Você sabia que o manejo integrado de pragas pode trazer mais benefícios econômicos, ecológicos, técnicos e sociais para a atividade agrícola do que sistemas convencionais de manejo de pragas? Entenda o que é o manejo integrado de pragas, quais suas vantagens e como implementá-lo em sua propriedade!
O que é o manejo integrado de pragas e quais são seus principais componentes?
Instituído no ano de 1960, o manejo integrado de pragas (MIP) corresponde a uma filosofia que tem por objetivo manter as populações de organismos abaixo de níveis que possam causar prejuízos econômicos para o agricultor com o uso integrado de diferentes métodos de controle.
Diferentemente de outras metodologias mais convencionais de controle de pragas, o manejo integrado de pragas proporcionou nas últimas décadas grandes avanços dos pontos de vista técnicos, econômicos, ecológicos e sociais.
Isso porque, dentro dessa filosofia, os insetos herbívoros presentes em uma lavoura só precisam ser controlados quando forem considerados uma praga e atingirem um nível de infestação que possa comprometer a produtividade e qualidade das culturas.
Para que um inseto seja considerado uma praga, ele precisa apresentar um elevado potencial biótico e estabilidade populacional.
Ele também deve ter a capacidade de causar prejuízos diretos ou indiretos para as culturas, seja através da destruição dos tecidos das plantas seja pela transmissão de doenças de grande importância agrícola.
Além disso, a infestação dessa praga precisa provocar danos econômicos que justifiquem os custos com o seu controle.
Quando o inseto-praga frequentemente provoca danos econômicos, podemos dizer que ele é considerado uma praga chave ou principal. Já quando ele ocasionalmente provoca esses danos econômicos, dizemos que ele é uma praga secundária.
Entretanto, na prática, o ideal é que o controle da praga aconteça antes que esses danos ocorram no campo. Para isso, o MIP define três diferentes níveis que o agricultor pode acompanhar através do monitoramento das pragas:
- O nível ou ponto de equilíbrio (PE): representa a densidade populacional média durante um longo período de tempo sem que ocorram mudanças permanentes;
- O nível de ação ou controle (NC): representa a menor densidade populacional capaz de causar perdas significativas para o agricultor;
- O nível de dano econômico (NDE): representa a densidade populacional que é capaz de causar um prejuízo de igual valor ao seu custo de controle.
Níveis de dano econômico (NDE), de controle (NC) e de equilíbrio (NE) de uma população hipotética de praga (Fonte: adaptado de Pedigo e Rice, 2009)
O monitoramento e acompanhamento das flutuações da densidade populacional das pragas no campo permitirá que o agricultor faça a sua tomada de decisão para implementação da maior parte das medidas de controle preconizadas pelo MIP somente quando o seu uso for justificado pelos níveis de danos causados às culturas, ou seja, quando atingir o nível de ação ou controle.
Mas, quais as vantagens que se têm ao adotar essa abordagem para o controle de pragas?
Quais são as vantagens do manejo integrado de pragas (MIP)?
Uma das vantagens mais relevantes e aparentes da adoção do manejo integrado de pragas em uma propriedade pode ser observada no retorno econômico da atividade agrícola.
Quando consideramos que a maior parte das medidas de controle preconizadas pelo MIP só serão implementadas quando a densidade populacional do inseto-praga atingir o nível de controle, estamos adotando uma abordagem na qual os custos com as medidas de controle são capazes de mitigar os danos causados pela praga na lavoura.
No estudo Uso do MIP como estratégia de redução de custos na produção de soja no estado do Paraná, Daiane Staback e outros pesquisadores observaram que o MIP apresentou melhores resultados do que o sistema convencional para o controle de pragas da soja em parâmetros como:
- O número de aplicações de inseticidas;
- O custo das aplicações;
- A produtividade o sistema.
Nesse estudo, somente o número médio de aplicações de inseticidas foi 83% menor no sistema no qual o MIP foi adotado e, consequentemente, os custos de inseticidas acabaram sendo 110% menores.
Além das vantagens econômicas, os pesquisadores desse estudo destacaram que a economia com inseticidas proporcionada pela adoção do manejo integrado de pragas também gerou impactos ambientais e sociais positivos.
Isso porque essa economia acabou proporcionando a redução da carga de resíduos recebida pelo agroecossistema, evitando a contaminação do solo e do lençol freático, e a exposição dos funcionários aos riscos químicos presentes durante a manipulação e aplicação dos produtos.
Do ponto de vista da praga, a adoção integrada de medidas de controle também pode proporcionar outra vantagem que, no longo prazo, traz um grande benefício para o agricultor: a redução dos casos de resistência de pragas a determinados métodos do controle.
Em um ambiente agrícola, as pragas estão constantemente sofrendo uma pressão de seleção dos agentes bióticos e abióticos que afetam as suas populações, como os inimigos naturais e o clima.
