Qual a importância da relação cálcio e magnésio no solo?

Qual a importância da relação cálcio e magnésio no solo?

O solo é um ambiente muito dinâmico, no qual constantemente são estabelecidas relações entre os diferentes elementos que o compõe. Essa dinâmica também se estende aos nutrientes do solo, que podem ter a sua disponibilidade afetada dependendo das interações que estabelecem entre eles. Conheça a seguir uma delas, a relação entre o cálcio e magnésio no solo, e como ela influencia no manejo agrícola!

A interação entre cálcio e magnésio no solo

O crescimento e produção de diferentes culturas agrícolas dependem, em grande parte, dos nutrientes presentes no solo. Nele, são encontrados 14 dos 17 nutrientes essenciais para a sobrevivência das plantas, incluindo o cálcio e o magnésio.

Segundo o renomado engenheiro agrônomo Eurípedes Malavolta, o cálcio (Ca) é essencial para manutenção da integridade estrutural e funcional das membranas e paredes celulares vegetais.

Já o magnésio (Mg) é fundamental para o processo de fotossíntese e diversos outros processos fisiológicos e de nutrição das plantas.

Isso porque ele é responsável por ativar mais enzimas que qualquer outro nutriente, além de ser o constituinte do principal pigmento fotossintético das plantas: a clorofila.

Apesar de ambos os nutrientes serem igualmente importantes para a sobrevivência das plantas, a presença em excesso de um elemento pode diminuir a absorção do outro. A essa interação, é denominado “inibição competitiva”.

Os nutrientes podem ter interações entre si, incluindo as de antagonismo, a exemplo da inibição competitiva.

No artigo Uptake of magnesium & its interaction with calcium in excised barley roots, David P. Moore e outros pesquisadores constataram esse efeito.

Os resultados do estudo mostraram que o excesso de cálcio, em relação ao magnésio na solução do solo, prejudicou a absorção de magnésio pelas plantas, sendo o inverso também verdadeiro.

Esse efeito inibitório estabelecido entre o cálcio e o magnésio na solução do solo acontece porque ambos os nutrientes possuem propriedades químicas próximas. Com isso, eles passam a competir pelos mesmos sítios de adsorção no solo e na absorção pelas raízes das plantas.

Entretanto, verifica-se que o cálcio apresenta uma preferência ligeiramente maior em relação ao magnésio no complexo de troca do solo, o que pode reduzir a disponibilidade de magnésio para as plantas a longo prazo.

É o que explicam J.S.P Yadav e outros pesquisadores, no artigo The effects of different magnesium:calcium rations and sodium adsorption ratio values fo leaching water on the properties of calcareous versus noncalcareus soils.

Se tanto o cálcio quanto o magnésio são essenciais para nutrição das plantas, como alcançar um bom equilíbrio entre esses dois nutrientes de forma que seja mantido uma boa disponibilidade de ambos?

Qual a relação ideal entre o cálcio e magnésio no solo?

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) preconiza que a relação cálcio e magnésio ideal no solo, para a maioria das culturas, varia de 3:1 a 5:1, ou seja, de 3 ou 5 partes de cálcio para 1 parte de magnésio.

Normalmente, quando essa proporção é mantida as plantas conseguem aproveitar ao máximo ambos os nutrientes, sem que um interfira na disponibilidade do outro. Entretanto, vale ressaltar que existem variações em função do manejo adotado e variedades cultivadas.

No artigo Relações cálcio:magnésio e características químicas do solo sob cultivo de soja e milho, por exemplo, Anderson Lange e outros pesquisadores observaram que o acúmulo de massa seca radicular e da parte aérea da soja e do milho foi favorecido nas relações Ca:Mg iguais ou superiores a 4:1.

Contudo, quando foram analisadas isoladamente cada cultura, a maior produção de grãos de soja também foi obtida nas relações 2:1, 1:1 e 5:1. E a produção de grãos de milho só foi prejudicada na relação de 6:1, em que a massa de mil grãos foi menor.

Na prática, o ajuste da relação cálcio e magnésio no solo se dá através de práticas de correção e adubação do solo.

O uso do calcário, por exemplo, já é muito difundido na agricultura para correção da acidez do solo e para o fornecimento de cálcio e magnésio para as plantas, uma vez que esse insumo apresenta diferentes variações no mercado, como:

  • O calcário calcítico, em que predominam os íons de Ca em relação aos de Mg;
  • O calcário magnesiano, em que existe um equilíbrio entre os teores de Ca e Mg;
  • O calcário dolomítico, em que predominam os íons de Mg em relação aos de Ca.

Apesar disso, alguns estudos indicam que práticas inadequadas de calagem, incluindo a supercalagem e o uso de somente um tipo de calcário por períodos prolongados, podem levar ao desequilíbrio entre o cálcio e o magnésio no solo e levar a indução de sintomas de deficiência nas plantas.

Além disso, como o cálcio apresenta uma maior preferência em relação ao magnésio no complexo de troca do solo e o magnésio apresenta uma alta mobilidade no solo, é recomendável que o ajuste dos teores de magnésio no solo não seja feito através da calagem, e sim com o uso de fertilizantes apropriados.

Dentre as diferentes fontes de magnésio disponíveis no mercado, aquelas de liberação progressiva e com longo efeito residual tendem a favorecer um melhor equilíbrio de nutrientes no solo.

Isso porque elas conseguem prolongar os benefícios que os fertilizantes podem oferecer para o solo e para as plantas, ao manter os níveis de nutrientes no solo ficam estáveis por mais tempo e reduzir as perdas de nutrientes por lixiviação.

Assim, através desses cuidados, o manejo do magnésio e cálcio no solo pode ser amplamente beneficiado.

O sucesso da correção da relação cálcio e magnésio no solo deve contar com a inclusão de fontes de magnésio

Sendo assim, apesar do cálcio e o magnésio apresentarem um efeito inibitório sobre a sua disponibilidade no solo, ambos são indispensáveis para o crescimento e produção de diversas culturas agrícolas.

Com isso, é preciso que o agricultor busque alcançar um equilíbrio da relação cálcio e magnésio na solução do solo. Equilíbrio esse que pode ser alcançado adotando práticas adequadas de correção do solo e com a escolha de fontes adequadas de nutrientes para a sua lavoura, a exemplo daquelas de liberação progressiva e com longo efeito residual!

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