Você sabia que uma planta pode apresentar sintomas de deficiência mesmo depois de adubada? Esse fenômeno é um dos resultados da dinâmica que ocorre entre os nutrientes no solo, que pode tanto favorecer quanto inibir a disponibilidade deles para as plantas, como ocorre na relação cálcio, magnésio e potássio. Conheça mais sobre a importância de se entender sobre a relação entre esses nutrientes, buscando otimizar ainda mais o manejo da adubação!
A relação cálcio, magnésio e potássio na dinâmica do solo
O solo é considerado um ecossistema muito dinâmico, que estabelece constantemente diferentes interações e transformações entre os seus componentes químicos, físicos e biológicos.
Essa mesma dinâmica também está presente na relação que acontece entre os nutrientes e elementos presentes no solo.
Alguns nutrientes, como o boro e o potássio, estabelecem uma relação benéfica para as plantas quando aplicados em conjunto, já que a presença de um favorece a absorção do outro. Para essa relação, se atribui o nome de sinergismo.
A interação de sinergismo pode ser muito usada para otimizar a adubação da lavoura.
O inverso também pode acontecer, quando a presença de um nutriente diminui a absorção de outro, independente da sua concentração no meio. É o que acontece entre cobre e o cálcio, por exemplo, sendo essa interação conhecida como antagonismo.
Além disso, um terceiro tipo de interação pode acontecer, conhecida como inibição.
Na inibição, a presença em excesso de um nutriente diminui a absorção de outro. Ela pode ser não-competitiva, quando os nutrientes são absorvidos por estruturas vegetais diferentes, ou competitiva, quando eles são absorvidos pelas mesmas estruturas.
No caso da relação cálcio, magnésio e potássio, geralmente, acontece a inibição competitiva. Isso porque as características físicas e os potenciais elétricos e químicos dos espaços externos às membranas plasmáticas celulares das plantas tendem a promover uma maior retenção de cátions divalentes, como o magnésio e o cálcio, do que os monovalentes, como o potássio.
Ou seja, quando esses nutrientes do solo não se encontram em equilíbrio, facilmente as plantas podem apresentar sintomas de deficiência, mesmo que os seus teores no solo estejam adequados.
É o que explicam Carlos Alberto Costa Veloso e outros pesquisadores, no artigo Relações cálcio, magnésio e potássio sobre a produção de matéria seca de milho.
Mas, se isso acontece, por que a deficiência induzida de plantas ainda é uma realidade no campo?
O manejo do equilíbrio de nutrientes no solo
Um dos primeiros passos para manter o equilíbrio adequado de nutrientes no solo, consiste na análise adequada do solo.
Muitos nutrientes, como o potássio, se encontram em diferentes frações do solo. Assim, buscar entender o seu real estado de fertilidade, através da escolha dos métodos de análise mais adequados, é imprescindível para evitar a subestimação ou superestimação dos teores de nutrientes do solo ou mesmo do potencial dos fertilizantes.
A escolha do método de análise de solo para potássio, por exemplo, pode ser feita considerando o ciclo de duração da cultura. Como sugerem os autores do livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops.
Para culturas de ciclo curto, como hortaliças e grãos, o objetivo deve ser caracterizar adequadamente o potássio prontamente disponível nas camadas do solo com uma alta densidade de raízes. Já que o sistema radicular dessas plantas não terá tempo suficiente para degradar os minerais e liberar o potássio “preso” em outros reservatórios do solo.
Já as culturas de safra mais longa, como a cana-de-açúcar, têm mais tempo para acessar o potássio retido na superfície e nas intercamadas dos minerais do solo.
Nessas condições, é importante avaliar a capacidade do solo em fornecer potássio à médio prazo, ou seja, avaliar os reservatórios de potássio de liberação lenta.
Outra prática agrícola que pode interferir no equilíbrio entre o cálcio, magnésio e potássio no solo é a escolha dos fertilizantes.
Geralmente, fertilizantes muito solúveis em água tendem a disponibilizar a maior parte do seu conteúdo de nutrientes após a aplicação. E, como a planta não consegue absorver todos os nutrientes em um só momento, a solução do solo acaba acumulando grandes concentrações de nutrientes, que podem levar a inibição competitiva.
Também podem existir casos da falta de conhecimento de outras fontes de nutrientes, como acontece no caso do magnésio, em que o calcário dolomítico é tido como uma das principais fontes de nutrientes para as plantas.
Nesse caso, aplicar dosagens de calcário acima do recomendado para suprir a demanda de magnésio das plantas não é uma estratégia assertiva. Isso porque o cálcio estabelece uma relação de inibição competitiva com o magnésio.
No mesmo estudo conduzido por Carlos Alberto Costa Veloso, os pesquisadores observaram que à medida em que se diminui o teor de cálcio no equilíbrio, foi aumentado o teor de magnésio no solo antes do plantio.
Assim, acompanhar os índices de saturações dos nutrientes no complexo de troca catiônico no solo constitui-se de uma outra prática que pode ser avaliada pelo agricultor.
Alguns trabalhos têm demonstrado a grande importância das relações (Ca+Mg)/K, Ca/K e Ca/Mg sobre a disponibilidade de nutrientes para as plantas
Em alguns estudos se é preconizado alcançar as seguintes saturações dos nutrientes no seu complexo de troca:
- Cálcio: 65% – 85%;
- Magnésio: 4% – 12%;
- Potássio: 2% – 5%.
Além disso, também é possível encontrar alguns valores médio das relações (Ca+Mg)/K, Ca/K e Ca/Mg sobre a disponibilidade de nutrientes para cada cultura. Sendo sempre importante considerar também o tipo de solo nessa relação.
No artigo Disponibilidade de potássio e suas relações com cálcio e magnésio em soja cultivada em casa-de-vegetação, Fábio Alvares de Oliveira e outros pesquisadores observaram que as maiores produções, associadas ao maior equilíbrio dos teores foliares de potássio, cálcio e magnésio, foram alcançadas quando a relação (Ca+Mg)/K trocável no solo apresentava-se entre 20 e 30.
Entender a relação cálcio, magnésio e potássio no solo ajuda a ter boas práticas de manutenção de equilíbrio no solo
Em resumo, conhecer sobre as interações entre os nutrientes e entender as relações entre eles, como a relação cálcio, magnésio e potássio no solo, ajuda o agricultor a trabalhar o manejo de maneira mais assertiva.
Para isso, o uso em conjunto das práticas mais adequadas de análise de solo, a escolha de fertilizantes e o ajuste da saturação dos nutrientes na CTC se constituem de importantes ferramentas a serem adotadas pelo agricultor para manter o equilíbrio de nutrientes no solo.