O sistema brasileiro de cultivo da soja e milho em sucessão de culturas favorece mudanças importantes nos agroecossistemas, entre elas o estabelecimento de pragas antes não relevantes como percevejo barriga-verde. Entenda mais sobre o controle dessa praga que vem causando danos significativos no sistema soja-milho.
Os impactos do percevejo barriga verde no sistema soja-milho
O percevejo Dichelops melacanthus, também conhecido como percevejo barriga-verde, é uma praga secundária da soja e se estabelece na entressafra, causando danos significativos nas culturas sucessoras, como o milho.
Apesar de não causar danos expressivos na cultura da soja por sua baixa densidade populacional, representando menos de 15% da população de percevejos, ele tem sido considerado uma praga de sistema que causa problemas relevantes especialmente para gramíneas, que antecedem ou sucedem o cultivo da soja.
O percevejo Dichelops melacanthus, ou percevejo de barriga-verde, tem cerca de 7 mm e apresenta a extremidade dos espinhos mais escura do que o restante do dorso. Essa característica deu origem ao seu nome melacanthus, que significa “cantos escurecidos”. (Fonte: PEREIRA, P. R. V. S. – Embrapa Trigo)
Na lavoura, esse percevejo encontra condições ideais para o seu desenvolvimento durante o final do ciclo da soja por ter atratividade natural aos seus grãos, se fazendo presente durante certos estádios fenológicos, ou seja, durante algumas etapas do desenvolvimento da soja:
- Estádio R5: quando ocorre o enchimento de grãos;
- Estádio R7: no início da maturação dos grãos.
No ambiente de palhada que é estabelecido logo após a colheita, é criado um microclima extremamente favorável para o desenvolvimento e estabelecimento do inseto. Enquanto os grãos deixados pela colheita servem de alimento, a palhada serve de proteção e abrigo.
O pequeno período de entressafra nestas condições, fazem com que a população do percevejo aumente e se torne ainda mais preocupante no que diz respeito ao desenvolvimento e sanidade da próxima cultura a ser plantada, como o milho.
No milho, o Dichelops melacanthus pode vir a causar danos sérios nos seus estádios iniciais, da germinação (V3) até a emissão do quinto par de folhas (V5). Esses são considerados períodos críticos para o desenvolvimento do sistema de crescimento da planta e tornam essa praga agrícola uma das principais da cultura.
O ataque se dá pela penetração do aparelho bucal do percevejo, denominado estilete, na região do colo do milho. A perfuração libera toxinas e prejudica o crescimento e produtividade da planta, além de causar o desenvolvimento excessivo de ramos laterais (perfilhamento).
A Embrapa Soja e a Iapar apontam uma perda de produtividade média de 30% em condições severas de infestação, valor este que pode ser constatado através do estudo conduzido na Fundação MT, no município de Rondonópolis. (Fonte: RODRIGUES, R. B. – 2011)
Vários estudos e profissionais buscam estabelecer a melhor estratégia de controle do Dichelops melacanthus, considerando a dinâmica populacional no sistema soja-milho. Decidir o melhor tipo de controle, momento de aplicação e produto podem ser estratégias de controle capazes de antecipar o ataque desse percevejo e garantir uma boa produtividade das culturas.
Estratégias para o controle do percevejo Dichelops melacanthus
Quando dizemos estratégia, estamos pensando num conjunto de ações que podem mitigar os impactos da praga na lavoura sem prejudicar a sanidade dos cultivos. Ao se utilizar diversas ações em conjunto o agricultor estará dando início à implementação do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que envolve:
- Controle cultural;
- Controle biológico;
- Controle comportamental;
- Controle genético;
- Controle varietal;
- Controle químico.
O MIP é um conceito criado na década de 60 pela comunidade científica, utilizado para denominar o conjunto de medidas que visam manter as pragas agrícolas abaixo do nível de dano econômico (NDE).
Quando a densidade populacional de um inseto atinge o NDE, ele se torna uma praga agrícola capaz de causar prejuízos à cultura alvo. Diversos pesquisadores têm apontado que o nível de dano econômico do Dichelops melacanthus na cultura do milho varia entre 0,6 a 2 percevejos por metro quadrado.
O uso de ferramentas para monitoramento de pragas, como o pano de batida e armadilhas, é essencial para garantir a efetividade dos métodos de controle. (Fonte: FARIA, G. R. – Embrapa Agrossilvipastoril)
Dentre os métodos de controle mais efetivos do percevejo barriga-verde, destacam-se o controle químico e biológico. O controle químico é realizado principalmente através dos inseticidas após a germinação e o tratamento de sementes e o controle biológico com o uso dos inimigos naturais do percevejo, como a vespas parasitoides.
Nos ensaios acompanhados pela engenheira agrônoma Déborah Thâmmis de Carvalho Fernandes na Fundação MS, a análise dos resultados demonstrou que a aplicação de inseticidas na dessecação pré-colheita de soja e imediatamente após o plantio do milho foram eficientes no controle da praga.
Com o uso do controle químico houve à redução da porcentagem de plantas com sintomas de ataque e redução de crescimento, justificada pela facilidade em atingir a praga nas fases de maior exposição do seu ciclo.
A pesquisa ressalta ainda a importância do uso alternado de princípios ativos dos inseticidas para diminuir a possibilidade do estabelecimento de populações de insetos resistentes. Para isso, existem produtos eficientes à base de piretróide, neonicotinóide e organofosforado para uso no milho.
No caso do controle biológico com o uso de vespas parasitoides, a microvespa Telenomus posidi tem se mostrado um potencial inimigo natural como parasita de ovos de percevejos, tais como:
- Percevejo barriga-verde (Dichelops melacanthus);
- Percevejo marrom (Euschistus heros);
- Percevejo verde-pequeno (Piezodorus guildinii).
Mas, é importante destacar que o controle de pragas só é efetivo quando usados todos os métodos de controle preconizados pelo MIP e que fomentar o fortalecimento da resistência da cultura, através de uma boa nutrição das plantas, é imprescindível.
O uso de fertilizantes também auxilia no fortalecimento da resistência das plantas contra pragas
A resistência das plantas adquirida a partir da nutrição vegetal, pode ser comparado ao sistema imunológico humano. Quando uma pessoa apresenta uma dieta balanceada na sua rotina, ela fica menos vulnerável a contrair doenças, e ainda existem alimentos que potencializam as defesas do seu corpo.
E o mesmo acontece com as plantas. A cultura, ao obter uma nutrição mineral balanceada com todos os 16 elementos essenciais para o seu crescimento e desenvolvimento, se torna capaz de realizar todos os seus processos metabólicos e de defesa de forma natural.
Além disso, existem os chamados elementos benéficos, como o Silício, que são capazes de potencializar as defesas das plantas. Ao se utilizar fertilizantes ricos nesse elemento, como o Silício Forte, a planta cria uma barreira mecânica a penetração do aparelho bucal do inseto e ainda pode proporcionar a redução de custos, como explica o especialista no estudo do silício no manejo de pragas e doenças agrícolas, Dr. Fabrício Rodrigues:
Para, então, alcançar o controle efetivo e sustentável do percevejo barriga-verde Dichelops melacanthus. o agricultor deve sempre buscar implementar os pilares do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e garantir a nutrição adequada das plantas com os elementos essenciais e benéficos.