O enxofre é um macronutriente secundário, ou seja, além de ser um nutriente essencial, ele está entre os mais exigidos pelas plantas durante os seus processos de crescimento. Na cultura do algodão, ele está ligado a parâmetros importantes como a qualidade da fibra. Por isso, evitar que falte enxofre para as plantas é essencial para que a lavoura tenha uma boa produtividade e rentabilidade. Mas, quais são os sintomas de deficiência de enxofre no algodão e como evitá-los?
A importância do enxofre no algodão
De maneira geral, o enxofre é o 4º nutriente mais requerido pelas plantas e exerce funções muito importantes no desenvolvimento vegetal, habitualmente ligadas ao metabolismo delas. Entre os processos nos quais o enxofre está envolvido, podemos destacar:
- A formação de compostos importantes, como aminoácidos, proteínas, coenzimas e outros;
- A melhoria de parâmetros de qualidade nos alimentos;
- O melhor aproveitamento do nitrogênio no metabolismo vegetal;
- A otimização da adubação com fósforo;
- A indução da resistência aos estresses bióticos e abióticos.
As diversas funções do enxofre nas plantas.
No algodão, isso não é diferente. Vale destacar que existem pesquisas que apontam uma relação importante entre o enxofre e parâmetros de qualidade muito relevantes para a qualidade da fibra do algodão, bem como também do rendimento da cultura.
É o caso, por exemplo, do artigo Cotton Yield Response to Sulfur as Influenced by Source and Rate in the Çukurova Region. Nesse trabalho, o pesquisador Görmüş Özgül testou o efeito de dosagens de enxofre no algodão e observou com quase todas elas houve resultaram o da uniformidade de comprimento da fibra e no índice de micronaire do algodão.
Índice de micronaire que é um parâmetro usado para medir a qualidade das fibras do algodão, sendo formado por componentes de finura e maturidade delas.
Já no no artigo Influência dos atributos físicos do solo na produção e qualidade do algodão em caroço e fibra, Pâmila Nayana Ferreira Ramos e outros pesquisadores, avaliaram diferentes relações entre os nutrientes no algodão. Nos resultados, foram observados incrementos:
- No rendimento da fibra de algodão: elevando os níveis de enxofre e outros nutrientes, bem como reduzindo os níveis de nitrogênio e cálcio;
- Na qualidade da fibra do algodão: elevando os níveis de enxofre e outros nutrientes, bem como reduzindo os níveis de nitrogênio, fósforo, níquel e magnésio.
Assim, é muito importante manter os níveis de enxofre satisfatórios durante o ciclo de vida do algodão. Caso contrário, pode acontecer a deficiência de enxofre. Mas, quais são os principais sintomas de deficiência de enxofre no algodão?
Como identificar os principais sintomas de deficiência de enxofre no algodão
Os sintomas da deficiência de enxofre no algodão estão relacionados às funções e ao comportamento desse nutriente dentro da fisiologia da planta.
Como ele está ligado à qualidade e ao rendimento da fibra do algodão, a falta do enxofre pode ocasionar uma queda nesses parâmetros importantes para a produtividade da lavoura. Mas, antes desses sintomas em específico serem percebidos, a deficiência de enxofre pode ser identificada nas folhas do algodão.
Entretanto, o agricultor precisa estar atento para não confundir a deficiência nutricional com outros fatores que podem fazer com que a folhagem das plantas possa ser afetada.
É o que ressaltam Ana Luiza Dias Coelho Borin e outros pesquisadores na circular técnica Diagnose Visual de Deficiências Nutricionais do Algodoeiro, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Fatores que alteram as folhas do algodoeiro, destacando os que podem estar relacionados com deficiência nutricional. (Fonte: BORIN et al, 2013)
Mas, como reconhecer os sintomas de deficiência de enxofre no algodão através observação visual das folhas da planta?
O primeiro ponto a ser observado é se são sintomas generalizados nas plantas de uma área ou em plantas específicas. Quando a alteração nas folhas é causada por algum agente patogênico, como uma doença, por exemplo, eles são mais localizados na planta que está sendo atacada e é possível localizar o agente.
No caso de sintomas generalizados, é preciso observar se eles são simétricos. Em caso positivo, a deficiência de enxofre no algodão é sinalizada nas folhas mais jovens.
Isso acontece porque esse nutriente é pouco móvel dentro da fisiologia vegetal, impedindo que as plantas consigam realocá-lo das folhas mais velhas para as mais novas em caso de deficiência.
