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Como utilizar os feromônios no controle de pragas agrícolas?

Entender o melhor momento para utilizar métodos de controle de pragas ainda é um dos grandes desafios do agricultor brasileiro. Com opções cada vez mais limitadas, o uso dos feromônios se mostra como uma das alternativas para garantir a produtividade e qualidade das lavouras.

Para falar sobre o assunto, a Verde convidou Doutora em Entomologia e Professora do Departamento de Entomologia da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Dra. Maria Fernanda Peñaflor para o “Encontro com Gigantes – Feromônios: como utilizá-los no controle de pragas?”. Participou também da conversa o Sócio-fundador e Administrador da Agrospeed, Washington Luiz Capelazo.

O evento foi promovido pela Verde, empresa que produz os fertilizantes BAKS, K Forte®, K Forte Boro e Silício Forte, no dia 20 de maio de 2021.

Você pode conferir a conversa, mediada por Rodrigo Mac Leod, na íntegra pelo link:

 O que são os feromônios e como eles são utilizados na agricultura

Os feromônios são substâncias químicas usadas na comunicação de organismos da mesma espécie. Pelos insetos, eles são detectados através das antenas e é um dos principais canais de comunicação, devido a algumas vantagens apresentadas pela Dra. Maria Fernanda:

“Muitos insetos utilizam um canal de comunicação químico, porque ele transpõe barreiras físicas, o que vai ser efetivo durante o dia ou noite, e ainda pode percorrer uma longa distância.”

As duas principais funções desempenhadas por esses feromônios são a sexual e de agregação. Aqueles com função sexual vão ser importantes na comunicação entre os sexos para o acasalamento. A professora Maria Fernanda explica que geralmente é a fêmea que libera o feromônio sexual, para sinalizar ao macho que está pronta para reproduzir.

Já o feromônio de agregação, atrai tanto os machos quanto as fêmeas da espécie, uma vez que, além da função sexual ele desempenha um papel na alimentação.

O feromônio de agregação é muito utilizado por espécies de besouros e percevejos. No processo de atração, além das substâncias liberadas pelo inseto, estão envolvidas as substância voláteis liberadas pela planta atacada. (Fonte: L. Shyamal, CC BY-SA 3.0 - Wikimedia Commons)

O feromônio de agregação é muito utilizado por espécies de besouros e percevejos. No processo de atração, além das substâncias liberadas pelo inseto, estão envolvidas as substância voláteis liberadas pela planta atacada. (Fonte: L. Shyamal, CC BY-SA 3.0 – Wikimedia Commons)

Foi observando esse comportamento dos insetos na natureza, que o bioquímico alemão Adolf Butenandt descobriu os feromônios na década de 90 e impulsionou as pesquisas do setor.

O objetivo dessas pesquisas é identificar as substâncias químicas que os insetos utilizam na comunicação sexual para sintetizar e mimetizar essas moléculas químicas naturais em larga escala e utilizá-las ao favor do homem na agricultura.

O estudo e desenvolvimento das moléculas sintéticas de feromônios levou ao desenvolvimento de 4 táticas de monitoramento e controle de insetos presentes hoje na agricultura. A Dra. Maria Fernanda ressalta que elas são utilizadas em mais de 10 milhões de hectares no mundo e que isso só veio crescendo com o passar dos anos.

Ela explica ainda que uma das principais vantagens do uso dessas táticas está no fato de que a amostragem e o controle geralmente são feitos antes dos danos mais graves às culturas. Isso faz com que manejos complementares às táticas sejam otimizados, como o uso mais racional do controle químico:

“Depois da cópula, a fêmea vai depositar os seus ovos dos quais eclodem as lagartas ou larvas que vão causar a injúria na planta. Elas podem se alimentar de várias partes vegetais como flores, frutos, tronco. Então a tática com o feromônio vai agir no estágio de cópula dos insetos, ou seja, anterior ao estágio que mais causa injúria nas plantas.”

As táticas se dividem em dois principais grupos: as de monitoramento e as controle. As primeiras visam constar a presença na praga no cultivo ou ainda determinar os níveis de controle, enquanto as outras buscam principalmente a supressão do inseto praga.

Mas, quais são essas táticas e como elas funcionam no campo?

As táticas de monitoramento e controle de insetos praga com feromônios

O primeiro grupo das táticas de monitoramento é composto pela amostragem, que visa o monitoramento da população do inseto praga de acordo com o seu nível controle. A professora Maria Fernanda explica que um produto comercial para monitoramento vai ser composto por três elementos:

  • Feromônio sintético;
  • Liberador;
  • Armadilha;

Como os 3 elementos dos produtos influenciam na captura, eles são estudados buscando otimizar essa captura a campo. Algumas das estratégias utilizadas para otimizar esses resultados são a mudança do formato da armadilha de acordo com o hábito do inseto e os próprios revestimentos contidos no liberador para evitar a degradação e dispersão rápida dos feromônios.

