A soja é uma cultura que se destaca entre outros grãos agrícolas quanto à exigência de enxofre para completar o seu ciclo produtivo. Quando comparada à cultura do milho, por exemplo, a quantidade de enxofre extraída pela planta de soja para a produção de uma tonelada pode chegar a ser até quase quatro vezes maior. Por isso, é essencial conhecer como melhorar o manejo de enxofre na soja. Veja três dicas para melhorar a adubação sulfatada na cultura da soja!
Qual é a função de enxofre na planta?
O enxofre é um nutriente envolvido em processos essenciais no ciclo de vida das plantas. Isso porque ele faz parte de elementos estruturais e metabólicos, que estão relacionados a processos de respiração, de crescimento, síntese de vitaminas e proteínas, mecanismos de resposta a estresses oxidativos e resistência ao frio.
Em culturas como a soja, uma boa nutrição com enxofre eleva os níveis de produtividade e de qualidade dos grãos.
Um estudo da Embrapa Soja realizado em quatro localidades do Brasil, por exemplo, mostrou que a adubação com enxofre teve respostas positivas, aumentando a produtividade em até 500kg/ha para aplicação de até 100 kg/ha de enxofre.
Produção de grãos de soja (kg/ha), em funções de doses de enxofres, aplicadas no 1º ano, em quatro localidades do Brasil e vários anos. (Fonte: Sfredo e Kepler, 2004)
Mas, para atender essa demanda nutricional da soja é preciso ir muito além da aplicação de fertilizantes sulfatados. Confira a seguir 3 dicas para melhorar o manejo de enxofre na soja:
1. Identificar a necessidade de enxofre na cultura da soja
Para atender à necessidade de enxofre na cultura da soja, é preciso encontrar um controle e equilíbrio entre a entrada e saída dos nutrientes do solo.
A Fundação MS estima que, para cada tonelada de grãos de soja produzidos em uma lavoura com produtividade média de 3t/ha, 46kg de enxofre sejam extraídos e 16kg exportados.
Entretanto, a falta de reposição de enxofre por sucessivos anos leva ao esgotamento dos níveis do solo. Muitas vezes, essa condição acontece porque o enxofre é visto apenas como um nutriente secundário, sendo aplicado nas lavouras apenas quando o insumo escolhido contém um certo teor desse nutriente em sua composição.
Então, para garantir um bom manejo da fertilidade do solo da lavoura é preciso começar com uma boa amostragem e análise de solo.
Gedi Jorge Sfredo e Áureo F. Lantmann, pesquisadores da Embrapa Soja, recomendam a coleta de pelo menos 20 subamostras da camada superficial (0 a 20 cm) e subsuperficial (20 a 40 cm) para a interpretação correta quanto à disponibilidade de enxofre no solo.
Também é igualmente importante que o agricultor solicite as análises com os métodos corretos. Isso porque alguns extratores conseguem avaliar apenas a fração do sulfato solúvel e parte do sulfato adsorvido, enquanto outros também conseguem extrair porções do enxofre orgânico contido nas amostras de solo.
É o que destaca H. M. Reisenauer, no artigo Soil assays for the recognition of sulphur deficiency.
2. Fazer uma escolha assertiva da fonte de enxofre
Uma vez realizada a análise de interpretação do solo e determinada a quantidade de nutrientes a ser aplicada na soja, é chegado o momento de fazer a escolha da fonte de enxofre mais adequada da lavoura.
Nesse quesito, é importante considerar dois aspectos: as características do solo e as características intrínsecas do fertilizante a ser aplicado.
Alguns solos do Mato Grosso do Sul, por exemplo, apresentam elevados teores de cálcio. Nessas condições, não é muito adequado a escolha do gesso agrícola como fonte de enxofre, já que ele também tem em sua composição elevados teores de cálcio.
Outro aspecto importante a ser considerado quando pensamos na composição dos fertilizantes sulfatados é a sua solubilidade. Esse parâmetro está relacionado diretamente com o efeito residual do enxofre no solo, ou seja, quanto tempo ele é capaz de permanecer na lavoura oferecendo seus benefícios às plantas.
Fontes de enxofre na forma de sulfato, como o super simples, o sulfato de amônio e o gesso, são altamente solúveis e apresentam uma chance de perda para as camadas mais profundas do solo muito grande, através do processo de lixiviação.
Uma das formas de se evitar as perdas de enxofre no solo é com o uso de fontes de enxofre de liberação progressiva, como é o caso do enxofre elementar.
A Pós Doutora em Agronomia, Ilca Puertas, em sua participação no evento Encontro com Gigantes, ressalta que isso garante que o agricultor tenha certeza de que o que ele colocou no solo é o que vai ficar disponível para a planta:
“Esse processo [de uso de fontes de liberação progressiva, como o enxofre elementar] elimina a chance de perda do nutriente por lixiviação. Então você tem certeza de que aquilo que você está colocando no solo é o que vai ficar no solo e que a planta vai absorver. Então isso já um grande ganho em relação às fontes de sulfato.”
3. Garantir um bom manejo da matéria orgânica do solo
Também é possível potencializar a adubação sulfatada da lavoura com o bom manejo da matéria orgânica do solo, já que a dinâmica de enxofre no solo está muito relacionada a ela.
No livro Fertilidade do Solo, Roberto Ferreira Novais e os demais autores relatam que cerca de 90% do enxofre nos solos encontra-se em formas orgânicas. Ou seja, todas as medidas de manejo que visam preservar a matéria orgânica do solo são benéficas para a manutenção do enxofre no solo.
Estão inclusas entre elas a adoção do sistema plantio direto e da integração dos sistemas produtivos, como o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Dessa forma, os solos com bons teores de matéria-orgânica e de resíduos culturais serão aqueles que vão apresentar a menor pré-disposição para a ocorrência de deficiência de enxofre na soja, quando a adubação é realizada de maneira eficiente.
Os sintomas de deficiência do enxofre podem ser similares a de outros nutrientes, mas a região em que aparecem na planta são um importante indicativo a ser considerado na hora da identificação.
Melhorar o manejo de enxofre na soja vai além da adubação
Em resumo, melhorar o manejo de enxofre na soja vai além da adubação. Saber identificar a necessidade de enxofre da cultura, fazer a escolha assertiva do fertilizante e garantir um bom manejo da matéria orgânica do solo estão entre as boas práticas para impulsionar o desempenho da soja com a adubação sulfatada!