Importância do uso do pó de rocha para o solo
O uso do pó de rocha na agricultura surgiu da necessidade de tornar o agronegócio economicamente e ambientalmente mais sustentável. A busca constante por fontes de nutrientes mais eficientes, econômicas e acessíveis ao agricultor levou ao teste de viabilidade de resíduos industriais na agricultura, estando inclusos entre eles o pó de rocha.
Ele geralmente é um subproduto do setor de mineração, obtido através do processo de britagem, exploração mineral em pedreiras ou ainda do corte de rochas. O potencial do aproveitamento desse subproduto na agricultura é muito grande no Brasil.
Isso porque o país é um dos maiores produtores e exportadores de rochas ornamentais do mundo, tendo grandes mineradoras multinacionais operando no país.
Segundo o Governo do Brasil, em 2020, o país exportou 2,2 milhões de toneladas de rochas ornamentais, com destaque para a produção dos estados: Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Ceará e Paraíba. (Fonte: Shyam – Unsplash)
Além da grande disponibilidade de pós de rocha no Brasil, o que torna esse subproduto atrativo para a agricultura é a presença de algumas características agronômicas muito desejáveis quando ele é aplicado ao solo, como:
- Liberação gradual de nutrientes e efeito residual;
- Aumenta a Capacidade de Troca Catiônica (CTC) no solo, mitigando as perdas de nutrientes por lixiviação;
- Facilita o desempenho e dinâmica dos microrganismos, com destaque para os fungos micorrízícos;
- Favorece a resistência das plantas a estresses bióticos e abióticos melhorando seu estado nutricional;
Tais características atribuem a alguns pós de rocha a classificação de remineralizador, que é regulamentado pela Instrução Normativa 5/2016 (IN 05/2016) e definido pela Lei 12.890/2013, como:
“Material de origem mineral que tenha sofrido apenas redução e classificação de tamanho por processos mecânicos e que altere os índices de fertilidade do solo por meio da adição de macro e micronutrientes para as plantas, bem como promova a melhoria das propriedades físicas ou físico-químicas ou da atividade biológica do solo.”
Quais então são as principais rochas e seus usos e limitações na agricultura?
Quais rochas são utilizadas na agricultura na prática da rochagem?
- Fonolito
O Fonolito é uma rocha ígnea vulcânica composta por feldspato potássico e feldspatoides. Apesar do pó de rocha de fonolito apresentar potencial como fonte de potássio, conforme evidenciado no artigo Avaliação da rocha fonolito como fertilizante alternativo de potássio, o seu uso contínuo e em doses elevadas pode resultar em estresse salino e ainda pode conter metais potencialmente tóxicos, como o cádmio.
O termo kamafugito na verdade se refere a um grupo de rochas ígneas, que inclui leucititos, olivina melilitos, alguns lamprófiros ultrabásicos e alguns kimberlitos micáceos. Seu uso na agricultura se relaciona principalmente com a sua capacidade de liberação de potássio e fósforo.
As principais limitações do pó de rocha Kamafugito estão relacionadas à sua baixa concentração de potássio e fósforo e reduzida ocorrência natural, apontado no estudo O processo de analcimização de um Kamafugito (luz262) do centro-oeste mineiro.
A biotita é um composto mineral da classe dos silicatos, pertencente ao grupo dos filossilicatos e do subgrupo das micas. Conhecida como “mica de ferro”, a biotita costuma ocorrer em rochas ígneas e metamórficas.
Apesar do uso do pó de rocha de biotita apresentar bons resultados na nutrição de potássio e magnésio e diminuir a concentração de alumínio no solo, a sua eficiência ainda é baixa quando comparada a fontes convencionais de adubação, demonstrado no estudo Biotita: Fonte de potássio para a agricultura.
Micaxistos são rochas metamórficas de xistosidade acentuada, formada essencialmente, por quartzo e mica. Mesmo que o uso de pó de rocha de micaxisto apresente um longo efeito residual de até três anos, como apontado no estudo Agronominerais silicáticos como fornecedores de potássio e outros nutrientes para soja e milheto em latossolo vermelho-amarelo, ele apresenta um baixo teor do seu principal nutriente: o potássio.
O termo verdete, na verdade, abrange um grupo de rochas sedimentares de ocorrência comum na região da Serra da Saudade em Minas Gerais. Ele normalmente ocorre intercalado com ritmitos silto-argilosos, arenitos e, em menor proporção, fosforitos e carbonatos e é composto predominantemente por glauconita, quartzo e argilominerais.
O estudo Solubilização de elementos químicos do verdete pela ação de isolados bacterianos selecionados da rizosfera de helianthus annuus l., apontou que os microrganismos estudados promoveram a liberação de concentrações interessantes de silício e magnésio, porém não de potássio.
- Basalto
O basalto é uma rocha magmática composta por quartzo, mica e feldspato. De acordo com o artigo Uso de pó de basalto e rocha fosfatada como remineralizadores em solos intensamente intemperizados, o pó de rocha de basalto é fonte de nutrientes, como o potássio, cálcio, magnésio e sódio, porém os resultados deste estudo demonstraram que o basalto proporcionou apenas um moderado desenvolvimento foliar nas culturas estudadas.
A ardósia é uma rocha metamórfica de baixo grau, ou seja, apresenta uma abundância de minerais hidratados, como a muscovita e clorita. Ela é composta predominantemente por silicatos de alumínio e o uso do pó de rocha de ardósia ainda não demonstrou resultados promissores nos estudos preliminares:
- – Não interferiu nos parâmetros de rendimentos de grãos: no artigo Uso do pó de rocha (ardósia) em um argissolo de Trombudo Central-SC: efeitos no solo e nas culturas de grãos;
- – Não causou impacto na qualidade biológica do solo: no estudo Atividade da Urease e da Arginase em Solo de Cerrado Adicionado a Pó de Ardósia e Cultivado com Milho.
- Siltito Glauconítico
O Siltito Glauconítico é uma rocha sedimentar rica em glauconita, encontrada na região de São Gotardo, Minas Gerais. O Siltito Glauconítico, diferentemente das demais rochas apresentadas acima, está registrado como fertilizante mineral simples no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento.
Pesquisas como o estudo Siltito Glauconítico calcinado e não calcinado como fonte de fertilizantes para Urochloa brizantha cv. Marandú comprovam que ele é uma fonte eficiente de potássio, silício, manganês e magnésio.
Vale a pena usar o pó de rocha na agricultura?
Mesmo que cada rocha apresente diferentes vantagens e desvantagens, a prática da rochagem por si só apresenta diversos benefícios frente as fontes convencionais de adubação, que vão desde a liberação progressiva dos nutrientes ao favorecimento da resistência das plantas a estresses bióticos e abióticos.
Além disso, para otimizar ainda mais os benefícios do uso do pó de rocha, o agricultor pode buscar promover uma boa atividade microbiana no solo e condições que favoreçam a liberação de nutrientes das rochas, garantindo, assim, uma agricultura mais rentável e sustentável.