O café, assim como outras culturas agrícolas, pode ser afetado por diversas doenças que podem comprometer severamente tanto a produtividade quanto a qualidade dos frutos. Por isso, a identificação e o manejo correto delas é muito importante para alcançar a alta performance dos cafezais. Conheça quais são as principais doenças do café e como manejá-las!
Os sintomas e práticas de manejo das principais doenças do café
O manejo das doenças do café ainda é um desafio que muitos cafeicultores enfrentam no seu dia a dia, já que muitas delas apresentam particularidades únicas tanto de sintomas quanto de formas de transmissão.
Dessa forma, saber identificar corretamente as doenças do café no campo e as suas principais práticas de manejo pode se tornar um diferencial em propriedades que buscam explorar o máximo potencial produtivo e de qualidade dos seus cafezais.
Dentre as principais doenças que podem ocorrer em um cafezal, podemos destacar 7 delas que apresentam uma grande importância econômica para a cultura. São elas:
1. A cercosporiose
A cercosporiose, também conhecida como mancha-de-olho-pardo ou olho-de-pomba, é considerada uma das doenças do café mais antigas e que está presente em todas as regiões cafeeiras do Brasil.
Ela é responsável por provocar perdas de até 30% na produtividade do café, ganhando grande importância econômica principalmente na região do Cerrado, em solos de baixa fertilidade natural ou ainda em regiões afetadas pelas mudanças climáticas.
Os danos causados por essa doença variam de acordo com o estádio de desenvolvimento das plantas de café.
Nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta, a cercosporiose pode provocar o raquitismo das mudas, o atraso no crescimento do café e a queda prematura das folhas.
Já em lavouras jovens e adultas, os sintomas dessa doença do café consistem em seca de ramos produtivos, amadurecimento precoce e chochamento dos frutos e queda prematura das folhas e frutos.
Outra característica marcante da cercosporiose em café é a presença de manchas circulares castanhas envoltas por um halo amarelado e com o centro branco-acinzentado, que são causadas pelo ataque do fungo Cercospora coffeicola.
Para o controle dessa doença, recomenda-se fazer o bom preparo do solo, ajustando adequadamente as doses de corretivos e fertilizantes, especialmente na fase de pegamento, primeira produção e nos anos de carga pendente alta.
Além disso, em épocas de elevada insolação, ventos e deficiência hídrica, pode ser necessário utilizar o controle químico, já que essas condições predispõem as plantas de café ao ataque da cercosporiose.
2. A ferrugem do cafeeiro
A ferrugem do café, também conhecida como a ferrugem das folhas do café, é considerada uma das doenças mais graves e prejudiciais para as lavouras cafeeiras do Brasil, especialmente para as cultivares comerciais de Coffea arabica.
Quando presente no cafezal, essa doença é responsável por promover uma intensa desfolha da planta, causando prejuízos severos para a produtividade e qualidade do café na safra subsequente da cultura.
Isso acontece porque o agente causal da doença, o fungo Hemileia vastatrix, se desenvolve no tecido vivo das folhas do café, o que acaba destruindo e necrosando partes do tecido foliar nos estádios mais avançados da doença.
De forma geral, a presença da ferrugem do café é constatada quando existe a presença de manchas circulares de cor amarelo-alaranjada nas folhas, que apresentam um aspecto empoeirado e pulvurulento na face inferior foliar.
Sintomas da ferrugem do café (Fonte: Matiello, J. B – CaféPoint, 2022)
Para fazer o monitoramento dessa doença, especialistas recomendam realizar uma avaliação mensal dos talhões a partir do mês de dezembro, coletando de 100 a 300 folhas do terço médio das plantas por talhão.
Entretanto, mesmo antes da constatação dessa doença do café nas lavouras, recomenda-se a aplicação de produtos preventivos ou protetores para retardar ao máximo o início do controle da ferrugem do café.
Adicionalmente, medidas como o plantio de cultivares resistentes, a adubação equilibrada da lavoura e a realização adequada das podas das plantas são também muito importantes para evitar a progressão da doença.
3. As manchas foliares
Além da ferrugem do café, existem outras doenças de grande importância econômica para a cultura que também causam a intensa desfolha das plantas. Elas são as manchas foliares do café.
As manchas foliares do café são um grupo de doenças de ampla ocorrência no Brasil e que possuem diferentes agentes causais, dependendo da susceptibilidade da lavoura e das condições do ambiente.
