Na hora da adubação, pode ser comum pensar que quanto mais solúvel for uma fonte de nutrientes, mais disponíveis eles estarão para a planta. Entretanto, esse é um raciocínio que pode ser equivocado, já que existe uma grande diferença entre a solubilidade em água e a disponibilidade de nutrientes. Veja a seguir qual é ela!
O que é disponibilidade de nutrientes?
Quando pensamos no uso de fontes de nutrientes na agricultura, a disponibilidade deles corresponde a todas as reações e processos pelos quais passa um nutriente desde a sua liberação na solução do solo até sua absorção durante o ciclo de uma cultura.
Esse conceito, citado pelo professor Ríbamar Silva, da Universidade Federal do Acre, mostra que existe uma interdependência entre a liberação de nutrientes na solução do solo e a capacidade desse mesmo nutriente permanecer na região da rizosfera da planta para ser utilizado.
Por isso, o que se busca em um fertilizante é a disponibilidade de nutrientes e não a solubilidade em água. É o que destaca o renomado professor William Albrecht, no artigo Insoluble yet available.
Fertilizantes com alta solubilidade em água, apesar de geralmente já liberarem seu conteúdo diretamente na solução do solo, não conseguem ficar por muito tempo nas camadas mais superficiais do solo, onde as raízes se concentram. E, com isso, não vão conseguir criar uma boa disponibilidade de nutrientes para as plantas.
Em alguns casos, essa rápida disponibilização é desejada para suprir a demanda nutricional imediata da planta. Contudo, as consequências a longo prazo da elevada solubilidade não são tão favoráveis.
Isso acontece, principalmente, em virtude do processo de lixiviação, em que o escoamento vertical das águas superficiais no perfil do solo transporta os nutrientes e outros elementos químicos para profundidades além daquelas ocupadas pelas raízes das plantas.
Assim, logo na primeira chuva, grande parte dos fertilizantes solúveis em água acaba sendo perdida, podendo trazer prejuízos econômicos e ambientais para o agricultor.
No livro Fertilizantes de eficiência aprimorada, os pesquisadores Márcio Valderrama e Salatiér Buzetti estimam que 40% a 70% dos fertilizantes usados no manejo agrícola podem se perder por lixiviação e volatilização.
É muito importante saber a diferença entre solubilidade e disponibilidade na hora de escolher os fertilizantes para a lavoura.
Para contornar esse problema, um dos recursos encontrados para manter os nutrientes acessíveis para as plantas por períodos mais prolongados na região da rizosfera das plantas é a liberação progressiva de nutrientes.
A disponibilidade dos nutrientes a favor da produtividade agrícola
Como mencionado anteriormente, uma das formas para os nutrientes permanecerem disponíveis para absorção vegetal por períodos mais prolongados foi alcançado com o desenvolvimento dos fertilizantes de liberação progressiva.
Eles possuem uma solubilidade em água muito menor que as fertilizantes convencionais, ou muitas vezes são totalmente insolúveis, de forma a fazer com que a liberação dos nutrientes entre em sincronia com as necessidades nutricionais das plantas.
Sincronia essa que é alcançada pela ação de diferentes agentes químicos, biológicos ou físicos para liberação progressiva dos nutrientes. Assim, o resultado é um aproveitamento mais efetivo dos nutrientes aplicados, evitando as perdas por lixiviação.
Ainda no artigo Insoluble yet available, o professor William Albrecht ressalta, por exemplo, a importância dos exsudatos radiculares e dos microrganismos do solo para solubilizar os nutrientes e torná-los disponíveis às plantas.
A expansão do sistema radicular promove uma maior fragmentação mineral do solo, aumentando a área para atuação dos microrganismos na mobilização mineral. Ela também fornece o substrato necessário para crescimento das comunidades microscópicas do solo, por meio da liberação dos exsudatos radiculares.
As bactérias, por sua vez, produzem fito-hormônios que estimulam o desenvolvimento das raízes e ajudam a melhorar a absorção de água e mobilização dos nutrientes dos minerais, através da produção de metabólitos.
Os metabólitos envolvidos nesse processo geralmente estão associados à produção de ácidos orgânicos. Essas substâncias agem acidificando o meio e podem desestabilizar os minerais e fertilizantes presentes, liberando, assim, os nutrientes para a solução do solo.
Dessa forma, o uso de práticas agrícolas que favoreçam a saúde das raízes das plantas e a microbiota do solo são imprescindíveis para que os fertilizantes de liberação progressiva alcancem o seu máximo potencial.
Depois de entender melhor a diferença entre a disponibilidade e a solubilidade em água de nutrientes, também é preciso saber como identificar esses dois parâmetros na prática.
Como identificar a solubilidade em água e disponibilidade dos fertilizantes
Para identificar a solubilidade em água e a disponibilidade dos fertilizantes, é importante que o agricultor utilize dois recursos importantes: as especificações contidas no registro do produto e as análises laboratoriais.
A solubilidade de cada fertilizante pode ser encontrada nas especificações contidas no registro do produto. Sendo que, neste ponto, é importante que o agricultor oriente a sua escolha com base nas condições da lavoura e no objetivo final do sistema de produção.
Quando o objetivo é a construção e manutenção da fertilidade do solo, os fertilizantes que vão proporcionar a melhor disponibilidade de nutrientes no decorrer do ciclo da cultura são aqueles de liberação progressiva, que tem uma menor solubilidade.
Independentemente da escolha, a recomendação e o monitoramento de qualquer fonte de nutriente também vão depender da mensuração da disponibilidade de nutrientes. E isso pode ser feito através das análises laboratoriais.
Para conduzir uma análise assertiva, o agricultor deve ser muito cauteloso na escolha do método para não subestimar nem superestimar a condição do solo ou o potencial do fertilizante.
Somente no livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops, Michael J. Bell e seus colegas pesquisadores citam 19 métodos para avaliar a disponibilidade de potássio, por exemplo, cada um com suas particularidades.
Nesse sentido, é essencial ampliar a visão do ciclo dos nutrientes no solo e também dos métodos de análise para garantir a avaliação do real estado de fertilidade do solo ou do fertilizante.
Uma visão mais ampliada do ciclo do potássio no solo. (Fonte: adaptado de Bell et al., 2021)
Com isso em mente, o manejo nutricional é mais assertivo e eficiente.
Priorizar a disponibilidade dos nutrientes é o caminho para uma agricultura mais rentável e produtiva
Em resumo, a solubilidade em água e a disponibilidade de nutrientes devem ser conceitos tratados de forma diferente na hora da escolha dos fertilizantes para a lavoura.
Assim, é importante que o agricultor tenha compreensão da diferença entre solubilidade em água e disponibilidade na hora de pensar o manejo nutricional da lavoura. Nem sempre uma alta solubilidade em água é garantia de que os fertilizantes serão mais eficientes.
Já a disponibilidade dos nutrientes é o que garante que as plantas consigam absorver os nutrientes de maneira adequada.
Dessa maneira, é preciso priorizar a disponibilidade dos nutrientes no solo para as plantas. E uma das formas de fazer isso é através do uso de fertilizantes de liberação progressiva!