Entretanto, essa pressão de seleção pode ser facilmente intensificada quando existem poucos fatores que afetam a sobrevivência e adaptação das pragas ao seu ambiente e hospedeiros, fazendo com que pragas resistentes a determinados métodos do controle apareçam em um curto intervalo de tempo.
É o que acontece, por exemplo, quando somente inseticidas e outros produtos químicos são usados para controlar as pragas. Esses casos podem ser ainda pior quando não existe a rotação dos princípios ativos dos insumos aplicados.
Por isso, o manejo integrado de pragas com diferentes métodos de controle pode ser considerado uma importante solução para reduzir a pressão de seleção das pragas nas lavouras e, consequentemente, os casos de resistência.
Dentro do MIP, existem pelo menos 6 medidas de controle de pragas que podem ser adotadas em conjunto pelos agricultores. São elas:
- O controle comportamental;
- O controle biológico;
- O controle genético;
- O controle químico.
- O controle cultural;
- O controle varietal.
Bases e pilares de um programa de manejo integrado de pragas (Fonte Gallo et al., 2002)
Mas, por onde começar?
Como implantar o MIP?
Para se elaborar e implantar um programa de manejo integrado de pragas (MIP), os pesquisadores Nathália Leal Carvalho e Afonso Lopes Barcellos recomendam a adoção dos seguintes passos:
- Definir a área onde será implantando o MIP;
- Reconhecer e identificar as pragas-chave as quais causam danos, identificar seus inimigos naturais e os diferentes estádios da planta suscetível ao dano da praga;
- Avaliar os fatores bióticos e abióticos que interferem na flutuação populacional da praga e dos inimigos naturais e acompanhá-las durante o ciclo da cultura;
- Determinar os NDE, NC e tomada de decisão;
- Escolher o(s) método(s) de controle mais adequado(s), como: controle mecânico, físico, legislativo, biológico, químico, silvicultural, por comportamento, ou por resistência de plantas;
- Avaliar os resultados.
É o que eles explicam em seu estudo Adoção do manejo integrado de pragas baseado na percepção e educação ambiental.
Vale destacar que, na hora de escolher os métodos de controle para o controle de pragas, deve-se levar em consideração a adaptabilidade e compatibilidade deles ao agroecossistema. Isso porque que o MIP leva em conta as preocupações econômicas, dos produtores, da ecologia, da sociedade e do meio ambiente.
No mercado já existem diversas ferramentas, além do controle químico, para o controle de pragas.
Além disso, também é importante considerar o histórico da área e da cultura, uma vez que a análise dessas informações possibilita as previsões da ocorrência e estabelecimento de pragas. Tal ação permite a adoção mais assertiva de práticas preventivas para o seu controle.
Dentre as principais práticas preventivas que o agricultor pode utilizar em sua propriedade, podemos destacar a contribuição relevante que a nutrição das plantas tem para o controle de pragas.
Muitos nutrientes e elementos benéficos, como o enxofre o silício, são capazes de promover muitos benefícios quando inseridos dentro do manejo integrado de pragas.
Isso porque eles são capazes de afetar o ciclo de vida da praga, através dos benefícios promovidos por esses nutrientes ao interagirem com as plantas e estimularem seus mecanismos de defesa.
Outros nutrientes como o potássio e boro, também são muito relevantes para produção e qualidade das culturas agrícolas e acabam favorecendo o melhor desenvolvimento das plantas. Assim, eles melhoram a resiliência delas aos danos causados pelas pragas.
Portanto, a adoção de boas práticas na implementação do manejo integrado de pragas associado ao uso de métodos de controle preventivos de pragas são fatores decisivos para se obter o sucesso com o emprego do MIP para o controle de pragas.
O manejo integrado de pragas traz muitos benefícios em relação aos sistemas convencionais
Em conclusão, podemos perceber que o manejo integrado de pragas trouxe muitos avanços no quesito da eficiência do controle de pragas dos sistemas agrícolas.
Isso porque esse manejo trabalha todo o sistema de produção de forma integrada e considera os impactos que as medidas de controle têm sobre os aspectos econômicos, ecológicos, sociais e ambientais da propriedade.
Assim, a adoção do MIP como pilar central do manejo de pragas do agroecossistema pode trazer muitos benefícios para o agricultor, que acabam impactando positivamente em todas as etapas do seu sistema de produção.
Por isso, é muito importante que buscar fazer a implementação adequada do manejo integrado de pragas na sua propriedade, realizando o monitoramento constante das pragas para definir o melhor momento para iniciar a maior parte das medidas de controle preconizadas pelo MIP.
Além disso, também é recomendado que sempre se adote medidas de controle preventivas, como a nutrição adequada de plantas, para evitar que as pragas atinjam densidades populacionais que impactem negativamente na produtividade e qualidade da sua lavoura!