No Brasil, o consumo de fertilizantes em sistemas de produção de grãos cresceu mais de 15 vezes nos últimos 50 anos. E esse consumo só tende a aumentar com o desenvolvimento de cultivares cada vez mais produtivas e precoces. Mas, será que existe uma forma de melhorar o uso do potássio na soja sem se tornar um “refém” da crescente demanda nutricional da cultura?
A importância da aplicação de potássio na soja
O potássio é um nutriente que está intimamente ligado com parâmetros como o aumento do rendimento de grãos, acúmulo de matéria seca e altura da soja.
Vitor Antigo e outros pesquisadores observaram isso no artigo Avaliação de parâmetros agronômicos da cultura soja em resposta a diferentes doses de adubação potássica, ao verificarem que a adubação potássica:
- Aumentou em 26% o acúmulo de matéria seca;
- Aumentou em 31% a produtividade;
- Melhorou o crescimento das plantas, que alcançaram até 92cm.
Contudo, quando as demandas de potássio da soja não são atendidas, os agricultores podem sofrer um impacto severo no retorno financeiro do investimento e eficiência da colheita mecânica da lavoura.
Nessas condições, eles precisam lidar com problemas que vão desde o atraso na maturação da planta à perda de rendimento, qualidade e poder germinativo dos grãos.
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A manifestação visual dos sintomas de deficiência de potássio na soja.
Veja, a seguir, como evitar o surgimento de sintomas de deficiência de potássio na sua lavoura de soja melhorando o uso do potássio na cultura:
1. Escolher fontes de potássio que favoreçam a produtividade e qualidade da soja
Um dos primeiros aspectos a serem considerados para melhorar o uso do potássio na soja, é a escolha de fontes de potássio que favoreçam a produtividade e qualidade da cultura.
Essa escolha é importante porque ela pode afetar e impor uma série de benefícios e limitações a diversos aspectos do manejo da lavoura. Para entender mais sobre essa relação, vamos analisar o impacto da adoção de um dos fertilizantes potássicos mais utilizados, o Cloreto de Potássio (KCl).
O KCl é conhecido por ser dos fertilizantes com uma das maiores concentrações de potássio disponíveis no mercado.
Apesar desse aspecto ser uma vantagem frente ao volume do produto aplicado à lavoura, o KCl é um fertilizante muito solúvel e nem sempre é totalmente aproveitado pela lavoura. Isso acontece porque, como a planta não consegue absorver todo o potássio disponível no momento da aplicação, ele fica muito suscetível a sofrer perdas por lixiviação.
Além disso, ele pode desfavorecer a ação de bioinsumos agrícolas, ou seja, daqueles produtos que tem seu princípio ativo baseado na ação de microrganismos, materiais vegetais, orgânicos ou naturais.
No caso da soja, isso é extremamente desvantajoso, já que a cultura tem o uso de insumos biológicos para otimização da fixação de nitrogênio muito consolidado.
No artigo Effects of some synthetic fertilizers on the soil ecosystem, a pesquisadora Heide Hermary descreve que aplicar 100kg KCl é equivalente a despejar 800 litros de água sanitária no solo. Mesmo a metade dessa quantidade, 50kg, ainda equivale a 400 litros de água sanitária no solo.
Assim, a escolha de fertilizantes com baixos níveis de cloro e índices salinos mais baixos, que ajudem a preservar a biologia do solo é um passo para melhorar a eficiência da adubação potássica.
2. Ir além da melhoria das propriedades químicas do solo
Segundo o Doutor em Geologia e Pesquisador da Embrapa Cerrados, Éder de Souza Martins, a esfera do solo deve ser entendida como um ambiente que integra totalmente as quatro esferas terrestres: a litosfera, a hidrosfera, a atmosfera e a biosfera.
Ou seja, a melhoria do uso do potássio na soja é alcançada quando vamos além do uso de fertilizantes potássicos para a melhoria das propriedades químicas do solo. Para isso, o agricultor deve investir no seu solo, visando:
- Favorecer o desenvolvimento das comunidades de microrganismos;
- Aumentar a capacidade de retenção de água e nutrientes do solo;
- Manter e aumentar os teores de matéria orgânica.
3. Garantir a correção adequada do solo
A correção do solo consegue melhorar o uso do potássio na soja por meio de dois mecanismos: a correção do pH do solo e a neutralização do alumínio, um elemento tóxico que limita o crescimento radicular das plantas.
Corrigir o pH do solo é importante para garantir a máxima disponibilidade de potássio no solo, que é alcançada a partir de condições levemente ácidas a básicas do solo.
Essa correção é feita com a aplicação de calcário, que corrige condições de acidez na camada arável, aumenta a capacidade de troca catiônica (CTC) efetiva do solo e ainda é fonte de cálcio (Ca) e magnésio (Mg).
No artigo Efeito da calagem sobre a produtividade de grãos, óleo e proteína em cultivares precoces de soja, Hipólito Assunção Antônio Mascarenhas e outros pesquisadores observaram que, independentemente de cultivares, a calagem aumentou a produtividade e a concentração de proteínas nos grãos de soja.