Um desses agentes causais é o fungo Phoma costarricensis, causador da doença conhecida como mancha de phoma. Ele, além de causar manchas circulares de coloração escura nas folhas, é conhecido por provocar lesões nos ramos, botões florais, flores e frutos no estádio de chumbinho. Lesões essas que acabam levando a perdas de produtividade do café pela:
- Redução da área fotossinteticamente ativa das plantas;
- Morte, mumificação e queda dos órgãos atacados;
- Seca dos ponteiros e das extremidades dos ramos.
Outro patógeno de grande relevância para a cultura do café é a bactéria Pseudomonas syringae, o agente causal da doença conhecida como mancha-aureolada do cafeeiro.
Como o próprio nome sugere, essa doença do café é caracterizada pela presença de lesões pardas nas folhas circundadas por um halo amarelado, que causam prejuízos significativos principalmente em mudas de café de viveiros.
Mesmo assim, quando as condições do ambiente são favoráveis, a mancha-aureolada do cafeeiro também pode ocorrer em lavouras adultas e em formação e ainda causar a seca dos ramos laterais e ponteiros em cafeeiros novos.
Entre as manchas foliares do café de grande relevância econômica, também está inclusa a mancha anular do cafeeiro, causada pelo Coffee ringspot virus (CoRSV).
Diferentemente da mancha de phoma e da mancha-aureolada, essa doença do café depende de um vetor para se dispersar dentro da lavoura. E esse vetor é representado principalmente pela espécie de ácaro Brevipalpus phoenicis.
Inicialmente a mancha anular do cafeeiro não representava uma grande ameaça para a produção de café no Brasil.
Todavia, a elevação da população do ácaro nas últimas décadas, em razão das mudanças climáticas e do uso contínuo de insumos cúpricos, intensificou significativamente a ocorrência dessa virose nos plantios comerciais do país.
A presença da mancha anular nos cafezais geralmente é constatada pela presença de manchas cloróticas ou necróticas alongadas em formas de anéis nas folhas e nos frutos na fase cereja. Também pode haver o aparecimento de ramos tenros e verdes em casos de ataques mais severos.
Para evitar a sua ocorrência e disseminação, é recomendado realizar o controle do ácaro vetor com a aplicação de acaricidas seletivos e com a manutenção do equilíbrio biológico da lavoura, buscando preservar espécies de ácaros predadores.
Além disso, no caso da mancha de phoma e da mancha-aureolada, também é recomendado ter uma abordagem mais preventiva dessas doenças do café, fazendo a implantação de quebra-ventos e eliminando os focos da doença dentro da lavoura.
4. A rizoctoniose
A rizoctoniose, diferentemente das manchas foliares, é uma doença da cultura do café que afeta principalmente o tronco e o colo do café, podendo causar perdas econômicas significativas em sementeiras, viveiros de mudas e em plantas com um ano após o plantio.
Isso acontece porque o fungo Rhizoctonia solani, agente causal da doença, provoca lesões no colo e nas raízes do café, levando à murcha e à morte de plântulas e o tombamento de plantas em forma de reboleira.
A inibição do crescimento das plantas também é outro sintoma observado, uma vez que esse fungo patogênico é capaz de produzir toxinas que tem um efeito inibidor sobre o desenvolvimento do café.
Sintomas de rizoctoniose em plantas de cafeeiro Conilon com 1,5 ano de idade (Fonte: Júnior, J. R. – Embrapa, 2015)
A presença desse fungo nas lavouras normalmente é mais facilmente identificada durante os períodos mais úmidos do ano, já que essa condição acaba favorecendo o aparecimento de uma bainha esbranquiçada na base dos caules necrosados.
O controle do agente causal da rizoctniose pode ser feito por meio do tratamento químico das sementes e dos canteiros e evitando o excesso de umidade e sombra nos canteiros.
5. A roseliniose
A roseliniose, também conhecida como mal-de-quatro-anos ou mal rosado, é outra das doenças do café conhecida por atacar o sistema radicular da planta, causando:
- O amarelecimento e murcha das plantas;
- O desprendimento fácil da casca;
- O escurecimento das raízes;
- A queda das folhas;
- A morte dos ramos.
Essa doença, geralmente ocorre em lavouras novas e em áreas de plantio anteriormente ocupadas por florestas. Isso porque o seu agente causal, o fungo Rosellinia sp., normalmente se desenvolve na matéria orgânica e em restos de troncos e raízes de árvores em decomposição.