Por causa da participação do enxofre na composição da clorofila, pigmento responsável pela coloração verde das folhas e principal substância do processo da fotossíntese, plantas com deficiência nesse nutriente emitem poucos ramos vegetativos.
Além disso, as folhas mais jovens apresentam aspecto clorótico, ou amarelado. Com o agravamento da deficiência, esse sintoma atinge inclusive as nervuras das folhas, que também perdem a sua coloração esverdeada mais forte.
Sintoma de deficiência de enxofre em algodoeiro (plantas à frente) em comparação a algodoeiros adubados com enxofre (plantas ao fundo). (Fonte: BORIN et al, 2013)
Esse sintoma se assemelha muito com a deficiência de nitrogênio, mas a diferença é que nas plantas com falta deste último nutriente, os sintomas se apresentam nas folhas mais velhas.
A semelhança dos sintomas acontece em virtude da participação tanto do enxofre quanto do nitrogênio na formação de proteínas das plantas, como destacam Lincoln Taiz e Eduardo Zeiger, no livro Fisiologia Vegetal.
Chave para diagnose visual da deficiência de nutrientes em algodoeiro. (Fonte: BORIN et al, 2013)
Entretanto, quando os sintomas de deficiência de enxofre no algodão já são visíveis, tanto nas folhas quanto na qualidade e rendimento da fibra, é sinal de que a falta desse nutriente já está acontecendo no manejo há algum tempo.
Então, como evitar que isso aconteça?
O bom manejo nutricional como ferramenta para evitar a deficiência de enxofre no algodão
O primeiro passo para evitar que a deficiência de enxofre no algodão afete a produtividade e qualidade da lavoura é entende as necessidades da cultura.
De acordo com o renomado agrônomo Eurípedes Malavolta, no livro Elementos de nutrição mineral de plantas, para a produção de 1,3 toneladas de algodão em caroço, são necessários cerca de 33 kg de enxofre por hectare.
Já Ana Luiza Dias Coelho Borin e outros pesquisadores, no artigo Absorção, acúmulo e exportação de cálcio, magnésio e enxofre pelo algodoeiro: comportamento no solo e na planta, observam que o acúmulo máximo de enxofre no algodão se concentra por volta dos 150 dias pós a emergência das plantas.
Assim, é preciso que o solo esteja bem nutrido com enxofre nesse período e uma boa adubação sulfatada pode ser a chave para isso.
Embora o uso de fontes de enxofre mais solúveis, como o sulfato de potássio ou até mesmo o gesso agrícola, seja muito comum, a solubilidade delas faz com que elas estejam mais suscetíveis a perdas por lixiviação. Isso faz com que o agricultor precise ficar mais atento na hora de utilizá-las, para não correr o risco de deixar o solo com falta de enxofre.
Já fontes de liberação progressiva, como é o caso do enxofre elementar micronizado, disponibilizam o enxofre ao longo de um tempo maior e são menos sujeitas à lixiviação. Além disso, o efeito residual delas no solo ajuda a construir e manter a fertilidade, estabilizando os níveis de enxofre.
Assim, o seu uso nos programas de manejo nutricional pode auxiliar o agricultor a garantir que haja enxofre disponível para o algodão, evitando que a deficiência desse nutriente possa prejudicar o rendimento da lavoura.
Além disso, o uso de ferramentas como a análise adequada do solo e também a análise foliar é importante para acompanhar a resposta da lavoura à adubação e ajudar a tomar decisões mais assertivas no manejo nutricional.
Estar atento e fazer uma boa adubação ajuda a evitar a deficiência de enxofre no algodão
Em resumo, o enxofre é um nutriente que exerce funções importantes na fisiologia do algodão, especialmente no metabolismo vegetal. Assim, em casos de deficiência de enxofre no algodão, tanto a produtividade quanto a qualidade da lavoura são afetados, prejudicando também a rentabilidade da lavoura.
Como os sintomas de deficiência se manifestam quando a falta do nutriente já existe há algum tempo no solo, é preciso que o agricultor esteja atento para evitar que ela aconteça e realize a adubação sulfatada adequada.
Isso se dá através do manejo adequado, o que inclui o conhecimento do estado nutricional do solo e da resposta da lavoura à adubação, através de análises de solo e foliares, bem como o uso de fontes de enxofre eficientes!