Como os microrganismos ajudam a disponibilizar o potássio?

Como os microrganismos ajudam a disponibilizar o potássio?

O solo não consegue suportar muitos anos de exploração agrícola intensiva, uma vez que apenas algumas centenas de quilos de reservas de potássio estão disponíveis para absorção das plantas. Mas, esse cenário pode mudar com a introdução dos microrganismos solubilizadores de potássio nas lavouras. Descubra como os microrganismos ajudam a disponibilizar o potássio!

A atividade de microrganismos solubilizadores de potássio

Os microrganismos são uma parte importante dos agroecossistemas, desempenhando diversas funções que influenciam o desempenho das culturas.  Funções estas que vão desde a promoção do crescimento vegetal à melhoria da absorção de água e nutrientes pelas plantas.

 

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Uma microbiota rica é importante para obter bons resultados na lavoura.

Eles também têm um grande impacto na qualidade do solo, por atuarem diretamente na ciclagem de nutrientes entre os diferentes reservatórios de potássio orgânicos e inorgânicos do solo, como a matéria orgânica e os minerais, respectivamente.

Segundo o livro Potassium Solubilizing Microorganisms for Sustainable Agriculture, quando as substâncias orgânicas são decompostas ou os minerais são solubilizados pelos microrganismos, o conteúdo de potássio é liberado em formas disponíveis para as plantas.

Diversos estudos vêm identificando uma grande variedade de bactérias com a capacidade de liberar o potássio contido nos minerais do solo, como:

  • Pseudomonas;
  • Burkholderia;
  • Acidithiobacillus ferrooxidans;
  • Bacillus mucilaginosus;
  • Bacillus edaphicus;
  • Bacillus circulans;
  • Paenibacillus.

Tara Singh Gahoonia e outros pesquisadores, no artigo Root hairs and phosphorus acquisition of wheat and barley cultivars, atribuem a biossolubilização dos minerais potássicos à ação combinada das raízes das plantas e da microbiota do solo.

No estudo, os pesquisadores explicam que a expansão do sistema radicular promove uma maior fragmentação mineral do solo, aumentando a área para atuação das bactérias na mobilização mineral. Também fornecendo o substrato necessário para sustentação dessas comunidades, conhecidos como exsudatos radiculares.

As bactérias, por sua vez, produzem fito-hormônios que estimulam o desenvolvimento das raízes e ajudam a melhorar a absorção de água e mobilização dos nutrientes dos minerais, através da produção de metabólitos.

Os metabólitos citados no processo, geralmente estão associados à produção de ácidos orgânicos, que acidificam o meio e podem desestabilizar os minerais presentes e liberar o potássio. Veja a seguir a representação da solubilização de potássio do ortoclásio:

Al2O3ñK2Oñ6SiO2 + 8HNO3 = 2Al(NO3) 3 + 2KNO3 + 6SiO2 + 4H2O

Mas, quais evidências científicas têm corroborado para a importância dos microrganismos para produtividade e sustentabilidade dos agroecossistemas?

As pesquisas acerca da biossolubilização de potássio pelos microrganismos

A aplicação de biofertilizantes à base de microrganismos solubilizadores de potássio proporciona diversos benefícios na agricultura, uma vez que eles podem potencializar o uso de fontes de potássio de liberação gradual ou mesmo reduzir o uso de fertilizantes químicos.

A inoculação de uma bactéria isolada da rizosfera da cultura da banana, Frateuria aurantia, por exemplo, se mostrou capaz de reduzir o uso de fertilizantes potássicos químicos em até 60%.

Tais benefícios teriam um impacto ainda maior na agricultura brasileira, uma vez que o país importa mais de 95% de um dos fertilizantes potássicos mais utilizados, o Cloreto de Potássio (KCl).

Com isso, os pesquisadores tem conduzido diversos estudos acerca do potencial de diferentes microrganismos para biossolubilização de potássio e seus impactos na produtividade das lavouras.

Valéria Nogueira Silva, autora do estudo Interação de microrganismos na solubilização de fósforo e pótássio de rochas para produção de biofertilizantes, verificou que a combinação entre Paenibacillus polymyxa e Ralstonia solanacearum se mostrou benéfica para maior liberação de potássio em pó de rocha potássica.Curva de liberação de potássio em pó de rocha potássica inoculada com Paenibacillus polymyxa + Ralstonia solanacearum. (Fonte: Silva, 2013)

Curva de liberação de potássio em pó de rocha potássica inoculada com Paenibacillus polymyxa + Ralstonia solanacearum. (Fonte: Silva, 2013)

Já os pesquisadores do livro Potassium Solubilizing Microorganisms for Sustainable Agriculture, citam por exemplo, que a inoculação das culturas do trigo e milho com Azotobacter chroococcum, Bacillus mucilaginosus, e Rhizobium resultou numa mobilização significantemente maior de potássio de resíduos de mica.

Enquanto, Xia Fang Sheng e Linyan He também observaram a promoção de crescimento de culturas como algodão e trigo quando associadas a inoculação de Bacillus edaphicus, uma bactéria solubilizadora de potássio.

Como, então é, possível inocular e promover o desenvolvimento dessas comunidades de microrganismos benéficos para favorecer a disponibilização de potássio no solo e reduzir os custos com aplicação de fertilizantes potássicos?

A promoção da atividade biológica como ferramenta para melhorar a fertilidade do solo

No solo, existe uma grande variedade de microrganismos e isso dificulta o processo de identificação e análise laboratorial, visto que apenas uma pequena parte dos microrganismos consegue ser multiplicada nos laboratórios com os atuais recursos tecnológicos.

Por isso, muitos agricultores recorrem a inoculação como uma das primeiras etapas do manejo de espécies específicas de microrganismos, como aqueles capazes de solubilizar potássio contido em fontes de nutrientes liberação mais lenta.

A inoculação nada mais é que a introdução de determinadas espécies de microrganismos em um ambiente, para que eles possam crescer junto com as plantas e formar relações com elas. Mas, não basta apenas introduzir as espécies desejadas no sistema de produção.

Também é preciso que o agricultor se atente a todas as práticas agrícolas que possam alterar os parâmetros do solo e interferir no desenvolvimento dos microrganismos, como a aplicação de fertilizantes com altos teores de cloro e índice salino.

Para efeitos de comparação, a pesquisadora Heide Hermary, no artigo Effects of some synthetic fertilizers on the soil ecosystem descreve que aplicar 200kg de KCl é equivalente a despejar 1.600 litros de água sanitária no solo.

Dessa maneira, a inoculação de microrganismos solubilizadores de potássio deve sempre estar associada a escolha de fertilizantes potássicos adequados e outras práticas agrícolas que favoreçam o estabelecimento e desenvolvimento dessas comunidades benéficas.

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