Atualmente, os nematoides estão entre as pragas mais limitantes na agricultura brasileira. Esses pequenos vermes são capazes de causar danos irreversíveis ao sistema radicular de diversas culturas, incluindo a cana, e podem reduzir severamente a produtividade das lavouras. Saiba como fazer a identificação dos nematoides na cana de açúcar e quais medidas preventivas e remediativas de controle podem ser adotadas!
O que os nematoides podem causar na cana?
Os nematoides são vermes microscópicos e parasitas que podem causar danos severos ao sistema radicular na cana, podendo chegar a comprometer a longevidade dos canaviais e reduzir mais de 50% da produtividade da cultura.
Canaviais infestados com nematoides normalmente precisam ser renovados mais frequentemente, reduzindo a margem de lucro do agricultor e ainda agregando diversos custos para a produção da cultura.
Plantas de cana atacadas por nematoides geralmente apresentam alguns sintomas característicos, tais como:
- A desuniformidade no porte das plantas dos talhões;
- O menor perfilhamento das plantas;
- O tombamento de plantas;
- O nanismo de plantas.
Levantamentos realizados por laboratórios especializados na última década revelaram que a espécie Pratylenchus zeae, também conhecido como nematoide das lesões, é a mais frequentemente encontrada em populações altas o suficiente para causar danos econômicos à cultura da cana.
Além dela, outras espécies como o Meloidogyne javanica, Pratylenchus brachyurus e o Meloidogyne incognita também foram relatados. Essa última espécie, inclusive, é considerada a mais patogênica para a maioria das cultivares de cana-de-açúcar.
Outros estudos relatam que nematoides dos gêneros Helicotylenchus, Mesocriconema, Xiphinema, Tylenchus, Paratrichodorus, Hemicycliophora, Aphelenchus e Aphelenchoides também podem ser encontrados na cultura da cana, embora em menor frequência.
Cada uma dessas espécies de nematoides causam diferentes tipos de danos à cultura da cana de açúcar, que muitas vezes acabam sendo característicos de cada espécie. Portanto, a identificação desses danos acaba sendo uma ferramenta auxiliar valiosa para identificação dos nematoides na cana de açúcar.
As espécies do gênero Meloidogyne, conhecidas popularmente como nematoides das galhas radiculares, podem ser reconhecidas pela presença de estruturas globosas nas raízes da cana, conhecidas como galhas, acompanhadas do amarelecimento e redução das plantas em padrão de “reboleiras” nos canaviais.
Já caso essa estrutura não seja observada e exista uma maior presença de raízes necrosadas, essas características podem indicar a presença dos nematoides das lesões radiculares, que se agrupam no gênero Pratylenchus.
Entretanto, aferições mais precisas das espécies de nematoides em cana exigem a adoção de análises laboratoriais.
Para isso, o agricultor pode fazer uma amostragem de solo em diferentes pontos das áreas afetadas devido à grande variabilidade espacial das populações de nematoides.
Para a cultura da cana, recomenda-se que a amostra que representa determinado área seja composta por duas subamostras para cada hectare do talhão, devendo ser coletada 30 a 40 dias depois do início das chuvas até 30 a 40 dias após o final da estação chuvosa.
Além disso, é importante que sejam coletadas tanto as raízes quanto o solo ao redor das raízes para envio ao laboratório para análise na proporção de 100g de raízes para cada 1 litro de solo.
As amostras, então, devem ser homogeneizadas e acondicionadas em saquinhos plásticos devidamente identificados e protegidos da luz para serem encaminhados para os laboratórios o mais brevemente possível.
No laboratório, os técnicos farão a identificação precisa dos nematoides de acordo com as características morfológicas de cada espécie. Identificação essa que irá orientar a escolha dos métodos de controle mais adequados.
Quais são as estratégias de controle dos nematoides utilizadas em cana de açúcar?
Devido à falta de variedades comerciais de cana resistentes a nematoides, as principais estratégias de controle dos nematoides na cana de açúcar se baseiam no uso de nematicidas químicos, associados ao emprego de adubação verde, da rotação de culturas e dos microrganismos benéficos do solo.
Os nematicidas químicos geralmente são utilizados no sulco de plantio durante a semeadura ou em pulverização dirigida à base da soqueira da cana.
Quando os nematicidas são aplicados durantes a semeadura, eles conseguem promover a redução das populações de nematoides pelos primeiros dois a cinco meses de idade da cultura, promovendo um melhor desenvolvimento da cana e o aumento da sua produtividade.
Já a sua aplicação na soqueira, também tem demonstrado incrementos de produtividade quando comparado a talhões que não receberam a aplicação do produto. Aqui, a grandeza dos incrementos de produtividade acaba variando de acordo com a época em que se faz a aplicação do nematicida.
Além dos nematicidas químicos, também existem microrganismos benéficos que também possuem um efeito nematicida. Esse é o caso da rizobactéria Bacillus aryabhattai, um microrganismo promotor de crescimento de plantas.
A inoculação com microrganismos benéficos vem crescendo nos canaviais por conta das inúmeras vantagens que traz para o cultivo.
Algumas espécies de rizobactérias, como o B. aryabhattai, produzem metabólitos secundários, como enzimas, antibióticos e compostos tóxicos, que tem atividade nematicida.
Apesar dos metabólitos secundários nematicidas produzidos por algumas cepas de B. aryabhattai ainda não terem sido totalmente caracterizados, estudos recentes em outras culturas têm relatado resultados promissores.
É o caso do estudo conduzido por Jing Zhao e outros pesquisadores Evaluation of Bacillus aryabhattai Sneb517 for control of Heterodera glycines in soybean.
Além dessa espécie, outros microrganismos como Pochonia chlamydosporia, Paecilomyces lilanus e Bacillus subtilis tem apresentado resultados positivos na cultura da cana de açúcar.
Complementarmente ao uso de nematicidas e do controle biológico de nematoides na cana de açúcar como microrganismos benéficos, o agricultor também pode utilizara adubação verde para auxiliar no controle dessa praga.
A adubação verde, além de incrementar a maior disponibilidade de nitrogênio no solo e promover um melhor desenvolvimento da cana, é capaz de promover o aumento da matéria orgânica do solo.
Com isso, essa prática acaba promovendo o aumento da população de inimigos naturais dos nematoides no solo, ao mesmo tempo em que a produção de diversos compostos tóxicos pelas plantas começa a reduzir diretamente a população dos nematoides no solo.
Portanto, a adoção conjunta do uso de nematicidas, microrganismos benéficos e práticas complementares a esses métodos de controle são importantes ferramentas que o agricultor dispõe para conseguir controlar os nematoides em seus canaviais.
A escolha dos métodos de controle mais adequados depende da identificação dos nematoides na cana de açúcar
Em conclusão, podemos perceber que a cultura da cana de açúcar pode ser acometida por diversas espécies de nematoides. E elas, por sua vez, podem causar danos irreversíveis ao sistema radicular da cultura e comprometer a produtividade dos canaviais.
Sendo assim, é muito importante que o agricultor faça a identificação correta dos nematoides na cana de açúcar para escolher o conjunto de métodos de controle que serão implantados na sua lavoura, que vão desde o emprego da adubação verde até a utilização de microrganismos benéficos que tem efeito nematicida.
Além disso, é importante implementar práticas que preservem esses microrganismos, como fertilizantes livres de cloro, já que isso ajuda a favorecer a microbiota do solo.
