Nematoides em milho como identificar e fazer o manejo

Nematoides em milho: como identificar e fazer o manejo?

Por muito tempo, a prática do manejo de nematoides no milho foi considerada desnecessária, já que a cultura apresenta certa resistência a essas pragas de solo. Porém, com o aumento da densidade dos nematoides em muitas áreas agrícolas do país, a produção de milho começou a ser afetada negativamente por eles. Aprenda como identificar os nematoides em milho e como fazer o manejo dessa praga de solo nas lavouras!

Quais nematoides atacam o milho?

Os nematoides são vermes microscópicos que podem ser encontrados no solo parasitando animais, insetos e plantas.

Apesar de algumas espécies de nematoides serem benéficos e usados como agentes de controle biológico, existem diversas espécies capazes de provocar danos consideráveis a produção de diversas culturas agrícolas, incluindo o milho.

Estudos indicam que o ataque de algumas espécies de nematoides em milho podem levar a redução de até 30% da produtividade, causando:

  • A murcha das plantas em dias quentes, pela redução da capacidade de absorção de água e nutrientes pelas plantas;
  • O subdesenvolvimento e menor número de brotações e perfilhos;
  • A redução do comprimento e peso das raízes;
  • A presença de “reboleiras” nas lavouras;
  • A redução e má granação das espigas;
  • O leve engrossamento radicular;
  • O amarelecimento das folhas.

Esses diferentes sintomas causados pelos nematoides em milho estão associados aos seus hábitos alimentares, usando as raízes da planta para obter abrigo e alimento necessário para completar o seu ciclo de vida.

De forma geral, o ciclo de vida de um nematoide começa com os ovos, que são depositados no solo ou nas raízes das plantas. Deles emergem as fases juvenis dos nematoides, que passam normalmente por quatro estádios de desenvolvimento, denominados J1, J2, J3 e J4.

Essas fases juvenis se tornam infectantes e podem penetrar o sistema radicular das culturas para se alimentar, dependendo da espécie, local onde atingirão a sua maturidade sexual.

Quando os nematoides se alimentam externamente das raízes, dizemos que eles são ectoparasitas. Já quando eles invadem os tecidos radiculares e ficam grande parte do seu ciclo de vida dentro deles, dizemos que eles são endoparasitas.

No caso da cultura do milho, grande parte das espécies de maior importância econômica   são endoparasitas, sendo representados principalmente por três gêneros: Pratylenchus, Meloidogyne e Helicotylenchus.

Os nematoides de galha (Meloidogyne incógnita e Meloidogyne javanica), os nematoides das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus e Pratylenchus zeae) e os nematoides espiralados (Helicotylenchus dihystera) representam, atualmente, as espécies que mais causam danos a cultura do milho.

Além de causarem perdas significativas de produtividade, a ocorrência de algumas espécies de nematoides em milho pode aumentar em até duas vezes o custo de produção da cultura com a inclusão dos custos de controle dessas pragas.

É o que destaca o engenheiro agrônomo Luiz Gonzaga Engelberg Lordello, em seu livro Nematoides das plantas cultivadas.

Normalmente, as fêmeas e os machos dos nematoides apresentam um dimorfismo sexual bem aparente, sendo as fêmeas geralmente menores e mais arredondas e os machos mais compridos e filiformes.

Aqui é importante salientar que todo o ciclo de vida do nematoide pode ir de algumas semanas a anos, poque a sua duração acaba sendo muito afetada por fatores bióticos, referentes ao seu hospedeiro, e abióticos, como a temperatura e a umidade.

Conheça, a seguir, como é feita a identificação e o manejo dos nematoides em milho.

Como fazer o manejo de nematoides em milho?

Um dos primeiros passos para fazer o manejo adequado dos nematoides em milho é a identificação correta das espécies presentes na lavoura e o acompanhamento dos seus níveis populacionais.

Apesar de algumas espécies causarem sintomas nas culturas característicos à presença do gênero, o milho nem sempre irá manifestar esses sintomas que ajudam na identificação do nematoide.

É o que acontece, por exemplo, com a presença dos nematoides das galhas. Apesar de frequentemente o seu ataque causar a formação de estruturas globosas nas raízes conhecidas como galhas, no caso da cultura do milho será observado apenas um leve engrossamento das raízes.

Por isso, grande parte da identificação das espécies acaba ficando restrita as análises laboratoriais, que vão identificar e quantificar quais espécies desses vermes minúsculos estão presentes nas amostras de solo.

Para fazer a amostragem do solo para análise de nematoides em milho, recomenda-se que o agricultor faça uma coleta do solo representativa dos seus talhões, buscando incluir solo e parte das raízes do milho nas amostras.

De forma geral, podem ser coletadas de 8 a 10 subamostras por talhão em uma profundidade de 25 a 30 cm, preferencialmente em condições em que o solo apresente cerca de 60% da sua capacidade de campo em umidade.

Posteriormente, essas amostras devem ser homogeneizadas e acondicionadas em saquinhos plásticos devidamente identificados para serem encaminhados para os laboratórios.

