Os concursos de qualidade de café têm sido uma parte fundamental na história da cafeicultura nacional, quebrando muitos paradigmas em relação a qualidade e ajudando no estabelecimento e na manutenção da imagem do café brasileiro como o mais diversificado celeiro de cafés especiais do mundo.
No primeiro evento da série especial de Encontro com Gigantes: Café Premiado, a Verde convidou a Doutora e Mestre em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Dra. Aracy Camilla Tardin Pinheiro, para o “Encontro com Gigantes – Concursos de qualidade de café: o que são e como podem valorizar seu produto?”.
O evento foi promovido pela Verde, empresa que produz os fertilizantes BAKS®, K Forte® e Silício Forte, no dia 08 de julho de 2021.
Você pode conferir a conversa, mediada por Rinamara Martins, na íntegra pelo link:
O que são e como funcionam os concursos de qualidade de café
Os concursos de qualidade do café são eventos realizados por órgãos governamentais ou empresas privadas com o objetivo de fortalecer, reconhecer, valorizar e premiar a produção de cafés. Segundo a Dra. Aracy Camilla, eles têm sido parte fundamental no processo de mudança da reputação brasileira regional e internacional e surgem como uma grande oportunidade para os cafeicultores.
Dentre os diversos concursos com diferentes requisitos e restrições, considerando os últimos editais disponíveis (2020), a Dra. Aracy Camilla destacou:
- Cup of Excellence: pontuação mínima de 86 pontos na pré-seleção;
- Prêmio Erneto Illy de Qualidade Sustentável do Café para “espresso” – Brasil: lote mínimo de 80 sacas;
- Coffee of the Year: lote de 2 a 20 sacas e categorias (café arábica, robusta, fermentação induzida);
- Florada Premiada: lote de 3 a 10 sacas, específico para o público feminino e categorias (via úmida e via seca);
- Qualidade dos Cafés de Minas Gerais: lote mínimo de 5 sacas e categorias (natural ou cereja descascados, despolpados ou desmulcilados).
Para que o agricultor participe, ele deve procurar um concurso no qual ele veja potencial para apresentar seu produto e realizar a inscrição, que muitas vezes é gratuita. Após a etapa de inscrição é feito o envio da amostra, que, como explicou Dra. Aracy Camilla, pode categorizar a amostrar em dois tipos: natural e CD.
“A categoria natural são os cafés que tem o processamento via seca, ou seja, são os cafés que são secos sem a retirada da casca. E os cafés cereja descascado (CD) são aqueles que passam por um processamento via úmida, com separação dos cafés cereja (maduros) dos cafés verdes e boias, e descascamento, para só, então, irem para o processo de secagem.”
Nessa etapa, é muito importante que as amostras reflitam fielmente o lote, uma vez que a não conformidade com esse requisito pode levar à desclassificação do candidato do concurso. E, a seguir, prossegue-se para a etapa das avaliações físicas e sensoriais da amostra.
A Dra. Aracy Camilla ressaltou que para garantir uma boa avaliação física, é muito importante se atentar ao teor de umidade e tamanho dos grãos, enquanto a uniformidade da maturação pode impactar na avaliação sensorial.
Uma amostra que recebe muitos comentários sobre adstringência, pode indicar a presença de grãos verdes em sua composição. (Fonte: ROCHA, R. – Embrapa Rondônia)
As diferentes notas atribuídas durante o processo de avaliação podem seguir um dos dois principais protocolos de avaliação utilizados nos concursos:
- SCA: Associação de Cafés Especiais;
- CoE: Cup of Excellence.
No protocolo SCA cada amostra é avaliada por meio de 5 xícaras e 10 características, enquanto para o CoE são avaliadas 4 xícaras e 8 atributos. A Dra. Aracy Camilla apontou que cada protocolo tem suas diferentes formas de avaliação, pontuação e peculiaridades:
“Na avaliação por meio do protocolo SCA, por exemplo, existe uma diferença na forma como os atributos são avaliados. Os atributos de uniformidade, xícara limpa e doçura são avaliados de forma objetiva e os demais atributos de forma subjetiva.”
Ao final da classificação das amostras, os cafés recebem diferentes tipos de premiações, que vão desde quantias em dinheiros a leilões virtuais. Em 2018, foi registrado um dos cafés mais caros do Brasil: um produto da região da Chapada de Minas Gerais que foi negociado por 315 dólares o quilo.
Mas será que os impactos e benefícios dos concursos de qualidade de café se limitam aos prêmios?
Os 10 benefícios e impactos dos concursos de qualidade de café
Os benefícios e impactos dos concursos de qualidade de café vão muito além dos prêmios, conforme notado na pesquisa Dra. Aracy Camilla:
“Em nossa pesquisa, percebemos que, em Minas Gerais, os concursos tiveram um impacto grande. No estado, existia um paradigma de que a região só tinha potencial de produzir cafés ruins. Porém, isso foi sendo quebrado principalmente através das premiações em concursos.”
Com isso, o reconhecimento social expresso nas premiações dos agricultores tem exercido um papel fundamental na mudança positiva da reputação regional e nacional da cafeicultura brasileira. Mas, será que é somente isso?
Dentre os diferentes benefícios e impactos dos concursos de qualidade de café, a Dra. Aracy Camilla destacou:
- Participação na evolução do mercado de cafés especiais;
- Maior contato dos agricultores com as novas tecnologias;
- Aprimoramento dos parâmetros de qualidade das bebidas;
- Conhecimento do potencial de qualidade dos talhões e produtos;
- Aumento no consumo de cafés especiais;
- Reconhecimento dos cafeicultores e melhor remuneração dos produtos;
- Incentivo ao desenvolvimento técnico e contínuo dos agricultores;
- Divulgação da diversidade e o potencial das bebidas produzidas nas regiões;
- Oportunidade da troca de experiências entre os participantes dos concursos;
- Estreitamento da relação comercial entre cafeicultores e compradores;
Para desfrutar de todos esses benefícios diretos e indiretos que os concursos de qualidade podem oferecer, como, então, produzir um café campeão?
Como produzir um café campeão
Para produzir o café campeão, a Dra. Aracy Camilla recomendou que o cafeicultor se atente a todos os parâmetros que influenciam a qualidade da bebida, que vão desde fatores genéticos ao pós-colheita. E ainda recomendou:
- Escolha de variedades adaptadas e com bom potencial de qualidade;
- Bom manejo da lavoura, usando de recursos do manejo integrado de pragas e doenças, correção e adubação do solo;
- Conhecimento e identificação do potencial da área de produção.
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O bom manejo da lavoura do café ajuda na produção de cafés especiais
Durante o ano, são diversas as oportunidades em concursos regionais, nacionais e internacionais e para saber aproveitá-las é muito importante estar sempre atento aos canais de comunicação. E a Dra. Aracy Camilla concluiu:
“Os concursos vão muito além da premiação da qualidade, dando visibilidade ao agricultor e a região produtora, abrindo novos acessos dos agricultores aos compradores e elevando o nível tecnológico da produção do café. Há diversas oportunidades de participação do agricultor em concursos e apesar de parecer desafiadora em um primeiro momento, a participação pode ser transformadora para propriedade.”
Para entender mais sobre os concursos de qualidade de café, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!
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