Como combater a salinização dos solos e aumentar a produtividade agrícola

Como combater a salinização dos solos e aumentar a produtividade agrícola

Nos últimos anos, a agricultura tem vivenciado a constante expansão do processo de salinização dos solos, que pode fazer com que até 50% das terras cultiváveis do mundo se tornem áreas salinizadas até 2050. Só no Brasil, estima-se que os solos salinos, solódicos e sódicos já representem cerca de 160.000 km2, sendo que mais da metade dessa área se concentra nas regiões semiáridas do país.

Neste ano o Dia Mundial do Solo, uma iniciativa promovida pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), chama a atenção para esse problema, com o tema “Combater a salinização e aumentar a produtividade do solo”.

Em uma celebração à data, que é comemorada no dia 05 de dezembro, a Verde convidou para o “Encontro com Gigantes – A importância de se combater a salinização para aumentar a produtividade agrícola”:

  • Carol Viana: Engenheira Ambiental pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e cofundadora da Chloride Free Foundation, ONG que tem como objetivo promover a biodiversidade e a agricultura sustentável livre de cloreto;
  • Cintia Lins: Doutora em Ciência do Solo pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e professora na Faculdade de Irecê-BA.

O evento foi promovido pela Verde, empresa que produz os fertilizantes BAKS®, K Forte® e Silício Forte, no dia 02 de dezembro de 2021.

Você pode conferir a conversa, mediada por Rafael Bittencourt, na íntegra pelo link:

 

As causas de salinização dos solos

A salinização dos solos é um processo natural ou artificialmente induzido que acontece quando existe um acúmulo progressivo e excessivo de sais no solo, como explica a Dra. Cintia Lins:

“Os solos afetados por sais, são solos que vão apresentar em sua composição, seja na solução do solo ou no complexo de troca, a presença de sais solúveis de natureza iônica, como sulfetos (SO42-), cloretos (Cl) e bicarbonatos.”

“Esses sais tendem a se acumular na parte mais superior do perfil do solo, que por sua vez, é a região do solo onde se tem o maior acúmulo de raízes, sendo a principal zona de absorção de água e nutrientes pelas plantas,” complementou a doutora.

Esse acúmulo de sais acontece em áreas que apresentam uma ou mais das características a seguir, como:

  • Minerais primários formadores das rochas;
  • Condições imperfeitas de drenagem;
  • Localizam-se em áreas de baixada;
  • Baixa permeabilidade do solo;
  • Evapotranspiração elevada;
  • Lençol freático alto.

Além disso, dependendo da origem desses sais a salinização pode ganhar diferentes denominações e formas de manejo. Segundo a Dra. Cintia Lins, existe tanto a salinização primária, ou natural, como a salinização secundária, ou artificialmente induzida.

“Quando dizemos que a salinidade é natural, ela vai acontecer principalmente devido a invasão de água salgada das áreas circunvizinhas, ascensão por capilaridade e acumulação dos sais em áreas baixas”, explica a doutora.

A professora ressalta, no entanto, que o processo de salinização mais preocupante é a chamada salinização secundária:

“Porém, a salinidade que mais nos preocupa hoje em dia é a salinização secundária, a principal responsável pela expansão de áreas salinizadas não só no Brasil, mas no mundo todo.”

“Essa salinização artificialmente induzida tem relacionado às suas causas, muitos aspectos relacionados ao manejo, como: irrigação mal dimensionada, uso excessivo de adubos, uso de adubos de elevado potencial salino e ausência de sistemas de drenagem”, completa a Dra. Cintia Lins.

No Brasil, a salinidade vem sendo um problema sobretudo nas regiões semi-áridas do Nordeste, com destaque também para região norte de Minas Gerais, do Pantanal e do Rio Grande do Sul.

Ela também vem se tornando uma das precursoras da formação dos núcleos de desertificação do país, que são aquelas regiões em que a degradação da cobertura vegetal e do solo alcançou uma condição de irreversibilidade. Alguns municípios que já estão enfrentando essa condição são:

  • Pantanal, no Mato Grosso do Sul;
  • Cabrobó, em Pernambuco;
  • Irauçuba, no Ceará;
  • Gilbués, no Piauí.
Imagens de satélite de 1984 (primeira foto) e 2020 (segunda foto) mostram o avanço da desertificação na região de Irecê (BA).

Imagens de satélite de 1984 (primeira foto) e 2020 (segunda foto) mostram o avanço da desertificação na região de Irecê (BA). (Fonte: Google Earth)

Mas, como a salinização é capaz de causar a degradação do agroecossistema?

