assim, a adubação com nitrogênio é importante para repor e manter os níveis desse nutriente no solo. Acontece que, muitas vezes, os fertilizantes de nitrogênio mais usados – como a ureia – podem se perder através dos processos de volatilização ou lixiviação.
Graças à sua estrutura mineralógica, a glauconita ajuda a reduzir essas perdas de nitrogênio por lixiviação e volatilização. As moléculas desse mineral conseguem atrair os cátions de amônio (NH4+) presentes no solo, através de ligações químicas.
Graças à sua estrutura física, que possibilita trocas catiônicas, a glauconita ajuda a reduzir a lixiviação e a volatilização do amônio (Fonte: Débora Moreira)
Esse benefício é comprovado por estudos que mostram como fontes ricas em glauconita foram eficientes na melhora da adubação nitrogenada. É o caso da pesquisa conduzida pelo Dr. Carlos Henrique Eiterer de Souza e pelo Dr. Fábio Aurélio Dias Martins, pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)
Para esse experimento, os pesquisadores mediram a volatilização do nitrogênio fornecido com ureia em conjunto com duas fontes distintas de potássio: uma rica em glauconita e outra sem esse mineral.
A medição foi com instrumentos chamados câmaras SALE (câmara semiaberta livre estática). Esses dispositivos foram feitos com garrafas de politereftalato de etileno (PET) transparente, com volume de 2L, sem a base. Os resultados mostraram que a fonte de potássio rica em glauconita de fato diminuiu as perdas do nitrogênio.
A estrutura mais porosa da glauconita traz ainda outro benefício importante para a agricultura: ela pode criar um ótimo ambiente para que os microrganismos que tornam o solo mais saudável.
O uso da glauconita como fertilizante preserva os microrganismos do solo
Os microrganismos benéficos do solo são considerados a chave para a chamada Nova Revolução Verde, um conjunto de técnicas e processos que vão ajudar a agricultura a produzir mais e com mais qualidade. Isso porque eles são essenciais na manutenção da saúde do solo e, em consequência, na melhor produção agrícola.
Entre os benefícios que os microrganismos trazem para a agricultura, estão:
- Fixação de nutrientes como o nitrogênio;
- Disponibilização de nutrientes como fósforo e potássio para as plantas;
- Criação de relações simbióticas que fortalecem as plantas contra pragas e doenças.
Alguns estudos apontam que estruturas porosas, como a do biochar, uma espécie de carvão produzido a partir de biomassa, são um bom ambiente para que seja feita inoculação de microrganismos benéficos no solo. É como se os poros fossem uma “casa” para eles.
Similarmente, a estrutura da glauconita, com seu “microcosmo de microporos” pode ter esse mesmo efeito. Assim, esse mineral pode ser um aliado na melhor utilização das técnicas agrícolas que se utilizam dos microrganismos.
Além disso, a glauconita não tem cloro em sua composição. O excesso desse elemento no solo, além de ser tóxico para as plantas, torna o ambiente inóspito para os microrganismos. Isso porque o cloro tem um potencial altamente biocida.
Utilize fontes ricas em glauconita e tenha mais produtividade e sustentabilidade
No Brasil, o Siltito Glauconítico é uma fonte de potássio, silício e outros nutrientes que tem um alto teor de glauconita, além de comprovada eficiência agronômica.
Com todos esses benefícios, o uso de fontes ricas em glauconita no manejo nutricional traz muitas vantagens para o agricultor. Não perca isso de vista na hora de fazer a adubação da lavoura e tenha mais produtividade com sustentabilidade!