Já é bem conhecido que uma nutrição mineral adequada do café pode promover a expressão do máximo potencial produtivo dessa cultura. Mas, atender a essa demanda nutricional também pode propiciar um segundo efeito: o aumento da qualidade do café.
No segundo evento da série especial de Encontro com Gigantes: Café Premiado, a Verde convidou Doutor em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Dr. Gustavo Nogueira Guedes Pereira Rosa, para o “Encontro com Gigantes – Qual o impacto da nutrição na produção de cafés de alta qualidade?”
O evento foi promovido pela Verde, empresa que produz os fertilizantes BAKS®, K Forte® e Silício Forte, no dia 15 de julho de 2021.
Você pode conferir a conversa, mediada por Rodrigo Mac Leod, na íntegra pelo link:
A relação entre a nutrição e a qualidade do café
Com uma área cultivada em torno de 2,2 milhões de hectares, o Brasil é o maior produtor de café do mundo e o segundo maior consumidor de grãos de café, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Mesmo estando em um ano bienalidade negativa, em que existe uma diminuição expressiva da produtividade, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima uma produção nacional de café de quase 49 milhões de sacas, com uma média de 25 sacas por hectare.
Para dar aporte nutricional para toda essa produção, é preciso um manejo nutricional que não só atenda às necessidades das plantas, mas que também leve em consideração as características intrínsecas ao sistema de cultivo local. É o que explica o Dr. Gustavo Nogueira, que destaca as diferenças regionais que existem no Brasil:
“O Brasil é um país muito grande e mesmo dentro de um estado, como Minas Gerais, encontramos 4 regiões bem distintas quanto a nível tecnológico, tamanho de propriedade, qualidade de café, mecanização, irrigação, controle fitossanitário, etc.”
Contudo, a nutrição vegetal não se limita ao aumento da produtividade do café. No caso do potássio, por exemplo, já foi constatado seu potencial para amenizar os estresses bióticos e abióticos e que alguns compostos presentes fertilizantes potássicos convencionais, como o cloro, podem reduzir a qualidade do café.
O Doutor em Ciência do Solo Enilson de Barros Silva, no seu estudo Qualidade de grãos de café beneficiados em resposta à adubação potássica, demonstrou que o cloro provoca a redução da atividade da polifenoloxidase (PPO), uma enzima cúprica ligada a qualidade do café.
Uma das hipóteses levantadas por pesquisadores da área que explicam essa ação inibitória é de que como a PPO é uma enzima cúprica, o excesso dos íons de cloro leva a precipitação do íon Cl– com o Cu2+, reduzindo a ativação da enzima.
Além da PPO, o Dr. Gustavo Nogueira explicou que já existem análises químicas de outros compostos e atividades enzimáticas que se correlacionam diretamente com a qualidade de café, como:
- Trigonelina;
- Cafeína;
- Compostos fenólicos;
- Teores de açúcares totais, redutores e não redutores;
- Índices de coloração;
- Acidez e pH;
- Condutividade elétrica e K-lixiviado.
Com a realização dessas análises, o cafeicultor consegue ter uma melhor orientação de quais parâmetros precisam ser trabalhados ao longo do ciclo da cultura e garante uma melhor avaliação final do preço e qualidade do café em concursos de qualidade, por exemplo.
Como, então, o cafeicultor pode melhorar a qualidade do café através da nutrição?
Como melhorar a qualidade do café através da nutrição vegetal
Melhorar a qualidade do café é uma das ambições de grande parte dos cafeicultores, principalmente considerando que o ritmo de crescimento do mercado de cafés especiais é superior ao do mercado de café de commodities. Nesse cenário, o Dr. Gustavo Nogueira inclusive destacou uma recente mudança:
“Até 2016, ouvíamos que o momento da colheita definiria a qualidade e não seria possível melhorá-la no pós-colheita. Hoje, com a fermentação do café, vemos agricultores alcançando 92-93 pontos com cafés fermentados.”
O primeiro-passo para melhorar a qualidade do café através da nutrição vegetal começa com o fornecimento adequado de todos os macronutrientes e micronutrientes necessários para o desenvolvimento do café. Em um primeiro momento, pode parecer uma prática já realizada por grande parte dos cafeicultores, porém a realidade é diferente.
Um levantamento do estado nutricional de 416 lavouras comerciais da região “Matas de Minas” constatou, através da análise foliar, que a maior parte das amostras apresentaram deficiência de cálcio e zinco e teores elevados de nitrogênio, fósforo e potássio.
Segundo o Dr. Gustavo Nogueira, isso acontece porque muitas vezes o agricultor acaba ficando preso às fórmulas convencionais de adubação e negligencia a interpretação da análise do solo e foliar para calibrar o manejo nutricional da sua lavoura.
Consequentemente, esse comportamento leva a não aplicação de uma das formas mais promissoras para aumentar a qualidade do café: os micronutrientes. Eles são aqueles nutrientes requeridos em menores quantidades pelas plantas, mas que desempenham funções essenciais na planta.
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Os micronutrientes necessários em cada fase de desenvolvimento da planta.
Para garantir uma adubação eficiente de micronutrientes, o Dr. Gustavo Nogueira recomendou que é preciso ir além da adubação foliar. Ele explicou que o órgão especializado da planta para absorção de nutrientes é a raiz. Assim, se os teores de micronutriente no solo estiverem baixos, somente a adubação foliar não será suficiente para suprir as demandas da planta.
Dentre os parâmetros de qualidade afetados diretamente pela presença dos micronutrientes, o Dr. Gustavo Nogueira destacou:
- Boro: acúmulo de fenóis e atividade PPO;
- Cobre: cafeína, trigonelina e atividade PPO;
- Zinco: tamanho de grão, % de grãos brocados, condutividade elétrica e K-lixiviado.
Para garantir uma nutrição vegetal balanceada e adequada, é preciso ir além do manejo nutricional.
Os manejos agrícolas complementares a nutrição vegetal
Apenas fornecer os nutrientes em teores adequados para o café não vai garantir a nutrição adequada da cultura. Para que um nutriente esteja prontamente disponível no solo para absorção da planta, ele pode depender de outros fatores, como a Capacidade de Troca Catiônica (CTC) e o pH.
O Dr. Gustavo Nogueira ressaltou que é preciso se atentar à realização de práticas agrícolas complementares a adubação, como a calagem, de forma a propiciar condições adequadas do solo para um desempenho eficiente dos nutrientes. E concluiu:
“São necessários mais estudos relacionando a nutrição e a qualidade de bebida para direcionar melhor a adubação do agricultor, principalmente em regiões que já tem o histórico de cafés com qualidade superior. E adubar melhor não significa adubar mais, mas sim realizar a adubação técnica, considerando a análise de solo, a análise foliar, a fonte de nutrientes, a dose, a época e a forma de aplicação, para alcançar uma nutrição equilibrada.”
Para entender mais sobre o impacto da nutrição na produção de cafés de alta qualidade, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!
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