A agricultura digital, também chamada de agricultura 4.0, tem se tornado uma das soluções para a crescente demanda do mercado por culturas cada vez mais produtivas e de melhor qualidade. E ela já vem demonstrando resultados promissores a campo, com a coleta, análise e tomada de decisão com base em dados.
Para falar sobre o assunto, a Verde convidou o Fundador e CEO da InCeres e Mestre em Agricultura de Precisão pela ESALQ/USP, Leonardo Afonso Angeli Menegatti, para o “Encontro com Gigantes – Agricultura digital: casos de sucesso”. Participou também da conversa o Sócio-fundador e Administrador da Agrospeed, Washington Luiz Capelazo.
O evento foi promovido pela Verde, empresa que produz os fertilizantes BAKS, K Forte®, K Forte Boro e Silício Forte, no dia 13 de maio de 2021.
Você pode conferir a conversa, mediada por Rodrigo Mac Leod, na íntegra pelo link:
Os casos de sucesso de Rondônia
Foram apresentados dois casos de sucesso no estado de Rondônia: das fazendas Flor da Mata, no município de Cerejeiras; e Brilhante, no município de Nova Mamoré, ambas produtoras de soja. Os dados das duas fazendas foram trabalhados pela empresa Agrospeed, que processou as informações através da plataforma InCeres.
O uso de plataformas para processamento e armazenamento de dados na agricultura digital se torna imprescindível, segundo Washington Luiz. Isso porque elas são capazes de facilitar e otimizar grande parte dos processos e etapas, oferecendo benefícios tanto para o agricultor quanto para a empresa envolvida. Entre as vantagens citadas por Washington, estão:
- Minimização dos riscos das atividades agrícolas;
- Aumento da resiliência do agricultor a intempéries climáticas;
- Facilitação a tomada de decisão;
- Acesso à informação por meio da tecnologia;
- Uso eficiente dos insumos;
- Melhor gestão do negócio;
- Detalhamento da lavoura.
Para se chegar à recomendação de manejo, são usados os 3 pilares da agricultura de precisão com a coleta de dados, interpretação e processamento e por fim com a tomada de decisão. Washington Luiz ressaltou que esses pilares se dão na forma de um processo cíclico, no qual quanto mais ciclos vão passando, mais assertivas e precisas vão ficando as etapas.
Na coleta de dados inicial, foram usadas as imagens de satélite e mapas de produtividade de ambas a produtividade. Apesar de a fazenda Brilhante apresentar um menor nível tecnológico em equipamentos, Washington Luiz explicou que isso não se tornou um impeditivo para que ela adotasse a agricultura digital.
A solução para o caso foi o aluguel de uma máquina de um local próximo, para gerar o mapa de produtividade da área. Para ele, isso é um exemplo prático de que, ainda que a agricultura digital abarque um maior nível tecnológico, ela é capaz de se adaptar às diferentes realidades.
Outro ponto muito importante para as etapas iniciais de coleta de dados é o mapa de produtividade. Segundo explica Leonardo Afonso Menegatti, ele é capaz de refletir muito bem a fertilidade de solo.
Com os dados do mapa de produtividade e satélite das fazendas dentro da plataforma, foram então geradas as zonas de manejo ou unidades de gestão diferenciadas (UGDs). As UGDs são regiões homogêneas dentro de áreas heterogêneas, que precisam de uma ou mais camadas de informações para serem produzidas.
Ou seja, são as diferentes regiões dentro de um talhão que apresentam características similares, que as agrupam e as diferenciam das demais, formando subdivisões dentro do próprio talhão. Dessa forma, cada área vai poder ser trabalhada com um manejo único e específico, que vai variar desde a escolha do cultivar a tratos culturais.
As zonas de manejo também apresentam outra finalidade: orientar a próxima etapa, que é a amostragem de solo. Washington Luiz explica que ele e sua equipe trabalham com a chamada amostragem de solo dirigida:
“Nós criamos a zona de manejo para começar a definir a nossa amostragem de solo dirigida. Como já trabalhávamos com uma propriedade que tinha uma base de dados (a fazenda Flor da Mata) que poderiam ser trabalhados, que são as imagens de satélite e os mapas de colheita, fizemos a amostragem das manchas que coincidiram entre o mapa de produtividade e o desenvolvimento massa foliar da cultura, conhecido como MDVI.”
Também é comum a visualização de zonas de transposição entre duas ou mais zonas de manejo. Elas acontecem quando existe alguma variável no talhão, que no caso da fazenda Flor da Mata foi a presença de uma antiga cerca.