Caso não seja possível encaminhar logo após a coleta, é possível fazer o armazenamento das amostras na gaveta inferior da geladeira por um período de até cinco dias.

Esquema de amostragem, homogeneização, acondicionamento, identificação e transporte de amostras de solo e raiz para quantificação de nematoides

Esquema de amostragem, homogeneização, acondicionamento, identificação e transporte de amostras de solo e raiz para quantificação de nematoides (Fonte: Galbieri, R. e Asmus, G. L., 2016)

No laboratório, a equipe técnica especializada conseguirá fazer a distinção entre as diferentes espécies de nematoides dependendo das características morfológicas intrínsecas a cada espécie.

Geralmente, as fêmeas adultas sedentárias do gênero Meloidogyne apresentam metade do comprimento dos machos, alcançando um comprimento médio de 700 µm, coloração esbranquiçada e o estomatoestilete na forma de cone.

Já no caso dos nematoides do gênero Pratylenchus existe uma grande variação morfológica, do número de anéis na região labial, do número e disposição das linhas do campo lateral, e da forma dos nódulos do estilete, dependendo da espécie avaliada.

Contudo, alguns especialistas apontam que a presença de 2 a 4 anéis na região labial é uma característica que representa a maioria das espécies do gênero, se aplicando inclusive a espécie P. zeae.

Por fim, os nematoides do gênero Helicotylenchus contemplam um grupo de nematoides ditos ‘espiralados’, apresentando um estomatoestilete curto que limita o parasitismo a pelos radiculares e células das camadas mais superficiais, epidérmicas e subepidérmicas das raízes das plantas de milho.

Uma vez identificadas quais as espécies e densidade populacional dos nematoides em milho, o agricultor deve começar a adotar diferentes táticas de manejo para o controle dessa praga.

Quando os nematoides já estão presentes na área, recomenda-se que seja usada uma combinação de estratégias de controle genético, químico, biológico e cultural para reduzir a densidade populacional dos nematoides dos talhões. Estão inclusas entre elas:

  • A inoculação de agentes de controle biológico, como bactérias do gênero Bacillus e os fungos do gênero Trichoderma;
  • O controle de hospedeiros secundários dos nematoides, como plantas daninhas e tigueras;
  • A aplicação de nematicidas no sulco de plantio e para o tratamento de sementes;
  • O plantio de cultivares e híbridos resistentes de milho;
  • O aumento da matéria orgânica do solo;
  • A manutenção da fertilidade do solo.

Os microrganismos do solo estão entre as ferramentas que auxiliam no controle de pragas como os nematoides em milho

Também vale destacar que a rotação ou sucessão de culturas é outra estratégia muito importante para diminuir a população infestante de nematoides em milho, uma vez que essa prática pode interromper a sequência de culturas hospedeiras.

O nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus zeae), por exemplo, tem muitas poucas plantas hospedeiras fora da família do milho (Poaceae).

Por isso, a rotação ou sucessão do milho com culturas como soja ou algodão tem se mostrado eficiente para reduzir as populações dessa praga.

Entretanto, caso haja no solo a presença de ovos de nematoides dentro de cistos, a eficiência dessa prática acaba sendo reduzida. Isso porque essa estrutura acaba protegendo os ovos de condições climáticas adversas e retardam o nascimento dos nematoides juvenis.

Relação das culturas hospedeiras de diferentes espécies de nematoides

Relação das culturas hospedeiras de diferentes espécies de nematoides

Além do controle das ocorrências de nematoides em milho nas áreas afetadas, também é imprescindível que o agricultor adote estratégias para minimizar a entrada dessa praga nas áreas das suas lavouras ou ainda que se disseminem entre os seus talhões.

Assim, a limpeza frequente do maquinário agrícola e do rodado dos veículos, o rigor quanto à qualidade fitossanitária de mudas e sementes e o manejo sempre na ordem dos talhões menos infestados para aqueles mais infestados são muito importantes para evitar a disseminação dessa praga.

As populações de nematoides em milho podem ser reduzidas com a adoção integrada das estratégias de manejo

Em conclusão, podemos perceber que o manejo de nematoides em milho está cada vez mais presente no dia a dia do agricultor, visto os níveis preocupantes de infestação das áreas agrícolas com nematoides.

Essa praga, que antes causava problemas limitados a algumas culturas como a soja e o café, agora está se tornando mais um fator de risco para a produtividade do milho.

Dessa forma, o agricultor deve sempre adotar medidas preventivas para evitar a entrada e disseminação dos nematoides nos talhões, e fazendo o constante monitoramento das lavouras ao menor sinal de infestação.

E, uma vez identificados níveis de infestação que justifiquem o seu controle, diferentes estratégias de manejo devem ser adotadas integradas de forma a reduzir e mitigar os efeitos negativos dos nematoides em milho.

Para isso, o agricultor pode adotar tanto estratégias de controle direto, como a aplicação de nematicidas e o uso de agentes de controle biológico, como indireto, com o uso de fertilizantes que favoreçam a qualidade física, química e biológica do solo, para alcançar um resultado eficiente e duradouro nas lavouras afetadas!

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