Por isso, é muito importante fazer a catação rigorosa das raízes e pedaços de madeira da área antes e depois do preparo inicial do solo, como também a calagem adequada da área, a fim de favorecer a decomposição da matéria orgânica do solo.
Além disso, também é importante evitar ferimentos na região do colo e nas raízes mais superficiais durante a operação de capina e outras práticas de manejo, para evitar que o fungo colonize as plantas de café.
Contudo, se forem verificadas na área plantas acometidas pela roseliniose, recomenda-se fazer o arranquio e queima das plantas atacadas, fazendo o replantio nos talhões afetados três meses após o preparo e tratamento das covas com cal viva.
6. O amarelinho
O amarelinho do café também está entre as principais doenças do café que vem preocupando muitos cafeicultores no Brasil, uma vez que as alternativas de controle químico dela ainda não são eficazes.
O agente causal do amarelinho do café, a bactéria Xylella fastidiosa, apesar de não provocar a morte súbita do cafeeiro, acaba gerando danos pela obstrução física dos vasos condutores de seiva das plantas como:
- A redução do crescimento e do vigor das plantas;
- O encurtamento dos internódios;
- A necrose e abscisão foliar.
A transmissão do amarelinho, depende de diversas espécies de cigarrinhas sugadoras do xilema, que são o vetor dessa doença do café. Elas, ao se alimentarem de plantas doentes, acabam adquirindo a bactéria e transmitindo o agente causal do amarelinho para plantas sadias.
Dessa forma, monitorar e controlar as populações dos insetos vetores é imprescindível para garantir o controle do amarelinho nos talhões.
Além disso, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também recomenda evitar condições de estresse das plantas no campo, a fim de reduzir os efeitos negativos da bactéria na cultura, como aqueles causados:
- Pelo desequilíbrio nutricional das plantas;
- Pelos períodos de estiagem;
- Pelo ataque de nematoides.
Existem diversas práticas que podem ajudar a minimizar os impactos negativos dos estresses nas plantas. No caso do estresse hídrico, uma das estratégias que podem ser utilizada pelo agricultor é a aplicação de silício.
7. A fusariose
Por fim, a fusariose é outra das doenças do café que também atua no sistema vascular das plantas.
Essa doença, também conhecida como murcha do café, é capaz de provocar a murcha, amarelecimento e morte do caule e dos ramos laterais do café. Sintomas esses que progridem da copa do café em direção ao baixeiro das plantas.
Só que, diferentemente do amarelinho, os sintomas da fusariose são provocados pelas toxinas produzidas por algumas espécies de fungos patogênicos do gênero Fusarium.
Essas espécies de fungos patogênicos são capazes de infectar as plantas de café principalmente através de ferimentos causados por podas, capinas e outros agentes patogênicos.
A incidência da fusariose em lavouras de café normalmente varia em função da espécie das plantas. Enquanto nas lavouras de café arábica a ocorrência dessa doença será mais comum em plantas mais velhas, em lavouras de café robusta/conilon, os danos podem ocorrer muito mais cedo.
Dessa forma, é muito importante adotar medidas preventivas que evitem a entrada do fungo nos talhões, como realizar o controle adequado de pragas e as práticas de manejo cultural, de forma que não provoque danos mecânicos nas plantas.
Entretanto, caso sejam identificadas plantas de café com sintomas de fusariose, recomenda-se fazer o arranquio e eliminação das mesmas.
O controle das doenças do café exige o conhecimento das diferentes particularidades dos seus agentes causais
Em conclusão, podemos perceber que cada doença do café apresenta diferentes padrões sintomáticos e formas de transmissão, dependendo do ciclo de vida e características de cada agente causal.
Além disso, também observamos que diferentes fatores bióticos e abióticos, como o ataque de pragas e a nutrição de plantas, podem afetar a dinâmica das doenças nos cafezais.
Por isso, o conhecimento das particularidades de cada agente causal e sua interação com o ambiente pode se tornar um diferencial na hora de determinar qual o conjunto de estratégias que será mais eficiente para realizar o controle das doenças do café.
Nesse sentido, ações complementares como a manutenção da fertilidade do solo e a adubação com fertilizantes adequados são ferramentas importantes, já que essas práticas ajudam as plantas a lidar melhor com as doenças.