“Os liberadores mais comuns são o septo de borracha e a pastilha, que permitem que a vida da molécula química (feromônio sexual) fique ativo no campo em média entre 4 a 8 semanas, dependendo do produto”, explica a Dra. Maria Fernanda.

Um exemplo da efetividade do monitoramento aliado ao controle químico foi o caso do bicho do furão em citros. Na década de 90, as perdas causadas por esse inseto praga chegaram a cerca de 50 milhões de dólares por ano, devido à capacidade de uma única fêmea depositar um ovo em até 200 frutos.

Antes do uso de feromônios no controle da praga, as perdas podiam chegar de até 350 frutos por planta, além do uso excessivo de inseticidas e a catação dos frutos.

Uma vez introduzido o uso do feromônio para monitoramento do bicho-furão, foram evitadas perdas da ordem de 132,7 milhões a 1,32 bilhões de dólares. Isso aconteceu porque com o uso da prática as perdas chegavam no máximo a 1 fruto por planta e houve redução na catação de frutos e no uso de inseticidas, que foi reduzido em 50%.

A professora Maria Fernanda ainda destacou que o investimento na pesquisa mostrou um ótimo custo-benefício nesse caso, já que para cada 1 dólar investido na pesquisa houve um retorno de 2,65 a 26,54 dólares.

Exemplo de tática de monitoramento da lagarta do cartucho no milho. A armadilha deve ser checada semanalmente para a contagem dos insetos e verificar o nível de controle. (Fonte: Ivênio Oliveira - Embrapa Milho e Sorgo)

Exemplo de tática de monitoramento da lagarta do cartucho no milho. A armadilha deve ser checada semanalmente para a contagem dos insetos e verificar o nível de controle.
(Fonte: Ivênio Oliveira – Embrapa Milho e Sorgo)

O segundo grupo de táticas contemplam os métodos de controle que visam a supressão da população do inseto praga, sendo elas:

  • Coleta massal;
  • Atrai e mata;
  • Confusão sexual.

A primeira delas utiliza o feromônio para capturar o máximo de insetos possíveis no campo, a fim de reduzir a população na próxima geração do inseto. A Dra. Maria Fernanda explica que como a tática visa reduzir a população do inseto, a feromônio escolhido para os produtos geralmente é o de agregação:

“Pensado no feromônio para reduzir a população do inseto, é mais interessante capturar as fêmeas que são responsáveis pela deposição dos ovos. Então como o feromônio sexual para algumas espécies atrai apenas o macho, é mais utilizado o feromônio de agregação para a coleta massal, por atrair tanto os machos quanto as fêmeas.

Ainda assim há feromônios sexuais comercialmente disponíveis para a coleta massal, mas é preciso remover um número muito expressivo de machos para ter reflexo na redução populacional da geração seguinte.”

A tática “atrai e mata”, como o próprio nome sugere, busca a atração e morte dos insetos. Com isso, os feromônios são utilizados junto a inseticidas, o que aumenta a chance de contato do inseto com o produto e consequentemente aumenta o seu potencial de controle.

Por fim, a tática da confusão sexual visa a redução do sucesso de cópula com a dispersão de vários pontos de liberação do feromônio sintético no campo. Porém, a professora Maria Fernanda ressalta que a tática não é economicamente viável para todos os feromônios, devido à grande quantidade que precisa ser aplicada por área para que ela seja realmente efetiva.

E quais são as pragas contempladas pelos produtos disponíveis no Brasil?

Os feromônios comerciais disponíveis no Brasil para o monitoramento e controle de insetos praga

No Brasil, existem 15 pragas contempladas pelos feromônios comercias disponíveis no país para monitoramento e controle, destacando-se:

  • O bicho mineiro, na cultura do café;
  • A lagarta falsa medideira, na cultura da soja;
  • A lagarta do cartucho, na cultura do milho;
  • O bicho do olho do coqueiro, na cultura da cana-de-açúcar;
  • O bicho furão, na cultura de citros.

A Dra. Maria Fernanda ressalta que é muito importante ler a embalagem desses produtos, uma vez que existem instruções específicas para garantir uma maior vida útil do feromônio, assim como uma boa efetividade do produto.

Apesar de ainda existirem limitações pela baixa diversidade de produtos e ser preciso utilizar um feromônio para cada praga, muitas são as vantagens da utilização dos feromônios para o controle de pragas, como:

  • Precisão, especificidade e sensibilidade;
  • Monitoramento antes do dano;
  • Não agride o meio ambiente e outras espécies;
  • Não precisa de mão de obra especializada.

Para ver entender mais sobre como utilizar os feromônios no controle de pragas, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!

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