Já a neutralização do alumínio é realizada com a aplicação de gesso agrícola, também conhecido como sulfato de cálcio. Quando ele entra em contato com a água, libera íons de sulfato que se ligam aos íons de alumínio e forma sulfato de alumínio, uma forma pouco absorvida pelas raízes das plantas.
Essa reação é especialmente vantajosa para melhorar o uso de potássio pela soja, já que um dos principais efeitos negativos gerados pela presença do alumínio no solo é a inibição da principal via de assimilação de nutrientes: as raízes.
4. Definir o melhor momento para aplicação de potássio na lavoura
A definição do melhor momento para aplicação de potássio na lavoura tem por objetivo garantir uma melhor sincronia entre a taxa de liberação do fertilizante e a taxa de absorção de nutrientes pela planta.
A velocidade de liberação de potássio pelo fertilizante será maior e mais rápida para aqueles mais solúveis, enquanto os fertilizantes de liberação gradual terão uma liberação mais lenta e prolongada de potássio durante o ciclo da cultura.
Nesse sentido, as fontes de liberação gradual de potássio irão auxiliar a cultura a alcançar seu o máximo potencial produtivo quando aplicadas mais no início do ciclo de cultivo. Já os fertilizantes potássicos solúveis conseguem um melhor aproveitamento e melhor resposta nos períodos de maior exigência nutricional da lavoura de soja.
Os períodos de maiores exigência nutricional podem ser observados através da marcha de absorção de nutrientes, que representa a porcentagem de acúmulo do nutriente em função dos dias após a emergência.
Acúmulo de potássio na planta inteira e nos diferentes componentes da parte aérea das plantas de soja BRS 1001, em função dos dias após emergência (DAE). (Fonte: ARAÚJO, 2018)
5. Se atentar na escolha do local de aplicação do fertilizante potássico
Também é muito importante se atentar a escolha do local de aplicação do fertilizante potássico, principalmente, quando a fonte de potássio escolhida tiver um elevado índice salino.
O índice salino é uma medida da tendência do fertilizante para aumentar a pressão osmótica, que está muito relacionada com o fluxo de água do solo. Ou seja, quanto mais alto for o índice salino, maiores poderão ser as consequências negativas para o sistema de produção, principalmente nas fases iniciais de desenvolvimento da soja.
Segundo a Embrapa, em condições de baixa umidade do solo, a água disponível no solo, que deveria ser utilizada no processo de germinação das sementes, é desviada por causa da elevada concentração salina nas proximidades, provocando possíveis atrasos na germinação, emergência e consequentemente a redução na população de plantas.
Uma das formas de se minimizar os efeitos do elevado índice salino de alguns fertilizantes potássicos, como o Cloreto de Potássio, é com o parcelamento das aplicações.
Entretanto, essa ação pode aumentar os custos de produção do agricultor. Por isso o mais recomendável é a utilização de fontes de potássio com baixo índice salino que não apresentam essa limitação.
6. Aplicar a dosagem recomendada de potássio na lavoura
Aplicar a dosagem recomendada de potássio vai muito além das tabelas de recomendação de adubação para soja. A dosagem adequada de potássio para a lavoura envolve um estudo profundo da real condição de fertilidade do solo, através das análises de solo.
As análises laboratoriais de rotina, geralmente, medem apenas o potássio que está nos “reservatórios” do solo que apresentam disponibilidade mais rápida (a solução e a trocável), como o uso de extratores como Mehlich e resina.
Mas, o melhor uso do potássio na soja é alcançado quando o agricultor amplia a visão do ciclo do potássio no solo e também dos métodos de análise e usa a análise foliar como uma ferramenta para entender como a aplicação de fertilizantes potássicos tem sido eficiente em nutrir as plantas.
7. Explorar outros sistemas produtivos
Com o avanço das pesquisas e o desenvolvimento de novas tecnologias, os sistemas de produção tradicionais em áreas de cultivo mais antigos vêm perdendo seu espaço no agronegócio.
A crescente degradação e perda de fertilidade do solo nessas áreas, associada a intensificação dos problemas com pragas e doenças, tem levado a cenários de baixa produtividade e rentabilidade.
Com isso, cada vez mais o agricultor deve explorar a implementação de outros sistemas produtivos, para garantir um manejo nutricional eficiente em sistemas de cultivo grãos.
A utilização de sistemas de cultivo mais conservacionistas, com revolvimento mínimo, rotação de culturas são algumas das recomendações do Doutor em Ciência do Solo Renan Costa Beber Vieira.
Mas, como aplicar essas diferentes dicas parar melhorar o uso do potássio na soja?
As práticas de adubação potássica da soja devem fazer parte de um cultivo e manejo integrados
A melhoria do uso do potássio na soja só se concretiza quando a condução da lavoura é realizada de forma integrada, com as diversas ferramentas disponíveis para o agricultor.
Ou seja, o máximo potencial dessas ferramentas é alcançado quando elas são usadas em conjunto, e não de forma isolada.
Assim, quanto mais ferramentas o agricultor adotar de forma integrada no cultivo e manejo da lavoura, melhores serão os resultados com as boas práticas de adubação potássica em soja.