A compactação do solo é um dos fatores que levam às perdas de produtividade na agricultura. Com o passar dos anos, esse fenômeno foi se tornando cada vez mais recorrente, principalmente com a intensificação do uso das máquinas agrícolas. Entenda o que é a compactação do solo e como ela pode afetar a sua lavoura.
A compactação do solo e a sua relação com as plantas
A compactação do solo é um fenômeno complexo e que pode ocorrer devido a causas naturais ou a intervenção do homem. Quando um solo se torna mais compactado, suas propriedades e características físicas e químicas se alteram.
Os principais fatores envolvidos na ocorrência da compactação do solo são:
- Tráfego intenso de máquinas;
- Preparo de solo com umidade inadequada;
- Histórico da área (compactação subsuperficial);
- Mobilização desnecessária do solo.
Na agricultura, as principais consequências de um solo compactado são sentidas no crescimento das raízes das plantas, pois existe a redução no armazenamento de água e oxigênio no solo.
Essas consequências foram apontadas no artigo Compactação do solo no desenvolvimento radicular e na produtividade da soja, pelos pesquisadores Amauri Nelson Beulter e José Frederico Centurion.
O estudo apontou que nos solos compactados há diminuição da porosidade, da disponibilidade de água e da difusão de gases, parâmetros que têm relações fundamentais com o desenvolvimento das raízes.
A compactação pode ocorrer no solo em duas principais formas: superficial e subsuperficial. A primeira é causada principalmente pela pressão em área com o tráfego de máquinas e animais. Já a segunda, popularmente conhecida como “pé-de-grade” ou “pé-de-arado”, é atribuída a pressão localizada de implementos agrícolas.
Com raízes menos desenvolvidas, as plantas ficam mais vulneráveis a situações de estresse hídrico. Isso acontece porque as raízes tem um impedimento físico para o seu pleno desenvolvimento e acabam ficando concentradas nas camadas mais superficiais do solo.
Geralmente, as plantas que sofrem mais severamente com os efeitos do estresse hídrico potencializado pela compactação do solo são aquelas com sistemas radiculares mais profundos.
Representação dos dois principais tipos de sistemas radicular das plantas. O sistema radicular fasciculado é encontrado principalmente em monocotiledôneas, como o milho, e o sistema radicular pivotante em dicotiledôneas, como a soja.
Além disso, o baixo desenvolvimento do sistema radicular também limita o acesso da planta a nutrientes pouco móveis no solo, como o fósforo, o cálcio e o magnésio. Se essa limitação for combinada com uma baixa diversidade de microrganismos no solo, o potencial da planta em responder aos programas de adubação se torna mínimo.
Isso acontece porque os microrganismos tem um papel essencial no estabelecimento relações simbióticas com as raízes das plantas, para aumentar a sua área de contato com o solo e consequentemente com a água e os nutrientes.
E a manutenção da saúde do ecossistema do solo vida no solo também é diretamente dependente das raízes. Elas também exercem um papel essencial na manutenção do ciclo da matéria orgânica e propiciando a existência de microrganismos benéficos com o fornecimento de exsudatos radiculares, como os carboidratos, que servem de alimento para essas populações.
Pesquisas sobre os microrganismos presentes no solo tem comprovado uma série de relações e efeitos benéficos que eles têm com o solo e as plantas, como apresentados no documento Microrganismos promotores do crescimento de plantas:
- Atuando na mobilização e transporte de nutrientes;
- Realizando a fixação, solubilização e mineralização de nutrientes, como o nitrogênio e fósforo;
- Aumentando a área de absorção das raízes;
- Produção de fito-hormônios e de compostos orgânicos voláteis que estimulam o desenvolvimento vegetal;
- Protegendo as plantas contra pragas e doenças.
Se a compactação do solo causa tantos problemas para as plantas e limitam diversas relações benéficas que se estabelecem entre ambos, como então mitigar os efeitos desse fenômeno?
Como controlar a compactação do solo
Para controlar a compactação do solo, o primeiro passo é realização de um diagnóstico, para garantir uma maior perenidade do processo de descompactação do solo. Ele deve contemplar a avaliação dos seguintes parâmetros:
- Contexto agronômico;
- Estrutura em campo;
- Indicadores físicos em campo e em laboratório.
As análises desses dados por um profissional especializado irão levar à criação de um plano de manejo, que deve trabalhar de forma integrada com todos os demais fatores envolvidos em uma produção agrícola.
O manejo da compactação vai se basear numa construção completa da fertilidade do solo, com o uso de algumas práticas específicas, como a rotação de culturas e mantendo uma microbiologia do solo mais ativa.
A própria escolha dos insumos que compõe o programa de adubação da cultura também é outro fator muito importante a ser avaliado. Alguns fertilizantes, como o Cloreto de Potássio (KCl), potencializam a ocorrência da compactação.
No artigo Stabilization of Expansive Soil Using Potassium Chloride, Rajesh Prasad Shukla e outros pesquisadores da Universidade de Roorkee, na Índia, estudaram o comportamento de solos expansivos quando expostos a ação de Cloreto de Potássio (KCl).
Esse tipo de solo se expande ou se compacta de acordo com a quantidade de umidade presente em suas partículas. Os pesquisadores indianos verificaram que o uso de KCl, o fertilizante potássico mais utilizado na agricultura, retenção da umidade e aumenta a compactação do solo.
Dessa forma, também é importante escolher fertilizantes que mantenham a estrutura do solo saudável, propiciando o bom desenvolvimento das raízes e, gerando plantas mais fortes e produtivas.