Como controlar a cigarrinha-do-milho de forma efetiva?

Como controlar a cigarrinha-do-milho de forma efetiva?

A cigarrinha-do-milho é uma das principais pragas agrícolas que afetam a cultura do milho no país e é vetor de patógenos que podem causar grandes prejuízos para a cultura. Segundo a Embrapa, o enfezamento do milho causado por bactérias e vírus transmitidos pela cigarrinha Dalbulus maidis, podem levar a quedas de até 70% na produção.

Para falar sobre o assunto, a Verde convidou o Doutor em Entomologia Agrícola e Professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR/Araras-SP), Dr. Rodrigo Neves Marques para o “Encontro com Gigantes – Cigarrinha-do-milho: como controlar?”.

O evento foi promovido pela Verde, empresa que produz os fertilizantes BAKS®, K Forte®, K Forte Boro e Silício Forte, no dia 27 de maio de 2021.

Você pode conferir a conversa, mediada por Fernanda Santos, na íntegra pelo link:

Como a cigarrinha-do-milho interage com a cultura do milho

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, com quase 20 milhões de hectares cultivados segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Para a safra 2020/2021, a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) estima uma produção de aproximadamente 106 milhões de toneladas.

O Dr. Rodrigo Neves ressaltou que o avanço na produtividade da cultura foi muito mais relevante do que a expansão da área plantada. Para ele, isso indica o papel essencial dos diferentes avanços tecnológicos no manejo cultural e das próprias variedades do milho com o passar dos anos:

“A área de produção de milho na década de 70 era de cerca de 11,8 milhões de hectares e de produção de 19,3 milhões de toneladas. Hoje, é estimada que a área de cultivo da safra 2021/2021 seja de 19,9 milhões de hectares e de produção de 106,4 milhões de toneladas. Ou seja, em 50 anos a área de produção quase que não dobrou, enquanto a produção chegou a ser 5 vezes maior, com 106,4 milhões de toneladas”.

Um dos fatores que permitiu esse grande avanço na produtividade do país foi a crescente relevância que o milho de segunda safra, conhecido popularmente como milho “safrinha”, ganhou. O professor Rodrigo Neves explicou que a transição entre os sistemas de cultivo ocorreu na safra de 2011/2012.

Nesse período, a produção de primeira safra se equiparou com a de segunda safra e, a partir desse momento, foi crescente o aumento da utilização e produtividade do milho de segunda safra.

O Dr. Rodrigo Neves sugeriu, inclusive, que talvez seja necessária uma readequação da nomenclatura do milho “safrinha”, visto a expressividade que ele ganhou nos últimos anos. Porém, a maior produtividade e a mudança dos sistemas de produção trouxeram como consequência a alteração da dinâmica de pragas no cultivo:

“Antes, tínhamos apenas pragas especificas para aquele cultivo e agora nós já enfrentamos outros tipos de problemas, como as pragas polífagas. O sistema de sucessão tem auxiliado na manutenção de insetos na área de produção pela criação de uma paisagem agrícola durante todo o ano. Com isso, são geradas as denominadas pontes verdes, nas quais as pragas vão passando de um cultivo para outro, sem ter problemas de entressafra”.

Isso acontece porque a cigarrinha-do-milho, apesar de alimentar-se preferencialmente de milho, é capaz de sobreviver em outras gramíneas. Além disso, ela é um inseto que apresenta um comportamento de migração muito intenso, podendo percorrer mais de 20 quilômetros e voar a alturas maiores que 10 metros.

Ela é encontrada em toda a região do Brasil onde o milho é cultivado e a população se encontra elevada principalmente nas maiores regiões produtoras, como a região Centro-Oeste.

A cigarrinha-do-milho Dalbulus maidis, é um inseto de coloração amarelo-pálido que se alimenta da seiva das plantas e é um vetor que transmite doenças do Complexo de Enfezamento do milho. O adulto alcança um tamanho de 3 a 5 milímetros e vive entre 50 a 70 dias após a eclosão dos ovos. Uma única fêmea pode depositar até 120 ovos. (Fonte: OLIVEIRA, C. M. - Embrapa Cerrados)

A cigarrinha-do-milho Dalbulus maidis é um inseto de coloração amarelo-pálido que se alimenta da seiva das plantas e é um vetor que transmite doenças do Complexo de Enfezamento do milho. O adulto alcança um tamanho de 3 a 5 milímetros e vive entre 50 a 70 dias após a eclosão dos ovos. Uma única fêmea pode depositar até 120 ovos. (Fonte: OLIVEIRA, C. M. – Embrapa Cerrados)

O professor Rodrigo Neves destaca que a cigarrinha-do-milho é facilmente identificada das demais espécies por uma característica morfológica distinta em sua cabeça. Contudo, o seu pequeno tamanho e alta mobilidade podem dificultar o processo de identificação.

Os principais danos causados pela cigarrinha-do-milho são:

  • Definhamento da planta, caso haja uma alimentação intensa por uma grande quantidade de insetos;
  • Fumagina, em decorrência dos excrementos liberados pelos insetos depositados nas folhas e que levam ao surgimento de fungos;
  • Transmissão dos fitopatógenos do complexo de enfezamento.

