Com cerca de 10 milhões de hectares no Brasil já usando produtos biológicos, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico, o papel desses produtos no manejo integrado de pragas tem ganhado cada vez mais destaque.
O controle biológico de doenças tem com premissa o controle de pragas agrícolas e insetos transmissores de doenças a partir da inserção de seus inimigos naturais no sistema, sendo as rizobactérias um desses agentes.
Para falar sobre esse assunto, o Doutor em Fitopatologia e professor associado do Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Dr. Flávio Medeiros, participou do “Encontro com Gigantes –Rizobactérias como agentes de biocontrole de doenças”. A conversa contou também com a presença da Engenheira Agrônoma e Sócia-Diretora da Loschi Agronegócios, Hilda Loschi.
O evento foi promovido pela Verde, empresa que produz os fertilizantes BAKS, K Forte®, K Forte Boro e Silício Forte, no dia 25 de março de 2021.
Você pode conferir a conversa, mediada por Rodrigo Mac Leod, na íntegra pelo link:
O biocontrole de doenças e o solo
O biocontrole de doenças vem sendo utilizado como mais uma ferramenta para se alcançar o máximo de produtividade. O Dr. Flávio Medeiros apontou que a agricultura ainda apresenta um potencial de crescimento entre 20 e 30% da produtividade das cultivares, desde que sejam otimizadas as práticas de manejo.
A otimização dessas práticas de manejo fitossanitárias começa com a observação das diferentes relações e interações que acontecem no agroecossistema ao longo do ano e em especial no solo. Isso porque, segundo Hilda Loschi, as populações de microrganismos são variáveis ao longo do ano conforme o clima.
Além disso, o professor Flávio ressalta que as plantas têm uma forte influência na diversidade dessas populações. Cada planta apresenta uma seleção única de organismos associados a ela, então, quanto mais diversificado o sistema, mais diversificada é a comunidade de microrganismos.
Uma das técnicas utilizadas para a identificação das populações que compõe a microbiota é o sequenciamento 16S, realizado em laboratórios. A técnica é capaz de identificar os diferentes gêneros das comunidades presentes no solo e fornecer dados para a tomada de decisão.
O Dr. Flávio destacou a importância de ter uma visão crítica sobre a cultivar produzida, para entender se realmente os microrganismos identificados representam algum tipo de risco para a planta.
E os efeitos dessas populações não se limitam à interação solo-planta, mas também abrangem as interações entre os próprios microrganismos. Por exemplo, nas pesquisas realizadas por Hilda Loschi no cultivo da banana prata identificou-se uma correlação entre as populações de nematoides e o fungo causador da doença conhecida como mal-do-Panamá.
A observação criteriosa do solo e da relação das comunidades dos microrganismos então se mostra como o primeiro passo para o início de um biocontrole efetivo. Mas, como a microbiota interage com a planta e qual a atuação das rizobactérias?
As rizobactérias como agentes do controle biológico
As raízes das plantas são uma das principais vias para a entrada e colonização dos microrganismos. O professor Flávio Medeiros explicou que isso acontece porque até 30% dos fotoassimilados produzidos pela planta são perdidos pelas raízes.
Os fotoassimilados são a fonte de energia para a planta, produzidos a partir da fotossíntese. Esses produtos então passam a ser utilizados como alimento para que a microbiota se multiplique e colonize o sistema radicular
Geralmente, as bactérias vão apresentar uma vantagem competitiva frente aos outros microrganismos, uma vez que apresentam uma velocidade de crescimento muito superior aos demais micróbios. Com isso, elas serão muito utilizadas para compor produtos biológicos, como no caso de tratamento de sementes.
A maior vantagem da utilização das rizobactérias no tratamento de sementes frente aos produtos químicos, é o seu efeito de longo prazo e que perdura com o crescimento das plantas. Segundo o Dr. Flávio Medeiros, as sementes são uma escolha estratégica para a prática do biocontrole, já que:
“Os fitopatógenos, particularmente patógenos fúngicos, vão colonizar a semente no processo de embebição, na espermosfera. E esses fitopatógenos coevoluíram para perceber os exsudados liberados pelas sementes, para então germinar e infectar os tecidos. Por isso é que temos o tombamento pré-emergente.”
Dessa forma, a utilização das rizobactérias visa criar um biofilme capaz de proteger a semente da infecção pelos fitopatógenos. E como elas apresentam uma velocidade de crescimento muito superior aos demais microrganismos, se tornam uma ótima alternativa para o controle biológico.
O papel das rizobactérias não se limita apenas ao controle de patógenos radiculares, uma vez que elas também são conhecidas como promotoras de crescimento das plantas por aumentar:
- A solubilização de nutrientes;
- A fixação de nitrogênio;
- A tolerância ao estresse hídrico, salinidade e toxicidade de metais.
Porém, esse controle de patógenos não deve ser limitado apenas pela prática do controle biológico, para que se tenha resultados significativos e duradouros. Ele deve ser visto como mais uma ferramenta usada no controle de doenças, conforme explica Hilda Loschi:
“Em uma área muito infectada, não é com apenas uma aplicação de produtos biológicos que você vai reduzir a população a um nível que não cause danos a sua lavoura. Você precisa ir construindo essa resistência com vários processos, como rotação de culturas, uso de plantas de cobertura e outras metodologias de controle, para criar vários sistemas de mitigação ao longo dos anos.”
O controle biológico é uma ferramenta adaptável
Além de buscar entender o seu solo, as diferentes comunidades de microrganismos que o compõem, as particularidades da sua lavoura, as diferentes práticas de manejo e os produtos biológicos mais adequados para serem aplicados, é importante compreender como todos esses fatores trabalham em conjunto e como adequá-los a sua realidade.
O Dr. Flávio Medeiros ressaltou que, quanto mais o agricultor buscar por bons profissionais capazes de moldar o controle biológico para sua realidade, considerando as diferentes relações e compatibilidades estabelecidas naquele sistema, mais bem sucedido será o manejo implementado:
“Sabemos que o manejo de doenças é muito mais do que só o controle biológico. Quanto mais entendermos o papel das práticas de manejo para potencializar o estabelecimento de comunidades de microrganismos e buscar moldar ele para sua realidade, mais sucesso você vai ter no manejo de doenças.”
Para entender mais sobre as Rizobactérias como agentes de biocontrole de doenças, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!
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