Como geralmente a locomoção dos equipamentos agrícolas é feita próxima as extremidades, consequentemente a área no talhão sofreu uma maior compactação do solo. Isso levou ao aparecimento do delineamento da cerca antiga, tanto no mapa de produtividade quando estabelecendo os limites das zonas de manejo.
E com os dados das análises de solo finalizados é gerado o mapa de fertilidade, que encerra a primeira etapa do processo. A próxima e uma das mais importantes é a interpretação e processamento correta dos dados.
Análises e processamentos dos dados: passos importantes para uma agricultura digital eficiente e assertiva
Uma das etapas mais importantes que garantem a escolha de um manejo eficiente e assertivo, é a análise e processamento de dados. Na fazenda Flor da Mata, apesar de possuírem tanto as imagens de satélite quanto o mapa de produtividade, eles não conseguiam encontrar o problema para baixa produtividade da soja, apesar das recorrentes aplicações de adubação de cobertura.
Quando esses mesmos dados foram trabalhados pela empresa AgroSpeed, através da plataforma InCeres e por toda a equipe de Washington Luiz, foi verificado que o problema principal não era a fertilidade do solo e sim de que os dados não estavam gerando a informação correta.
Tanto na fazenda Flor da Mata quanto na fazenda Brilhante, o teor de potássio do solo se encontrava em excesso. Com isso, é possível concluir que a adubação nem sempre vai ser a solução para o incremento da produtividade.
Isso fez com que os demais nutrientes não fossem absorvidos de forma adequada, além de indicar que os dados das análises de solo e foliar não estavam sendo bem interpretados. Washington Luiz explicou como a interpretação equivocada dos dados levou à situação:
“Encontramos um teor muito alto de potássio nessa área, que indicaram que toda as adubações realizadas nas safras anteriores não estavam sendo totalmente extraídas pelas plantas o que gerou um acúmulo no solo muito grande.”
Além disso, diferentes composições do solo também podem gerar grandes discrepâncias na produtividade, que foi o que ocorreu na fazenda Brilhante. No mesmo talhão, houve áreas que apresentaram praticamente o dobro do teor de argila presente nas outras áreas.
Para tratar essas diferentes particularidades dentro de um mesmo talhão e garantir uma maior produtividade, cada zona de manejo dentro dos talhões das propriedades recebeu recomendações específicas.
Essas recomendações variaram desde a escolha da cultivar mais adequada para a condição do solo ao refinamento do programa de adubação. Isso fez com que a produtividade das fazendas fosse incrementada no talhão trabalhado:
- Na fazenda Flor da Mata: aumento de quase 20 sacas por hectare;
- Na fazenda Brilhante: aumento de 4 sacas por hectare;
Segundo Washington Luiz, apesar do aumento da produtividade na fazenda Brilhante ter sido menos expressivo, o maior ganho da propriedade se refletiu em outro aspecto: houve uma melhor compreensão do talhão para o manejo da próxima safra.
Já na fazenda Flor da Mata, houve não somente o ganho em produtividade, mas também a redução de custos de produção. Pela condição atípica de na propriedade, foi possível cortar custos referentes a adubação potássica.
Entretanto, Washington Luiz explicou que nem sempre a agricultura de precisão vai reduzir custos, já que em alguns casos é preciso investir para se ter um ganho em produtividade.
Diante dos resultados positivos e do avanço das tecnologias, algumas questões surgem: quais são as perspectivas da agricultura digital no mercado? É possível que ela seja adotada por mais agricultores?
As perspectivas da agricultura digital no mercado
A busca constante pele aumento da produtividade vai ser, segundo Washington Luiz, o que vai impulsionar o mercado da agricultura digital e de todas as suas áreas correlatas:
“Estamos vendo uma mudança muito grande no mercado, buscando essas soluções tecnológicas para muitos dos problemas que estamos enfrentando hoje. Essa busca muito grande por aumento de produtividade vai acabar se voltando totalmente para a agricultura digital, mas como também a tecnologia em cultivares, maquinário e clima.”
Já Leonardo Afonso Menegatti avalia que ela terá um impacto ainda mais profundo na cadeia produtiva agrícola, voltada para o impacto social e com a abertura de novas oportunidades para o agricultor brasileiro:
“A agricultura digital vai tornar mais acessível a assistência técnica para os agricultores. Ela vai mudar a maneira como conseguimos ajudar na tomar decisão, com a criação de algoritmos preditivos, para prever o que vai acontecer antes que aconteça.
Além disso, com os dados nós vamos conseguir monitorar e mostrar de maneira mais eficiente ao mundo, o quanto a agricultura brasileira é amiga do ambiente. Vamos dar acesso aos agricultores a um novo mercado: dos créditos de carbono.”
Para ver os casos de sucesso da agricultura digital completos, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!
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