Anualmente, a agricultura brasileira consome mais de 10 milhões de toneladas de potássio. Porém, nem todo esse volume é aproveitado pelas plantas, o que coloca em jogo a produtividade e rentabilidade de muitos agricultores, ainda mais com o constante aumento do preço dos fertilizantes. Entenda mais sobre quais são os fatores que afetam a disponibilidade de potássio no solo e como evitá-los!
A dinâmica de potássio no solo
O potássio é considerado um dos elementos mais móveis no sistema solo-planta, participando de diversas funções essenciais para o desenvolvimento e produtividade das culturas, que vão desde ativação enzimática à amenização de estresses bióticos e abióticos.
Essa mobilidade é favorecida pelo fato de que o potássio não é metabolizado no interior das plantas. Ou seja, ele forma apenas complexos fracos, que podem facilmente ser rompidos, permitindo assim, seu rápido retorno para a solução do solo.
No estudo Potassium Uptake by Corn and Soybean, Recycling to Soil, and Impact on Soil Test Potassium, os pesquisadores Ryan R. Oltmans e Antonio P. Mallarino observaram que mais de 80% do potássio acumulado nos tecidos vegetativos da soja já tinha sido liberado para o solo num período de aproximadamente 7 meses.
Todavia, essa rápida disponibilização não necessariamente favorece os atributos de fertilidade do solo, já que os nutrientes podem ser facilmente perdidos em um curto espaço de tempo dependendo das condições do solo e do manejo do agroecossistema.
Dentre os principais fatores que afetam a disponibilidade de potássio no solo, o Dr. Roberto Santinato, da Santinato & Santinato Cafés, destaca alguns:
1. Recomendação de adubação
As recomendações de adubação são uma prática corriqueira no dia a dia do agricultor, buscando aliar um bom retorno financeiro à dose ideal de nutrientes para atender as exigências nutricionais das culturas.
Contudo, geralmente esse processo de análise do solo e recomendação de adubação consideram apenas o potássio que está nos “reservatórios” do solo de disponibilidade mais rápida. Condição esta que pode levar a sub ou superestimação do real estado de fertilidade do solo.
Só no livro Improving Potassium Recommendations for Agricultural Crops, Sylvie M. Brouder e outros pesquisadores descrevem mais de 10 “reservatórios” de potássio no sistema solo-planta no capítulo The Potassium Cycle and Its Relationship to Recommendation Development.
Por isso, é muito importante adequar o método de análise de potássio do solo ao objetivo da produção agrícola.
2. Fertilizante potássico escolhido
Da mesma forma que as análises de solo de rotina tendem a analisar apenas os “reservatórios” de potássio do solo de disponibilidade mais rápida, também existe uma tendência para utilização de fertilizantes potássicos de liberação imediata.
Entretanto, a liberação imediata dos nutrientes geralmente traz vantagens a curto prazo ou em condições de extrema necessidade, quando, por exemplo, o solo apresenta baixos teores de nutrientes ou as plantas já estão manifestando sintomas de deficiência nutricional.
Essas limitações acontecem porque não existe equilíbrio entre a taxa de disponibilização de nutrientes e taxa de absorção de potássio pelas plantas, que pode levar a uma intensificação das perdas de potássio na lavoura, manifestação de sintomas de toxicidade nas plantas ou ainda a inibição da absorção de outros nutrientes.
Para construção e manutenção da fertilidade do solo, os fertilizantes de liberação gradual são os mais recomendados, devido aos diversos benefícios que eles podem promover no sistema de produção.
3. Manejo do solo
As características do solo também são outro fator que pode afetar a disponibilidade de potássio, principalmente, com nem relação ao manejo do pH e capacidade de troca catiônica (CTC) do solo.
Solos muito ácidos ou muito básicos diminuem a disponibilidade de nutrientes, como também a atividade de microrganismos benéficos do solo. Isso porque a solubilidade dos nutrientes está muito associada ao pH do solo, que tendem a estar mais disponíveis para planta em solos levemente ácidos a neutros.
Já a CTC está relacionada com a carga iônica que o potássio assume no solo, que é positiva. Como a capacidade de troca catiônica mede a quantidade de cargas negativas presentes no solo, se esse número for baixo, o potássio não conseguirá ficar retido temporariamente nas partículas e pode ser carregado para as camadas mais profundas do solo.
Nesse sentido, as técnicas de correção do solo, juntamente com a incorporação e manutenção da matéria orgânica do solo, são essenciais para o manejo adequado do pH e da CTC do solo, respectivamente.
4. Técnicas de correção do solo
As técnicas de correção do solo, assim como qualquer outra prática agrícola, exigem o uso de boas práticas para sua execução, já que em algumas condições elas podem desfavorecer a disponibilidade de potássio no solo.
O excesso de íons de cálcio e magnésio no solo causados pela supercalagem, por exemplo, estabelecem uma condição de inibição competitiva com os íons de potássio, podendo reduzir a sua absorção pelas plantas.
Já o excesso de gesso pode levar o potássio para as camadas mais profundas do solo, para fora do alcance das raízes das plantas.
Dessa forma, as técnicas de correção do solo devem sempre ser orientadas por profissionais especializados.
5. Condições de estresse
As plantas reagem por meio de diferentes mecanismos quando expostas a condições de estresse, com o objetivo de manter seu crescimento e reprodução mesmo em situações desfavoráveis, como:
- Alta incidência de plantas daninhas;
- Elevados teores de sais no solo;
- Condições de déficit hídrico;
- Ataque de pragas e doenças.
Porém, essas respostas geralmente levam ao comprometimento da absorção de água e nutrientes pelas plantas ou mesmo podem ter sua demanda por nutrientes aumentada. Condição observada pelo pesquisador Ismail Cakmak, no artigo The role of potassium in alleviating detrimental effects of abiotic stresses in plants.
O pesquisador explica que em condições de estresse hídrico, por exemplo, a planta tem sua demanda por potássio aumentada, para manter a fotossíntese e proteger os cloroplastos de danos oxidativos.
Por isso, práticas agrícolas preventivas e corretivas assumem um papel muito importante na mitigação dos efeitos negativos dos estresses na disponibilidade de potássio no solo. Mas, o potássio também pode assumir um importante papel para lidar como elas.
Otimizar a disponibilidade de potássio no solo potencializa os benefícios desse nutriente
Ao se evitar os principais fatores que afetam a disponibilidade de potássio no solo, o agricultor também favorece os benefícios que o potássio pode promover para o seu agroecossistema, como a mitigação dos efeitos dos estresses bióticos e abióticos.
A presença de potássio em níveis adequados confere maior resistência aos tecidos, por aumentar a espessura da cutícula e da parede celular das plantas. Dessa forma, ele é responsável por dificultar a penetração dos fitopatógenos e o progresso da infecção.
Esse macronutriente também ajuda a reduzir o ponto de congelamento da seiva de algumas culturas, mitigando os efeitos negativos da geada na planta.
Assim, ao favorecer a disponibilidade de potássio no solo com a escolha de fertilizantes adequados, o agricultor potencializa todos os benefícios que esse nutriente promove na saúde, produtividade e qualidade da lavoura!