Os efeitos da salinização no solo e nas plantas

Os efeitos da salinização podem impactam tanto o solo quanto as plantas, mas de maneiras diferentes.

No solo, os sais vão ter efeitos de diferentes naturezas químicas, físicas e biológicas. Já  nas plantas, esses sais vão promover efeitos osmóticos e tóxicos. Em relação ao solo, A Dra. Cintia Lins explica o que são cada um deles:

“Do ponto de vista dos efeitos químicos no solo temos, por exemplo, desequilíbrio das relações iônicas, em que a elevada concentração de um íon acaba inibindo a absorção de outro. Também existe o efeito no potencial hídrico do solo, que vai dificultar a absorção de água pelas plantas.”

“No que diz respeito aos efeitos físicos no solo, destaca-se a formação de camadas impermeáveis e selamento superficial, que podem se tornar um precursor da erosão hídrica. Além disso, os sais também vão ter efeitos biológicos no solo, causando a liberação de compostos biocidas e a redução das populações e diversidade microbiana”, completa a professora.

Já nas plantas, a salinização pode acarretar problemas como:

  • Diminuição da fotossíntese e transpiração;
  • Acúmulo de solutos compatíveis;
  • Diminuição da absorção de água;
  • Fechamento estomático;
  • Acúmulo de amido.

A Dra. Cintia Lins explica o impacto disso na fisiologia vegetal:

“Já no caso das plantas que estão se desenvolvendo em solos salino-sódicos, elas tendem a acumular sódio e cloro nos vacúolos celulares. O problema é que esses íons são tóxicos e acabam degradando membranas importantes, como as membranas dos cloroplastos.”

A Dra. Cintia Lins ainda destacou que esses efeitos da salinidade podem se tornar ainda mais drásticos na região do semiárido do país, que é densamente povoada.

Isso porque, naturalmente, o aumento da população vem acompanhado também com o aumento da pressão para produção de alimentos, porém em uma região com regime hídrico irregular e com ausência de água e solo de boa qualidade.

Essa diferença da intensidade dos efeitos da salinização dos solos em cada região se dá, principalmente, pela interação de diferentes aspectos no agroecossistema, como:

Então, como é possível evitar o acúmulo de sais no solo ou aumentar ou manter a produtividade agrícola em ambientes em ambientes salinizados?

Como controlar os processos de salinização dos solos?

As práticas agrícolas preventivas são muito importantes para ajudar a controlar de maneira precoce os processos de salinização. É o que explica a Dra. Cintia Lins:

“As melhores medidas para você aumentar ou manter a produtividade agrícola em ambientes halomórficos, ou seja, em solos salino-sódicos, são as medidas profiláticas. Se você está produzindo numa região que tenha algum grau de aridez ou que as rochas formadoras daquele solo tenham caráter já salino, é interessante que você já pense e trabalhe o seu manejo de maneira a não favorecer o desenvolvimento do processo de salinização na sua área, que é muito caro de ser remediado.”

Dentre essas práticas, tanto a Dra. Cintia Lins, quanto Carol Viana ressaltaram a importância na redução do uso de fertilizantes potássicos convencionais com alto índice salino, como o Cloreto de Potássio (KCl).

Isso porque o potencial de prejuízos que esses insumos agrícolas podem causar no agroecossistema vai muito além da salinização do solo.

Carol Viana mostrou como o efeito biocida do KCl, reduz a biodiversidade, e consequentemente, a capacidade de sequestro de carbono no solo.

Enquanto 1 hectare de solo rico em biodiversidade é capaz de sequestrar 10 toneladas de carbono por ano, quando ele apresenta uma baixa biodiversidade, essa capacidade cai para apenas 0,2 toneladas. Condição essa que é desfavorável para mitigação das mudanças climáticas.

Por fim, a Dra. Cintia Lins apresentou várias técnicas que devem ser usadas em conjunto para combater o problema de salinização dos solos, estando inclusas:

  • Uso de melhoradores/corretivos químicos e insumos orgânicos;
  • Inoculação das raízes das plantas com fungos micorrízicos;
  • Uso de biofertilizantes e dessalinizadores;
  • Aplicação de substâncias exógenas;
  • Escolha do sistema de irrigação;
  • Mobilização do perfil do solo;
  • Racionalização da adubação;
  • Lavagem do solo;
  • Fitorremediação.

Para entender mais sobre a importância de se combater a salinização para aumentar a produtividade agrícola, confira o vídeo do Encontro com Gigantes na íntegra!

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