Entenda o que causa a deficiência de potássio em pastagens e como evitá-la

Entenda o que causa a deficiência de potássio em pastagens e como evitá-la

A degradação das pastagens é um sério problema no Brasil, chegando a afetar de 80 a 100 milhões de hectares, segundo o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig). Parte desse problema está diretamente relacionado à condução inadequada ou ineficiente dos programas de adubação de nutrientes essenciais, como o potássio. Entenda o que causa a deficiência de potássio em pastagens e como evitá-la.

O problema da adubação inadequada de pastagens

A condução inadequada ou ineficiente dos programas de adubação de pastagens é uma situação muito recorrente no Brasil.

Em uma recente publicação na revista científica Royal Society Open Science, pesquisadores brasileiros apontaram que a recuperação de pastagens degradadas, com técnicas já existentes, poderia aumentar em 9,7% o rebanho bovino do país.

Dentre os diferentes nutrientes mais requeridos, o potássio vem se destacando frente aos seus impactos no crescimento das plantas e na própria saúde do rebanho.

As pastagens deficientes em potássio inicialmente não apresentam muitos sintomas visíveis, mas sofrem com a redução da taxa de crescimento vegetativo e radicular das plantas.

Com a progressão dos sintomas, os colmos se tornam mais finos e menos resistentes ao tombamento, reduzindo o perfilhamento e ainda provocando a clorose e necrose das folhas mais velhas.

Sintomas de deficiência de potássio expressados em capins sob diferentes níveis nutricionais.

Sintomas de deficiência de potássio expressados em capins sob diferentes níveis nutricionais. (Fonte: Motta, 2016)

Além dos sintomas de deficiências nutricionais prejudicarem o desempenho das plantas e, consequentemente, do rebanho, a baixa concentração de potássio na alimentação animal pode levar a manifestação de sintomas não específicos em ruminantes.

Lee Russell McDowell descreve, em seu livro Minerais para ruminantes sob pastejo em regiões tropicais, enfatizando o Brasil, que a deficiência de potássio nos ruminantes pode provocar:

  • Redução do consumo e da conversão alimentar;
  • Perda de flexibilidade do couro;
  • Desenvolvimento lento;
  • Distúrbios nervosos;
  • Fraqueza muscular;
  • Definhamento;
  • Degeneração de órgãos vitais.

Mas, quais são as causas que levam à expressão dos sintomas de deficiência de potássio em pastagens?

1. Superestimar a ciclagem de nutrientes do sistema de produção

A ciclagem de nutrientes pode ser caracterizada como a contínua transferência de substâncias entre o solo e as plantas, realizada pela ação dos microrganismos do solo na decomposição e mineralização da matéria orgânica.

Ciclo de nutrientes minerais simplificado para ecossistema de pastagem.

Ciclo de nutrientes minerais simplificado para ecossistema de pastagem. (Fonte:  Adaptado de Wilkinson, 1973)

Entretanto, a transferência de nutrientes entre os diferentes elementos gera perdas de parte do potássio, devido à exportação do produto animal e pela ação dos processos de lixiviação, fixação e erosão que acontecem no solo.

De acordo com o zootecnista Adilson P. A. Aguiar, autor do MilkPoint, apesar de 75 a 90% dos nutrientes consumidos pelo rebanho serem excretados, até 85% desse total podem ser perdidos ao final de um ano.

Ou seja, será observada uma queda na produtividade e da capacidade de suporte das pastagens ao longo dos anos se nenhum programa de adubação for efetivamente implementado.

2. Estabelecer condições de superpastejo

O superpastejo também é outra condição que favorece a expressão dos sintomas de deficiência de potássio em pastagens.

Ele acontece quando o pastejo é frequente com baixo resíduo vegetal, levando ao esgotamento das forrageiras e à abertura de clareiras que favorecem o desenvolvimento e propagação outras espécies de plantas.

Essas outras espécies de plantas, também conhecidas como plantas invasoras passam a competir com a pastagem pela luminosidade e nutrientes e reduzem o seu potencial produtivo. E como o potássio tem um impacto direto no acúmulo na taxa de crescimento vegetativo e radicular das plantas, os danos dessa competição podem ser ainda maiores.

Algumas das principais espécies de plantas invasoras que acumulam grandes quantidades de potássio e nitrogênio e competem com outras culturas são:

  • Maria-pretinha: Solanum americanum;
  • Capim-camalote: Rottboelia exaltata;
  • Corda-de-viola: Merremia aegyptia;
  • Ipoméia esqueleto: Ipomoea quamoclit.

Além disso, o local que seria usado para a pastagem passa a ser ocupado por uma planta sem função zootécnica, prejudicando ainda mais a capacidade de carga da área e reduzindo a eficiência dos bocados e o desempenho animal.

3. Desconsiderar as exigências nutricionais das forrageiras

As espécies forrageiras possuem diferentes exigências nutricionais, que devem ser usadas como referência para correção e adubação do solo.

Cultivares e híbridos dos gêneros Cynodom e Pennisetum, por exemplo, requerem adubações mais frequentes e em maiores quantidades, enquanto as cultivares de Brachiaria decumbens são menos exigentes em fertilidade do solo.

Se essas exigências não forem observadas para o cálculo das dosagens de potássio, a adubação pode limitar a disponibilidade dos nutrientes para a pastagem e o seu potencial produtivo.

Condições de superdosagem também são indesejadas, porque além de reduzir o rendimento econômico dos pecuaristas, a interação entre o excesso de potássio e outros nutrientes pode limitar a absorção de cálcio e magnésio ou mesmo reduzir drasticamente o sódio das forrageiras.

De acordo com a Embrapa Gado de Corte, as altas concentrações de potássio, que muitas vezes ocorrem nas forrageiras tropicais, podem agravar o problema de carência de sódio por promover a excreção deste pela urina.

Como, então, corrigir condições de baixa concentração e disponibilidade de potássio no solo?

Como realizar a adubação potássica de pastagens?

A adubação potássica de pastagens deve respeitar o efeito da sazonalidade, ser ajustadas de acordo com a exigências do cultivar ou híbrido e adequadas aos resultados das análises de solo.

De forma geral, o potássio deve corresponder a cerca de 5% da capacidade de troca catiônica (CTC) do solo em pH neutro para alcançar altas produtividades.Recomendação geral de adubação para pastagens, considerando os teores de K-trocável no solo extraídos por resina

Recomendação geral de adubação para pastagens, considerando os teores de K-trocável no solo extraídos por resina. (Fonte: Embrapa)

É importante ressaltar que essas análises devem avaliar tanto as concentrações de potássio prontamente disponíveis na solução do solo, quanto aquelas retidas nos minerais do solo. Já que as raízes das pastagens têm tempo suficiente para acessar o potássio retido na superfície e nas intermacadas dos minerais do solo.

Dessa forma, a aplicação de fontes de liberação gradual de potássio contribui para a alta performance das pastagens à adubação e propicia a correção da deficiência de potássio na área no longo prazo.

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