Dos três danos mencionados acima, o terceiro é o mais relevante. Como, então, o complexo de enfezamento gera problemas na cultura no milho?

A cigarrinha-do-milho é um dos principais vetores dos patógenos associados ao Complexo de Enfezamento

O complexo de enfezamento do milho é causado por três espécies de patógenos: duas bactérias e um vírus. Os sintomas gerais da planta acometida por esses fitopatógenos são a drástica redução do crescimento da planta, com internódios curtos, e a produção de várias espigas improdutivas.

Segundo o Dr. Rodrigo Neves, o que difere os patógenos é em grande parte os sintomas visuais, sendo eles:

  • Avermelhamento das bordas das folhas: enfezamento, causado pelas bactérias do grupo fitoplasma;
  • Estrias esbranquiçadas nas folhas: enfezamento pálido, causado pelas bactérias do grupo espiroplasma;
  • Várias riscas próximas a nervura da folha: vírus da risca, causado pelo vírus Maize rayado fino virus.

A diagnose pode ser feita tanto pela avaliação dos sintomas visuais quanto por técnicas de distinção de espécies para uma análise mais precisa, como a microscopia eletrônica e o sequenciamento genético.

Os patógenos são introduzidos no sistema de cultivo através da disseminação primária, no qual os insetos migram de plantios mais velhos para cultivos mais novos. Considerando a grande mobilidade do vetor, o Dr. Rodrigo Neves apontou que é muito importante ter estratégias para controlar os insetos nas áreas já infectadas.

Uma vez na lavoura, é iniciada a disseminação secundária na qual o patógeno já presente vai contaminar as plantas doentes. Entretanto, o professor Rodrigo explicou que, apesar de o patógeno ser adquirido em questão de horas pela cigarrinha-do-milho, existe um período de latência para que o inseto se torne infectivo:

“Um inseto ao se alimentar de uma planta doente adquire o patógeno e começa a ser seu portador. Ele então entra num período de latência, de 3 a 4 semanas, para que o patógeno se desloque dentro do seu corpo e atinja as glândulas salivares. Nesse momento, a cigarrinha-do-milho se torna um inseto infectivo, que pode inocular o patógeno em uma planta sadia ao se alimentar dela e essa condição de infectividade pode durar toda a sua vida, dependendo da persistência no patógeno no vetor”.

Apesar da eficiência de transmissão do patógeno ser variável e relativamente baixa, estando entre 20% e 30%, o que mais vai ser relevante nesse caso é a quantidade de insetos. E o que torna o controle do Complexo de Enfezamento mais difícil é a interferência de diversos fatores, como:

  • Pontes verdes criadas pelas culturas de segunda safra;
  • Presença de plantas tigueras/guaxas que geram novos hospedeiros para o desenvolvimento das cigarrinhas e inóculos das doenças;
  • Tolerância a herbicidas;
  • Controle conjunto do inseto e do patógeno;
  • Pressão de inóculo.

Para que a doença se estabeleça na cultura, ela precisa atender a 4 condições:

  • Ambiente favorável ao desenvolvimento do patógeno;
  • Patógeno virulento para aquela planta;
  • Hospedeiro suscetível;
  • Vetor.
Assim, nas ações de combate ao enfezamento do milho, existe a possibilidade de serem feitas intervenções em vários pontos dessa interação. Para garantir um controle efetivo da cigarrinha-do-milho e dos patógenos é preciso pensar em diversas estratégias associadas, adotando táticas preventivas para reduzir a população de insetos e fonte de inóculos.

Táticas efetivas para o controle da cigarrinha-do-milho e do Complexo de Enfezamento

Para o professor Rodrigo, o controle do vetor e o patógeno na cultura do milho só é efetivo quando planejado e realizado durante todas as fases do cultivo, tendo uma visão sistêmica e holística de todas as espécies cultivadas na área.

Isso porque, dessa forma, é possível alcançar um manejo capaz de evitar a manutenção do inseto e inóculo na área, além de evitar a disseminação primária e secundária da doença e a manutenção dos insetos e inóculos na área. Algumas ações para esse manejo incluem:

Pré-plantio

  • Criar um calendário de plantio mais restrito;
  • Eliminar plantas de milho tiguera/guaxas;
  • Plantio de híbridos com tolerância;
  • Tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos.

Plantio

  • Monitoramento no início de desenvolvimento do cultivo;
  • Proteção das plantas nas fases mais suscetíveis;
  • Tratamento de sementes com inseticidas;
  • Aplicação de inseticidas químicos de contato /sistêmico, como também o uso de biológicos.

Pós-plantio

  • Controle de altas infestações;
  • Atenção à colheita e ao transporte;
  • Monitoramento das plantas tigueras e infestantes;
  • Manejo de cultivos e não da cultura.

O Dr. Rodrigo Neves ressalta ainda que:

“O manejo da cigarrinha e dos patógenos é uma questão integrada, com várias ações e atuações para alcançar a redução do nível populacional. Deve-se sempre buscar a integração de táticas de controle químico, biológico e cultural dentro e fora da porteira”.

Para entender mais sobre o controle da cigarrinha-do-milho, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!

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