O tripes é um pequeno inseto que se alimenta dos tecidos vegetais de uma grande variedade de plantas, principalmente as cultivadas, e que vem causando danos significativos em diversas áreas sojicultoras de todo o Brasil. Os danos causados por ele na soja, relacionados à perda de peso e à qualidade dos grãos e redução da região do baixeiro das plantas, tem feito muitos agricultores buscarem entender como funciona o manejo desse inseto-praga no campo, para controlar os surtos populacionais que podem se tornar frequentes.
Para falar sobre esse assunto, o Engenheiro Agrônomo e Doutor em Entomologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Mauricio Paulo Batistella Pasini participou do “Encontro com Gigantes – Alta incidência de tripes na safra de soja: entenda os motivos”.
O evento foi promovido pela Verde Agritech, empresa que produz os fertilizantes BAKS®, K Forte® e Silício Forte, no dia 26 de maio de 2022.
Você pode conferir a conversa, mediada pela Dra. Rafaela Santos, na íntegra pelo link:
O que é tripes e quais seus danos nas plantas?
O tripes é um inseto da ordem Thysanoptera presente em diversas culturas como a soja, o feijão, o algodão, milho e trigo. Entretanto, muitas vezes o seu corpo estreito e o tamanho diminuto do inseto são responsáveis por complicar o seu processo de identificação na lavoura.
Além da difícil identificação, a infestação pelo tripes pode trazer muitos prejuízos para o agricultor, já que esses insetos são majoritariamente fitófagos, ou seja, que se alimentam da seiva das flores, folhas e frutos das plantas.
No caso da cultura da soja, o Dr. Mauricio Paulo explica que existem duas espécies principais capazes de gerar danos significativos para a cultura, que pertencem aos gêneros Frankliniella e Caliothrips.
As principais diferenças entre as espécies contidas nesses dois gêneros podem ser identificadas pela região da planta atacada e o tipo de dano causado, como explica o Dr. Mauricio Paulo:
“As espécies do gênero Caliothrips fazem uma espécie de processo de “raspagem” nas folhas da parte mediana e inferior do dossel, conseguindo perfurar a nível celular as estruturas da epiderme da planta, principalmente, na região onde se concentram os seus estômatos. Já os danos das espécies do gênero Frankliniella ficam concentrados na região do tecido meristemático da planta e, apesar de perda da área fotossinteticamente ativa não ser tão grande quanto das espécies do gênero Caliothrips eles afetam muito a diferenciação e o desenvolvimento das plantas de soja.”
Os danos causados pelas espécies do gênero Caliothrips geralmente afetam negativamente o balanço hídrico e o processo fotossintético da planta, uma vez que elas atacam a principal estrutura responsável por realizar a transpiração e as trocas gasosas das plantas.
O resultado desses danos se reflete principalmente na redução da eficiência fotossintética das plantas, que pode levar ao abortamento do trifólio ou diminuir a quantidade de açúcar que vai chegar para o enchimento de grãos de soja.
Ou seja, os tripes além de reduzirem o peso e qualidade dos grãos, também podem ser responsáveis por diminuir a região do baixeiro das plantas, que é responsável por 30% do potencial produtivo da soja.
Além das perdas de produtividade e qualidade, existem ainda mais três fatores agravantes com relação ao ataque de tripes nas lavouras.
De acordo com o Dr. Mauricio Paulo, as espécies de tripes do gênero Frankliniella podem ser vetores de viroses e gerar o abortamento de flores, além de ambos os gêneros estarem presentes durante toda a fase vegetativa e reprodutiva da soja.
Como, então, controlar esse inseto-praga na soja quando ele atinge o seu nível de controle?
Como controlar tripes na soja?
O primeiro passo para controlar efetivamente a infestação de tripes na soja começa com a desmistificação de ele é uma praga restrita a região sul do Brasil e que algumas condições podem levar ao aparecimento de surtos na região, conforme explica o Dr Mauricio Paulo:
“Regiões mais ao sul do Brasil, como Rio Grande do Sul, tem maior densidade populacional. Mas, há uma situação de aumento gradativo das populações nas outras regiões do país, como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás. Além disso, condições de seca com chuvas esparsas podem favorecer o estabelecimento da tripes como praga dominante na lavoura, já que em ambiente úmido existem mais agentes que podem estar fazendo a seu controle natural, como os microrganismos do solo.”
Como condições climáticas podem afetar a incidência de tripes das lavouras, um dos primeiros métodos de controle consiste no ajuste fino da irrigação.
A presença de água na lavoura pode condicionar muito o início das infestações, já que o tripes no estágio de pré-pupa e pupa completa o seu desenvolvimento e migra novamente para a planta assim que recebe um indicativo de que as condições de umidade no solo são favoráveis à melhor nutrição das plantas.
O ajuste da irrigação também tem um impacto direto na resistência das plantas às tripes, uma vez que as plantas mais bem irrigadas tendem a ter uma menor concentração de lignina no seu tecido vegetal, facilitando o ataque do inseto.
Outra medida de controle do tripes envolve o uso do controle químico. A principal janela de oportunidade para manejo de tripes em soja com insumos químicos se encontra na sua fase vegetativa, principalmente entre os estádios V2 e V4. Sendo que na fase reprodutiva, recomenda-se mais a adoção de uma abordagem de manutenção, conforme evidenciou o Dr Mauricio Paulo.
Entretanto, o Dr. Mauricio Paulo explicou que ainda faltam desenvolver recursos relacionados à tecnologia de aplicação, principalmente para as espécies de tripes do gênero Frankliniella, que geralmente ficam alojadas no interior dos folíolos da região meristemática da planta, uma região de difícil acesso para os produtos aplicados.
Concluindo, o Dr. Mauricio Paulo recomendou ser imprescindível adotar outras medidas de controle presentes no Manejo Integrado de Pragas (MIP) para garantir um controle efetivo do tripes. Sendo algumas delas a adubação das plantas com nutrientes como silício, boro, magnésio, potássio e cobre, e o uso de diferentes agentes de controle biológico.
Para entender mais sobre os motivos da alta incidência de tripes na safra de soja, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!
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